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Bancões como o Itaú (ITUB4) ou fintechs como Nubank (ROXO34): em qual ação investir em 2024?

Alguns resultados decepcionaram a Nord Research em 2023, enquanto outras oportunidades surgiram, como aponta a analista Giulia Nicola

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2023 foi um ano conturbado para o mercado de bancos e nos mostrou cada vez mais o quanto o banco vencedor não pode depender apenas do mercado de crédito.

A fraude da Americanas (AMER3) e outros episódios de recuperação judicial, alinhados a um maior endividamento das famílias no pós-pandemia de COVID-19, fizeram com que o mercado ficasse mais avesso ao risco e aumentasse a régua para a concessão de crédito.

Com o obstáculo, ficou cada vez mais claro que os melhores bancos serão os que trouxerem mais rentabilidade em seus negócios, com qualidade de seus empréstimos, inadimplência controlada, uma vasta gama de produtos e serviços, além de um bom múltiplo com visibilidade de resultados.

Alguns resultados decepcionaram a Nord Research em 2023, enquanto outras oportunidades surgiram, como aponta a analista Giulia Nicola.

Ela resumiu os balanços de sete bancos no terceiro trimestre do ano passado, o último resultado reportado até esse momento, e apresentou a recomendação da Nord Research para cada um, considerados os riscos e a visibilidade futura.

Itaú (ITUB3): Compra

Na opinião de Giulia Nicola, o Itaú registrou sólidos resultados, surpreendeu positivamente o mercado com um crescimento de +12% no lucro líquido, mesmo com um cenário macroeconômico ainda conturbado, com aumento de provisões que, por sua vez, pressionaram os custos.

Já a margem financeira com clientes, diferença entre os juros que são cobrados nos empréstimos realizados pelo banco e os juros pagos pelo banco aos seus clientes em suas captações, atingiu R$ 26 bilhões no período, avanço de 9,0% ano a ano.

A receita de prestação de seguros e serviços (segmento mais rentável para a companhia) cresceu 5,2%, impulsionada pelo forte crescimento na linha de seguros, de 19,00%.

A carteira de crédito (segmento menos rentável) cresceu +5,70%, impulsionada pelo forte crescimento de pessoas físicas em crédito pessoal (+18% ano a ano).

O aumento no custo de crédito (+16,00%) em relação ao ano anterior veio principalmente da maior despesa de provisão para créditos de liquidação duvidosa (+11,00%) e do aumento dos descontos concedidos no varejo no Brasil — parcialmente compensado pela maior recuperação de créditos baixados como prejuízos.

De qualquer forma, o índice de inadimplência (NPL) entre quinze e noventa dias foi reduzido em relação ao trimestre anterior, a baixos 2,30%, enquanto o NPL acima de noventa dias ficou estável no mesmo período, “em reflexo ao bom gerenciamento de risco do banco”.

Nicola prossegue e afirma que a instituição apresentou um ótimo crescimento em seguros e serviços, mas ainda pouco representativo em seus resultados – “um ponto a ser observado ao longo dos trimestres, dado que o mercado de seguridade e serviços segue como o preferido pelas fintechs”.

“Comparados aos pares tradicionais como Bradesco (BBDC4) e Santander (SANB11), os resultados do Itaú se sobressaem, sem o risco de ingerência política que o Banco do Brasil (BBAS3) sofre, apesar dos bons resultados”, afirma a analista.

Na avaliação dela, o Itaú foi capaz de crescer sua carteira de crédito com altíssima qualidade (com foco em alta renda), “o que deve beneficiar a companhia nos próximos trimestres com o cenário macro mais desafiador”.

Atualmente, o Itaú negocia a baixos múltiplos (10x) para um banco que entrega crescimento com “excelente rentabilidade” (ROAE, 21,00%) e entrega de dividendos (dividend yield 6% 2024E).

Bradesco (BBDC4): Fique de fora

Nicola vê que o Bradesco (BBDC4) numa contínua redução de risco, uma vez que observa o crescimento diminuir e o foco da instituição m linhas de crédito mais seguras.

“Com as mudanças, o mercado espera uma recuperação à frente, mas enquanto ela não vem (se vier), os resultados continuam fortemente impactados”, opina.

O índice de inadimplência acima de noventa dias foi reportado em altos 5,6% no terceiro trimestre passado, com a continuação do aumento da inadimplência em prazos maiores na comparação anual, mas em uma leve melhora em relação ao trimestre anterior.

Já o NPL entre quinze e noventa dias ficou em 4,10%.

“Por isso, ao contrário da maioria dos bancos, o Bradesco reportou uma queda de -12% no lucro líquido, e uma queda em sua rentabilidade de -2 p.p., com um ROAE de apenas 11,39%, bem abaixo de seus pares”, comenta Nicola.

