Os quatro maiores bancos brasileiros com ações na B3 (B3SA3) já divulgaram seus resultados do quarto trimestre.
Com isso, o lucro líquido consolidado de Banco do Brasil (BBAS3), Bradesco (BBDC4), Itaú Unibanco (ITUB4) e Santander Brasil (SANB11) somou R$ 81,63 bilhões no ano passado.
De acordo com a empresa de informações financeiras Economatica, o total foi o maior valor nominal já registrado desde 2006. Segundo levantamento, o recorde anterior foi em 2019, quando o lucro consolidado havia sido de R$ 81,50 bilhões.
Veja como ficaram os lucros dos bancos em 2021, sem ajuste da inflação:
Itaú (ITUB4): R$ 24,9 bilhões;
Bradesco (BBDC4): R$ 21,9 bilhões;
Banco do Brasil (BBAS3): R$ 19,7 bilhões;
Santander (SANB11): R$ 14,9 bilhões.
R$ 6,71 trilhões em ativos
Ainda de acordo com o levantamento, o ativo total consolidado dos quatro maiores bancos brasileiros em 2021 chegou a R$ 6,71 trilhões, valor 4,41% superior ao registrado em 2020.
"O maior crescimento entre 2021 e 2020 foi o do Banco do Brasil (11,99%), com o Bradesco tendo o segundo maior crescimento (3,94%) e o Itaú Unibanco o terceiro maior (2,53%). O Santander perdeu 3,89% entre 2002 e 2021", destacou a Economatica.
O Itaú segue como o maior banco por ativos no Brasil e na América Latina, com R$ 2,16 trilhões, seguido por:
Banco do Brasil, com R$ 1,93 trilhão; Bradesco, com R$ 1,65 trilhão; e Santander, com R$ 963 bilhões.
Santander lidera volume de dividendos
Em 2021, os bancos citados distribuíram R$ 33,4 bilhões em dividendos e JCP.
O total representa um valor 12,29% superior ao do ano de 2020. Veja os totais distribuídos por cada banco, de acordo com o levantamento:
- Santander: R$ 9,99 bilhões;
- Bradesco: R$ 9,91 bilhões;
- Banco do Brasil: R$ 7,12 bilhões;
- Itaú Unibanco: R$ 6,39 bilhões.
Valor de mercado cresce
Segundo a Economatica, o valor de mercado consolidado dos quatro maiores bancos do Brasil em 14 de fevereiro de 2022 era de R$ 643,4 bilhões, um crescimento de 14,54% em relação ao final de 2021.
Confira o valor de mercado dos bancos na data:
- Itaú Unibanco: R$ 240,0 bilhões;
- Bradesco: R$ 188,0 bilhões;
- Santander: R$ 119,5 bilhões;
- Banco do Brasil: R$ 95,7 bilhões.
Recomendações
Banco do Brasil (BBAS3)
Na visão da XP, o Banco do Brasil (BBAS3) apresentou resultados positivos no quarto trimestre do ano passado.
Apesar da Margem Financeira Bruta (MFB) mais fraca do que o esperado, as maiores receitas de serviços, menores despesas operacionais e custos de crédito compensaram a MFB, o que resultou em um lucro líquido de R$ 5,9 bilhões no trimestre, acima das estimativas.
Segundo a XP, o perfil defensivo de sua carteira de crédito continua a sustentar o baixo índice de inadimplência e robusto índice de cobertura.
Com isso, a XP espera uma reação positiva e reiterou visão positiva para o Banco do Brasil, além de classificá-lo como o papel favorito do setor, com recomendação de compra e preço-alvo de R$ 52,00 por ação.
A XP avalia o BB como Top Pick por três fatores:
i) operação defensiva, com uma margem financeira estável nas carteiras de crédito rural, consignado e CDC para funcionários públicos;
ii) índice de cobertura confortável em 325% e bem capitalizado com índice de capital nível I de 15,2%;
iii) Múltiplos atrativos, uma vez que o banco está sendo negociado a 0,6x P/VP.
Bradesco
Para a XP, o Bradesco reportou resultados fracos no quarto trimestre de 2021.
Apesar da Margem Financeira Bruta mais forte do que o esperado no trimestre, as maiores despesas e provisões compensaram seus ganhos, o que resultou em lucro líquido de R$ 6,6 bilhões, 4% abaixo das estimativas.
O lucro foi impactado por um ajuste não recorrente de marcação a mercado de TVM que foram reclassificados de "disponíveis para venda" para "negociação".
Embora as provisões tenham aumentado para R$ 5,1 bilhões no 4T21, em grande parte devido ao crescimento da carteira de crédito, o índice de cobertura continuou em queda e atingiu 261%. Isso leva a XP a acreditar que há mais espaço para provisões nos próximos trimestres.
