O ano de 2021 não foi lá um dos melhores para a renda variável. E se você espera ler que agora tudo será diferente…não vai ser desta vez. Ao que tudo indica, este ano ainda exigirá muita estratégia e coração forte de quem está de olho na Bolsa de Valores. O que não significa, porém, que as oportunidades não existam. Por isso, vamos dar o caminho das pedras para quem quer se dar bem investindo na Bolsa em 2022.
O primeiro passo é entender o contexto deste ano que está começando. Bruno Komura, da equipe de análise de renda variável da Ouro Preto Investimentos, lembra que 2022 é um ano eleitoral. E a experiência nos mostra que eleição é sinônimo de volatilidade porque o mercado financeiro, como o rato foge do gato, quer manter distância de imprevisibilidade.
Entre maio e junho de 2018, última eleição presidencial, por exemplo, Komura aponta que o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores brasileira, chegou a cair 15 mil pontos.
“Para 2022, a campanha promete mais uma vez ser bastante polarizada, o que ajuda a trazer ‘mau humor’ para o mercado. Essa conjuntura, aliada ao cenário macroeconômico de inflação e juros altos que se desenha, normalmente, fala ao ouvido do investidor que ele deve esperar por emoções fortes”, detalha o analista em um artigo sobre o tema.
O Morgan Stanley traçou três cenários para o Ibovespa para este ano. No cenário-base do banco o índice chega a 120 mil pontos (upside de 14,5%). Já no cenário mais otimista, o Ibovespa iria a 140 mil pontos (upside de 33,56%) e, no cenário pessimista, a 88 mil pontos (baixa de 16%).
Bolsa descontada
Mas calma. Não são apenas más notícias. Por outro lado, é possível encarar o atual momento como oportunidade. Isso porque, agora, com toda a pressão macroeconômica, a bolsa está barata.
Muitas empresas ainda não conseguiram se reerguer das quedas por conta da covid-19 — ainda mais com a chegada da variante Ômicron — e seguem descontadas, analisa Komura. Ou seja: a tese de reabertura, embora estivesse mais forte alguns meses atrás, ainda se faz presente.
É a boa e velha história do ‘buy the dip’. Conforme investidores, essa é uma estratégia que considera a compra de um ativo que tem queda no preço pensando em uma alta a curto e médio prazo. Se você quer saber mais sobre como funciona o buy the dip, dá uma lida nesta Spacedica.
Porém, antes de mergulhar nas possibilidades que você pode ter na Bolsa, é importante se fazer algumas perguntas como: “Quais são seus objetivos e o seu perfil?” ou “Você tem quanto para investir?’. E antes disso, principalmente: “Você já tem uma reserva de emergência?”
Bom, na verdade, aqui é que começa a sua jornada para bons investimentos.
Colocando a casa em ordem
Fabio Murad, planejador financeiro e Co-CEO da SpaceMoney é taxativo: “o primeiro passo para quem está querendo investir é colocar a casa em ordem. Pagar dívidas em atraso e preparar uma reserva de emergência”.
Assim, é bom aproveitar o começo do ano para fazer um pente-fino na sua vida financeira. Se tiver dívidas, é importante renegociá-las e se estiver tudo certo, é hora de pensar na sua reserva.
A reserva de emergência é um montante que você vai deixar bem guardado e pensar em mexer nele só em casos emergenciais, como o próprio nome sugere. Essa quantia vai segurar as pontas, caso você seja demitido ou fique sem renda por algum motivo.
“Gosto de colocar essa questão da reserva de emergência em duas caixas. Primeiro, para aquelas pessoas que não têm uma renda constante, são autônomas, profissionais liberais. Nesse caso, a reserva de emergência precisa cobrir todas as despesas desta pessoa por 12 meses”, aconselha Murad.
Agora, para aqueles que têm um emprego com maior estabilidade, é possível pensar em um montante que cubra todos os gastos por seis meses.
No entanto, o Co-CEO da SpaceMoney faz um alerta: reserva de emergência precisa estar em um investimento de liquidez diária para estar disponível de forma imediata.
“Agora, para construir essa reserva, não há milagre. Tem que colocar o pé no chão, ter noção dos gastos e sempre pensar muito bem sobre compras grandes. Não sou daqueles que acreditam que a pessoa tem que controlar o cafezinho. Porém, a tomada de decisão sobre compras maiores precisa de cuidado. É o momento certo de trocar o carro, por exemplo?”, diz Murad.
E essa preocupação, ele complementa, não é só para quem tem uma renda menor porque quanto mais você ganha, mais você gasta. Então, é uma preocupação que todo mundo precisa ter. E sempre.
Qual o seu perfil?
Com certeza as melhores ações para se investir em 2022 são…Espera, não é assim.