Com a maior ciclicidade do negócio de crédito, a analista acredita que o banco deve se manter durante alguns trimestres em uma situação complicada, diante da sua maior exposição aos clientes de baixa renda aliada a juros altos e inflação alta.

Apesar da entrega de um dividend yield 2024E de cerca de 6%, mas com a falta de visibilidade de resultados futuros, e com negociações a um múltiplo de 11x, a Nord Research recomenda ficar de fora das ações do Bradesco (BBDC4).

Nubank (ROXO34): Fique de fora

Para Nicola, o resultado trimestral entre julho e setembro de Nubank (ROXO34) foi uma grata surpresa. O roxinho reportou um lucro líquido ajustado de US$ 355,6 milhões, crescimento de receitas de +53,00% e um ROAE de +21,00%, “em nível com os demais bancos excelentes do mercado”.

Em sua teleconferência, a administração mencionou que acredita ter ganhado 50 a 60 BPS de participação no mercado de cartão de crédito no trimestre, o que a analista considera um belo avanço.

“Com a decisão de mudar a remuneração dos clientes referente ao CDI no ano passado (antes a NuConta era remunerada a 100% do CDI), o Nubank conseguiu reduzir seu custo de captação para algo em torno de 80% do CDI, estável frente ao trimestre anterior”, complementa a analista.

Apesar de a companhia ter mostrado que sua base de clientes se mantém bastante ativa (83%), com custo bem baixo para atender seus clientes (< 1 dólar), alguns pontos acendem um farol vermelho para o roxinho:

  • – o índice de inadimplência (NPL) 90+ registrou uma alta, a elevados 6,10%, e o banco apresentou um aumento de provisão para perdas em +70%, o que deixou a Nord Research com um pé atrás.

 
“Com uma carteira de crédito bastante agressiva, inadimplência e provisões nas alturas, os fortes aumentos na receita média por cliente e de seus dados não são suficientes para justificar um valuation de quase 7x seu patrimônio líquido (PL)”, diz Nicola.

A Nord Research prefere o Inter (INBR32), que negocia a apenas 1,4x PL. Por isso, recomenda que você fique de fora das ações do Nubank (ROXO34).

 
Banco do Brasil (BBAS3): Fique de fora

Entre os quatro maiores bancos brasileiros, o Banco do Brasil (BBAS3) desponta como o preferido do mercado no quesito preço, uma vez que negocia a 5x lucros.

Entre julho e setembro passados, o banco registrou um lucro líquido de R$ 8,8 bilhões, crescimento de 5,00% em relação ao ano anterior, com um ROAE de 20,8%.

Para Nicola, “o banco continua com resultados resilientes, com um crescimento em prestação de serviços de +2%, impulsionado por seguros, planos de previdência e títulos de capitalização, além da gestão de ativos”.

Além disso, na avaliação dela, o BB possui uma forte presença em linhas de crédito resilientes (agronegócios e servidores públicos), e com ótima visibilidade de resultados. Ela observa um avanço em sua carteira de +10% frente ao ano anterior, impulsionado pelo crescimento de empréstimos rurais (+19,00% ano a ano) e pequenas e médias empresas (+14,00% ano a ano).

“Já em relação ao trimestre anterior, observamos um forte crescimento do crédito para o governo (+9,0% trimestre a trimestre)”, completa.

As despesas correspondentes ao risco de crédito somadas aos valores recuperados de perdas vieram com um crescimento de +66% em relação ao ano anterior, impactadas pela elevação do nível de risco de créditos de empresas após evento da Americanas (AMER3).

Contudo, a Nord Research não gosta que o banco seja o “sócio dos infernos”.

Não gostamos da ideia de ter um sócio principal como o governo, o que abre espaço para possíveis ingerências no futuro. “Isso explica o fato de o banco negociar historicamente a múltiplos baixos, um prêmio por esse risco ao qual está exposto”, aponta Nicola.

Apesar do preço atrativo e da entrega de 9% de dividend yield em 2024E, por enquanto, a Nord Research recomenda que você fique de fora das ações do Banco do Brasil (BBAS3).

 
Santander (SANB11): Fique de fora

O Santander  (SANB11) foi mais um banco que apresentou resultados abaixo do desejado, com a pressão das linhas de pessoas físicas sobre os resultados, avaliou Nicola. 

“O desafio do Santander (SANB11) hoje está em seguir a trajetória decrescente de NPL (crédito não produtivo), que começou neste trimestre a mostrar uma mudança de direção e uma diminuição do índice de inadimplência (NPL), apesar de seguir mais elevado, com NPL acima de noventa dias em 3,0% e entre quinze e noventa dias em 4,0%”, comenta.

A analista aponta que o banco tem sido mais seletivo na distribuição de crédito para seus clientes, e vê mais oportunidade no segmento de alta renda (Select).