Portanto, a XP reiterou recomendação neutra e preço-alvo de R$ 26,00 por ação.
Itaú
A XP afirma que o Itaú reportou resultados acima das expectativas no quarto trimestre, apesar das provisões acima do esperado, principalmente impulsionado pela Margem Financeira Bruta (MFB) mais forte.
O desempenho da MFB foi atribuído principalmente a um crescimento mais forte da carteira de crédito.
Como resultado do crescimento da carteira de crédito, o banco aumentou as provisões no trimestre.
Por consequência, o índice de cobertura aumentou para 241% (+ 7p.p. T/T e – 79 p.p. A/A), enquanto a taxa de inadimplência permaneceu estável T/T.
No entanto, a XP ressaltou recomendação neutra e preço-alvo de R$ 28,00 por ação, diante de um cenário macroeconômico mais desafiador a frente.
Santander
Analistas da XP afirmam que o Santander reportou resultados mais fracos no quarto trimestre de 2021 (4T21), com lucro abaixo das expectativas em R$ 3,9 bilhões (vs. R$ 4,2 bilhões do consenso Visible Alpha) e qualidade dos ativos mais baixa.
A Margem Financeira Bruta (NII) veio em linha com o consenso, impulsionada principalmente pelas linhas de varejo (com um mix de crédito mais arriscado).
Adicionalmente, o banco consumiu seu índice de cobertura em 33 p.p. trimestralmente em 217% devido ao menor provisionamento, enquanto a taxa de inadimplência aumentou gradualmente 30 bps. trimestralmente e 60 bps. anualmente.
Considerado o cenário macroeconômico mais desafiador no curto prazo, a XP acredita que o banco pode precisar aumentar as provisões ao longo de 2022, uma vez que a taxa de inadimplência segue em expansão, com potencial de impacto sobre sua rentabilidade.
A XP indica venda, com preço-alvo de R$ 36,00 por ação, devido ao seu elevado preço e operação mais arriscada.
Panorama para 2022
Tendências mistas: maiores rendimentos, mas risco de inadimplência
A XP espera tendências mistas para o setor bancário em 2022. Do lado positivo, vê:
i) taxas de juros mais altas, o que beneficia os spreads, embora deva continuar pressionado no curto prazo devido ao maior custo de captação;
ii) um mix de carteira de crédito mais rentável;
iii) redução gradual das provisões e bem capitalizadas; e iii) dividend yields atraentes.
No entanto, também vê riscos relevantes, como:
i) piores índices de inadimplência com a deterioração macroeconômica;
ii) competição mais agressiva, impulsionada pelo engajamento do Open Finance;
iii) possíveis intervenções regulatórias; e
iv) riscos fiscais relacionados ao potencial fim do Juros sobre o Capital Próprio (JCP) e aumento no imposto dos bancos.
Crédito deve continuar em transição para um mix mais rentável, segundo a XP, com linhas de PMEs e pessoas físicas, principalmente com garantias.
Os lucros dos bancos devem ser beneficiados pela redução das provisões, na avaliação dos analistas. Embora a inadimplência esteja artificialmente baixa, a XP acredita que ainda deva aumentar gradualmente em 2022, e os bancos estão menos provisionados em comparação com 2021, com um índice de cobertura médio de aproximadamente 260% no quarto trimestre em comparação com cerca 340% no mesmo período de 2020.
No entanto, os bancos estão bem capitalizados com um índice de capital nível I médio de 13,7%.
Riscos
A XP observa os seguintes riscos na agenda regulatória/tributária:
i) possível fim do Juros sobre o Capital Próprio (JCP), que contribui substancialmente para a redução da alíquota de impostos para os bancos (aproximadamente 12% do lucro em média com base nos dados de 2019); e
ii) extensão da alíquota mais alta da CSLL para os bancos em 2022, embora a MP 1.034/21 tenha aumentado a alíquota da CSLL de 20% para 25% apenas para 2021.
Analistas preveem ainda que as fintechs continuarão a ganhar tração suportado pelos incentivos do Banco Central ao promover a competição e a inclusão financeira por meio da Agenda BC# e do Open Finance, o que potencialmente vai pressionar os spreads dos bancos incumbentes no longo prazo.
Nesse sentido, a XP espera que a Agenda BC# avance ao longo de 2022, com potencial impacto sobre o mercado de crédito e ganho de força, mesmo que em ritmo ainda tímido, em produtos de investimentos, seguros e previdência complementar.
As informações são de XP.
Análises realizadas por Matheus Odaguil, analista do setor financeiro, e Renan Manda, analista-chefe do setor financeiro.
Texto originalmente redigido por Juliana Kirihata.