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FIAGROs: conheça os fundos de investimento ligados ao agronegócio e expectativas para o setor

Ativos disponíveis na B3 desde agosto surgem na esteira dos números expressivos do setor na economia brasileira

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Há anos o agronegócio está posicionado como o principal pilar estratégico para a economia do Brasil. O PIB (Produto Interno Bruto) do setor avançou 24,31% em 2020, frente a 2019, e alcançou participação de 26,6% – cerca de R$ 2 trilhões – no PIB total brasileiro, que somou R$ 7,4 trilhões. Essa fatia era de 20,5% um ano antes. 

Outros dados reforçam a potência do setor. No primeiro semestre deste ano, o PIB do agronegócio brasileiro cresceu 9,8%, ante igual período de 2020, segundo informações do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, e da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), publicadas no mês de setembro.

Já a balança comercial das exportações do setor, em outubro, registrou valor recorde de US$ 8,8 bilhões para o mês, motivada pela alta dos preços internacionais das commodities (como a soja e o milho).  O valor foi 10% superior aos US$ 8,0 bilhões exportados doze meses antes.

E as projeções para o setor seguem fortes, apesar das dificuldades que a economia brasileira em geral tem passado. A produção agrícola brasileira deve chegar a 289,8 milhões de toneladas na safra 2021/2022, um aumento de 14,7% em relação à safra anterior, segundo o 2º Levantamento da Safra de Grãos 2021/2022, divulgado no início deste mês, pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

Números tão expressivos chamaram a atenção dos investidores de renda variável, mesmo com a queda que a B3, bolsa de valores brasileira, tem apresentado nos últimos meses. Na esteira desses resultados e pelo impulso de mais investimentos, surgem os FIAGROs, os Fundos de Investimento das Cadeias Agroindustriais.

O que são os FIAGROs?

Giuseppe Galante Neto, especialista em real estate da Ouro Preto Investimentos, explica que esses fundos são, em essência, os fundos de investimento imobiliários, mas que têm como diferencial o foco do investimento na cadeia produtiva do agronegócio. 

“Os FIIs antes permitiam aos investidores uma série de papéis e de veículos que abrangiam o setor, mas não tinham lastro imobiliário. Agora, com os Fiagros, isso muda. Com ativos de natureza imobiliária rural ou de atividades relacionadas à produção do setor”, explica.

Desde que entraram em vigor, em 2 de agosto deste ano, na B3 (B3SA3), há treze FIAGROs listados. Há, até o momento, 27 fundos constituídos, entre pedidos aprovados e em análise pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM). 

Mais da metade desses são focados em ativos de “papel”, ou seja, investem em Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs) ligados ao setor e em títulos de crédito privado do Agronegócio (CRAs), assim como em Letras de Crédito Imobiliário (LCIs) ou do Agronegócio (LCAs), entre outros, segundo a empresa de soluções para o mercado financeiro Quantum Finance.

Para saber mais sobre como funcionam os CRs e LCs, confira nesta Spacedica!

Como os FIAGROs são negociados?

Giuseppe explica que um FIAGRO, assim que listado, pode ser negociado nas seguintes categorias, segundo a Resolução Nº 39, da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), publicada em 13 de julho deste ano:

1. Direitos Creditórios (FIAGRO-FIDC): voltados para a agroindústria que apliquem em direitos creditórios, constituído nos termos da ICVM 356;

2. Participações (FIAGRO-FIP): fundos de investimento em participações em sociedade, constituídos nos termos da Instrução CVM 578.

3. Imobiliários (FIAGRO-FII): voltados para ativos imobiliários e títulos constituídos nos termos da Instrução CVM 472.

Lavoura, um fundo de apoio aos produtores rurais

Hoje, a Ouro Preto Investimentos oferece o fundo de investimento imobiliário Lavoura. Segundo Neto, ele poderia ser caracterizado como um FIAGRO-FIDC ou FIAGRO-FII, “porque o fundo compra ativos com valor descontado e obtém, com a revenda, renda passiva, como um FII faz, com o objetivo de receber mensalmente o aluguel de uma laje”, explica.