Conforme a Órama Investimentos, definir uma lista absoluta com os melhores ativos da Bolsa de Valores não é viável.
Isso porque a ação pode ser perfeita para o João, mas longe de ser a melhor para integrar a carteira da Maria. Tudo vai depender da finalidade do investimento, do perfil de risco de cada um e dos objetivos pessoais.
Por isso, uma dica importante é saber qual seu perfil de investidor. E se quiser se aprofundar neste tema, olha essa Spacedica.
– Conservador: tem menos disposição para o risco, então prioriza mais a segurança
– Moderado: está no meio termo entre conservador e arrojado e tem uma carteira eclética
– Arrojado: tem maior tolerância aos riscos, tendo maior disposição para investimentos menos convencionais
E a Órama alerta que não para por aí. Cada perfil de investidor pode ter uma estratégia específica de investimento, o que muda completamente a composição do portfólio de ações.
Além disso, existem os objetivos pessoais. Há investidores que desejam viver de dividendos e sequer estabelecem um prazo para vender as ações de sua carteira. Já outros têm objetivos específicos, como comprar uma casa na praia daqui a 10 anos.
Seguindo esse exemplo, as melhores ações para alcançar o primeiro objetivo podem ser bem distintas das ações mais adequadas para realizar o segundo. Por isso, a ajuda de profissionais para orientar sobre essas escolhas pode ser uma decisão acertada.
Para onde olhar?
Ainda que para cada investidor exista uma estratégia, é possível ter o olhar voltado para alguns setores dentro de um panorama geral. Em um de seus relatórios, a XP Investimentos afirma que as eleições presidenciais devem acrescentar volatilidade aos mercados em 2022 e a tendência é que isso ocorra principalmente no período de segundo turno, e no mercado como um todo, sem distinção clara entre setores da bolsa.
“Devemos, portanto, nos preparar para a volatilidade e a melhor bússola para um caminho turbulento é a diversificação”, orienta a XP.
Assim, é interessante estudar alguns pontos para sua carteira de renda variável.
Primeiro, as commodities. Conforme a XP, esse grupo é uma boa opção para se proteger da inflação e também da alta do dólar.
Depois, as ações de crescimento secular, que são mais protegidas em relação ao cenário macro desafiador. Neste caso, encontram-se setores que caminham na direção de mudanças estruturais. Podemos citar empresas ligadas à saúde que acompanham o envelhecimento da população ou o agronegócio que, com a demanda sempre maior do planeta por alimentos, tem potencial de crescimento.
E, em terceiro lugar, estar atento a oportunidades específicas de empresas de qualidade que tiveram uma forte queda recente – mas não relacionada aos seus fundamentos – e que podem se beneficiar de uma recuperação no mercado como, por exemplo, shopping centers e alguns bancos.
Para Sérgio Brito, sócio-diretor da Ipê Investimentos, ficar de olho nas empresas mais resilientes, robustas e que já passaram por outras crises pode ser uma boa tática. Mas isso, claro, com estratégia de longo prazo.
"A bolsa tem uma concorrência forte com os juros altos. Com a Selic em dois dígitos, a gente volta a ver a corrida para a renda fixa. Porém, com a bolsa mais barata é possível pensar em rentabilidade com uma estratégia de longo prazo", afirma.
Os papéis dos "bancões", que são entidades mais sólidas e têm uma janela de oportunidades com as mudanças trazidas pelo Open Banking, podem ser uma alternativa, aponta Brito. O setor de energia, que também está descontado e é sólido, também pode ficar no radar.
"Quem mais sofre com esse cenário de juros altos são os setores que dependem mais de empréstimos, já que o crédito está bem caro. O setor de tecnologia, por exemplo, é um deles. O varejo, que já sofreu muito, deve ter ainda um ano difícil porque o poder de compra da população está corroído".
Segundo Brito, o cenário pede cautela. Por isso, aconselha o sócio-diretor da Ipê Investimentos, é interessante pensar em alocar um pouco de recursos na renda fixa pós-fixada, estudar ações de empresas mais conservadoras (especialmente aquelas que você confia na governança) e colocar a paciência para ser testada, porque a renda variável precisa ser encarada não para agora, mas para um prazo mais longo.
ESG
Agora, anota na agenda. Segundo a XP, a pandemia da covid-19 reforçou a importância da agenda ESG, sigla que vem do termo em inglês Environmental, Social and Governance – ou, em português, ASG, referindo-se à Ambiental, Social e Governança.
“Em 2022, vale acompanhar os seguintes temas: mudanças climáticas, emissões de gases de efeito estufa, regulamentações, gestoras de ativos, padronização da divulgação de dados, crédito de carbono e pilar social. Esperamos que os temas de diversidade e inclusão sejam abordados por todas as empresas”.