Com o foco do banco apenas em produtos com garantia e em clientes com melhor perfil de risco, sua margem financeira apresentou uma queda de -1,2%, uma vez que o banco priorizou qualidade em vez de maior retorno (com maior risco) neste momento mais conturbado.

Com um valuation mais caro do que o Banco do Brasil (BBAS3), a 10x lucros, e por apresentar um ROAE abaixo da média dos setor (13,00%), a Nord Research não vê motivos para investir no banco espanhol.

“Recomendamos ficar de fora das ações do Santander (SANB11)”, declara Nicola.

 
Inter (INBR32): Comprar 

Na avaliação de Giulia Nicola, o Inter (INBR32) entregou novamente resultados surpreendentes no terceiro trimestre, com um crescimento de 49,00% na receita – R$ 1,30 bilhão no trimestre, e lucro líquido recorde de R$ 104 milhões contra o prejuízo de R$ 30 milhões em igual intervalo de 2022.

A analista apontou que o Inter se aproxima cada vez mais do seu guidance para o ano de 2027, de 60 milhões de clientes.

“As melhorias nos processos de originação e concessão de crédito, assim como nos processos de cobranças, de fato causaram um impacto positivo e o Inter foi capaz de manter sua inadimplência (NPL) estável em relação ao trimestre anterior”, apontou.

“Daqui para a frente, esperamos que a companhia consiga diminuir esse número com uma dinâmica positiva na inadimplência de cartão de crédito, uma vez que as safras novas apresentam desempenho melhor do que as mais antigas”, complementa.

A companhia segue o corte da gordura nas despesas, reduziu sua base de colaboradores, renegocia contratos com fornecedores e dispõe de espaço para chegar a um índice de eficiência próximo de 30% no médio prazo, como pretende em seu guidance (hoje em 52,00%, contra 75,00% no terceiro trimestre de 2022). 

Apesar da forte alta no ano, o Inter continua a negociar a 1,4x seu patrimônio líquido (PL) atual, e pode chegar a um múltiplo de 1x PL em 2025, mesmo múltiplo estimado de Itaú (ITUB4).

Inter entrega um “excelente crescimento e um rápido avanço no ROAE”, por ter saído de um valor negativo no terceiro trimestre para 5,70% no terceiro trimestre.

 
BTG Pactual  (BPAC11): Comprar 

Na avaliação de Nicola, “o BTG Pactual (BPAC11) tem surpreendido as expectativas do mercado e mais uma vez apresentou um resultado extremamente positivo”.

O crescimento em seus resultados foi um número expressivo para o cenário desfavorável que a companhia tem que lidar, e um dos motivos para atingir tal patamar foi devido ao volume total de captação.

A mecânica de crescimento da companhia envolve a forte diversificação que ela possui, uma vez que se posiciona em diversos segmentos como:

  • Investment Banking: serviços de assessoria financeira (fusões e aquisições – M&A) e em mercado de capitais (ofertas públicas ou privadas de ações e títulos de dívida). Hoje, representa apenas 8,0% da receita, com a sua menor atividade devido aos impactos da alta dos juros.
  • – Corporate & SME Lending: financiamentos, créditos estruturados e empréstimos garantidos a empresas, com o foco em créditos de alta qualidade, permanecem em 20% da receita da companhia.
  • – Sales and Trading: produtos e serviços de formador de mercado, corretagem e compensação, operações com derivativos, taxas de juros, câmbio, ações, energia e commodities para clientes institucionais. Representa, hoje, 31,00% da receita da instituição financeira, como o seu principal segmento.
  • – Asset e Wealth Management: serviços de consultoria, gestão de patrimônio e gestão de recursos via fundos de investimentos. Asset se manteve estável no terceiro trimestre, com 9,00% das receitas, enquanto a Wealth representa, hoje, 15,00% da receita total.
  • – Non-core business: Principal Investments (investimentos) representam 1,00% da receita, Participações (Banco Pan – BPAN4, Too Seguros e EFG) próximo de 0,00%, e Interest & Others (patrimônio líquido da empresa investido em CDI) com 16,00% da receita, ganham espaço devido a alta dos juros e maior captação do banco.

Nicola aponta que, com receitas muito pulverizadas, o BTG Pactual se destaca por ser “capaz de crescer mesmo com um mercado de capitais mais fraco, crescer segmentos de crédito que possuem pouco risco de inadimplência (hoje, em sua maiori,a AA e A) e elevar a captação para a gestão de fundos e fortunas, o que gera estabilidade e crescimento para o negócio no longo prazo”.

Com a dependência do varejo bastante reduzida, com grande escala (via BTG Digital) e linhas de negócios pulverizadas e mais resilientes, BTG Pactual desponta como “uma enorme oportunidade de compra”.