O fundo ainda é restrito, porém,  está nos planos da gestora torná-lo disponível na Bolsa futuramente. “Nós trabalhamos com a possibilidade de abri-lo a investidores Pessoa Física”, diz. Para Neto, o modelo atende à necessidade de pequenos e médios produtores, enquanto traz resultados consistentes para os cotistas.

“Nosso fundo fornece financiamento para produtores que estão em situação desfavorável financeiramente e que têm pouco acesso a crédito. Eles utilizam a terra como garantia para viabilizar a linha de crédito ao mesmo tempo em que a sua valorização ajuda a garantir a rentabilidade do fundo”, completa.

Segundo o especialista, o ciclo de alta das commodities deve continuar ao longo dos próximos anos e o agronegócio deve se beneficiar das novas tecnologias, o que impulsiona o mercado de de ativos- como os FIAGROs – para impulsionarem o setor. 

“Nós temos visto o produtor rural com negócios mais produtivos, mais eficientes, com melhora nas margens de seus negócios. Então, vejo de forma muito positiva o futuro para os fundos de investimento ligados ao agronegócio”, afirma.

Neto diz ainda que o setor se prova resiliente. “Mesmo em períodos de crise, esse mercado sempre consegue atender às expectativas, não só de fortalecimento, mas também de performance. Os produtores sempre estão em linha com o que esperam os investidores”, diz.

De olho nas vantagens que o FIAGRO oferece

André Ito, fundador da MAV Capital, gestora que aguarda o registro de um FIAGRO na CVM, avalia que entre as vantagens do produto hoje estão a isenção do IR (Imposto de Renda) e investimento direto em CRAs (Certificados de Recebíveis do Agronegócio), mas também sugere cautela.

“No rendimento distribuído para o gestor pelo fundo aos cotistas não incide tributação. Acho que, para o investidor, isso funciona como uma maneira de pulverizar a exposição ao risco. Afinal, nós falamos de fundos geridos por profissionais. Por isso, quando o cliente for comprar um FIAGRO, precisa entender como o gestor pensa em relação ao portfólio, o quanto vai procurar pulverizar e também em questão de região geográfica do ativo”, diz.

Ito diz que grande parte dos FIAGROs vão se destinar a investidores profissionais, que precisam ter conhecimentos sobre o produto, como sua liquidez e outras especificidades.

“O interessado deve avaliar que esse investimento deveria ser feito com objetivo de médio para longo prazo. É um fundo que vai perseguir, por exemplo, o pagamento de dividendos. Então, esse investidor vai ter uma renda mensal em relação ao aporte que ele fez. Acredito que o investimento deve ser feito para que possa render por um período longo na carteira do cliente e não deveria em busca de uma valorização imediata no mercado secundário”, avalia.

O executivo avalia que o risco do produto está relacionado “ao crédito dos emissores das dívidas que são compradas pelo fundo”. Ito diz que a gestora pretende minimizar o risco com uma política de pulverização. 

“Nós defendemos dois pilares importantes na gestão: pulverização e cobertura de garantia adequadas. Por isso, acho importante conhecer o histórico dos gestores, com quem e onde trabalharam, a experiência com crédito. Principalmente com ativos do agronegócio, a experiência ajuda muito na hora de posicionar portfólios e prepará-los para momentos mais turbulentos do mercado”, afirma.

Ele afirma que a liquidez também surge como um risco. “Se esse gestor quiser vender algum ativo que está dentro do fundo, em algum momento o mercado vai dar liquidez para ele vender”, diz Ito. Segundo o executivo, o investidor tem que estar em alerta com a liquidez das contas no mercado secundário. “Você precisa ver se vai precisar desse dinheiro em curto prazo, se o mercado vai estar em pressão por conta da alta de juros”, complementa.

Ito acredita que o mercado de capitais brasileiro vai ganhar penetração no setor de crédito ao longo dos anos.

“Acho que a gente tem um caminho bastante grande para criação de assets que realizarão gestão de crédito privado. Nós nos preparamos porque conhecemos práticas para extrair valor, como defender os ativos de potenciais perdas. A gente busca oferecer fundos que tenham retorno adequado para o nível de risco que se toma, com retornos consistentes de longo prazo. Buscamos oferecer gestão ativa, com uma disciplina enorme em pulverização”, conclui.