Reportagem: Carlos Borges, Gabriel Coccetrone, Lucas de Andrade e Tatiane Calixto
Edição: Flávio Faria
O mercado reage com desconfiança aos rumores de desembarque do ministro Paulo Guedes do governo, apesar de os mesmos terem levado a bolsa a despencar mais de 4% ao longo do dia.
Segundo Victor Beyruti, economista da Guide Investimentos, apesar das tensões, o ministro não deverá deixar o cargo neste momento.
“Pelo que a gente vê da mídia e das fontes do governo, a chance de ele sair é baixa. Ele não quer abrir mão. E a maior questão é o que alguém que entraria poderia fazer. O Guedes até tentou, pelo que sabemos pelas fontes que a gente tem, ir contra essa mudança no teto e tentou manter seus secretários sem nenhum sucesso. De certa forma, ele está escanteado em um governo que está em uma guinada populista há algum tempo, mas que agora está aparecendo com mais força com o auxílio de 400 reais e necessitou fazer essas alterações da regra do teto, que é a principal âncora fiscal do país. Por isso, algum [outro] ministro que entrasse, possivelmente também ficaria sem poder de reação, que é o que a gente está vendo dele”, afirma.
Vladimir Maciel, coordenador do Centro Mackenzie de Liberdade Econômica, também não acredita no desembarque do ministro, até por uma questão de “biografia”.
“Não sei se ele quer deixar esse registro no final de que ‘olha, eu não segurei! não dei conta!’. Não sei se o ego dele permite, inclusive”, reflete o professor, que acredita em efeitos negativos para a pasta caso a demissão se confirme.
“Na hora que ele sair, se de fato ele sair, vai ser porque a situação vai degringolar. Ele sempre temia que a situação pudesse degringolar e com a saída dele isso, de fato, pode acontecer”, avalia. E concorda com a avaliação do economista da Guide sobre a postura de um eventual sucessor. “Quem entrar para substituí-lo vai estar lá para não discutir ou tentar convencer Bolsonaro. Não vai conseguir fazer nada em nome de um projeto de ajuste fiscal, de eficiência, de privatizações e redução da máquina pública. E aí o mercado vai precificar ativos, vai aumentar o risco de dívida. É o “quiprocó”, em português claro”, argumenta.
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Olhar no futuro
Para Bruno Komura, do time de analistas da Ouro Preto Investimentos, a questão está além da figura do ministro da economia. O importante, diz o economista, é planejar e “acalmar” o mercado. "Com ou sem o ministro Paulo Guedes, nada vai mudar se o governo não ancorar expectativas e estabelecer um planejamento extremamente claro", avalia. Esse tipo de postura, conforme ele, será fundamental para recuperar a credibilidade do governo e acalmar o mercado.
Maciel também acredita que o momento agora deveria ser de ajuste e equilíbrio, o que não deve acontecer. “Vou te responder o que realmente deveria ser feito e não vai: segurar, conter o tamanho do Governo, que cresceu muito com a pandemia, com a ascensão do centrão, todas as emendas daquele orçamento secreto, o Tratoraço… queria ver alguém que pudesse fechar a porteira. Se for para implantar auxílio, corte outras coisas. O que vai ser prioritário? Ajudar caminhoneiros? Cada vez mais se aumenta a percepção de risco e o mercado vê”, explica.
Sem isso, avalia ele, pouco vai mudar, ainda que Guedes deixe o Ministério da Economia. Isso porque, na avaliação do analista, a principal pressão hoje vem das discussões políticas e do problema enfrentado pelo governo ao não conseguir equilibrar uma crise econômica com a construção de uma imagem para as eleições. "O que estamos observando é que na hora de escolher entre medidas de responsabilidade fiscal ou populistas, o governo pende para as medidas populistas e isso pode aumentar cada vez mais os problemas econômicos", diz.
Ainda que estejamos vivendo um momento complicado por conta da pandemia, enfrentando, inclusive, reflexos do exterior, para o economista é necessário estabelecer um planejamento e limitar ações extraordinárias. "Sem isso, toda essa incerteza deixará o custo da dívida mais caro; e com crédito mais caro, as empresas produzem menos. Isso reduz os empregos e dificulta a vida da população, que já está tendo o poder de compra corroído pela inflação alta", explica.