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Investimento estrangeiro deve se consolidar e impulsionar B3 em 2024

A entrada de fluxo gringo em 2023 foi a segunda maior registrada no mercado brasileiro em quase vinte anos

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Em 2023, a B3, a Bolsa brasileira, apresentou um ótimo desempenho, com o seu principal índice acionário, o Ibovespa (IBOV), em alta de mais de 22%. 

Para Victor Bueno, analista e sócio da Nord Research, com esses números, o mercado brasileiro desponta como o lugar preferido para os gringos, por apresentar grandes oportunidades. O executivo crê que a dinâmica se repita em 2024. 

Bueno cita que foram os estrangeiros que causaram um dos principais impulsos à Bolsa no ano passado, mais precisamente em novembro. No mês, houve um saldo positivo de R$ 21 bilhões. Já em dezembro, o saldo foi de R$ 17,5 bilhões. 

“Os números confirmam a importância dos dois últimos meses, uma vez que, no acumulado do ano, o fluxo gringo totalizou cerca de R$ 45 bilhões — ou seja, novembro e dezembro corresponderam por mais de 85% do saldo positivo estrangeiro”, explicou.

Entre outras razões para o refúgio estrangeiro, Bueno cita a queda dos juros futuros e a alta do mercado norte-americano.

Contudo, o saldo de 2023 foi -55% menor em relação ao ano anterior. Em 2022, os investidores estrangeiros entraram com cerca de R$ 100 bilhões na B3.

Ainda assim, a entrada de fluxo gringo no ano passado foi a segunda maior registrada no mercado brasileiro em quase vinte anos

Possível cenário para 2024

Os investimentos registrados desde o final do ano passado refletem um maior otimismo externo em relação ao Brasil e seus ativos de risco. Para Bueno, a manutenção do ciclo de cortes dos nossos juros em 2024 desponta como o principal fator que reforça esse sentimento.

“Com um maior controle inflacionário e melhor visibilidade fiscal, a taxa Selic deve encerrar o ano em 9%”, aposta o analista.

Ele relembra que, favoravelmente a esse cenário, antes havia um grande receio global de que os juros americanos seguiriam nos mesmos patamares por tempo indeterminado — temor que foi amenizado após a última reunião do Federal Reserve (Fed), em que o Banco Central norte-americano adotou um tom menos agressivo. 

Com isso, mesmo que a atividade econômica siga aquecida nos EUA, alguns bancos já projetam que os juros comecem a cair na reunião de março do Fed, com expectativa de corte de 0,25 ponto percentual

“Os possíveis cortes na taxa de juros norte-americana tendem a ser mais um fator impulsionador para os juros e bolsas globais — ainda mais para países emergentes como o Brasil”, comenta Bueno.

Um outro ponto pode colaborar para a ampliação dos investimentos estrangeiros: o fato de que a bolsa brasileira segue barata.

Por mais que tenha renovado recorde recentemente, o analista relembra que o Ibovespa negocia a menos de 10x lucros e 6x EBITDA – sigla em inglês para lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização – (ainda 50% distante de seus múltiplos médios históricos). 

“Enquanto isso, mesmo que tenha sido impulsionada por um “boom” da inteligência artificial, a bolsa americana negocia a cerca de 23x lucros (acima de seu P/L médio de 20x)”, compara.

Todos esses fatores, de forma isolada ou em conjunto, tendem a continuar a motivar os gringos a comprarem bolsa brasileira e, assim, sustentar possíveis novos movimentos de alta ao longo de 2024, na opinião de Bueno.

Em 2022, mesmo com a Selic a 13,75%, o fluxo gringo foi o maior da história. Para 2024, com a possibilidade dos juros retornarem para apenas um dígito, existe uma tendência de que o saldo seja ainda maior e ultrapasse os R$ 100 bilhões, como acredita o analista. “Ou seja, poderemos ter outros recordes além dos índices em seus maiores patamares”, acredita.

Bueno admite, ainda, a possibilidade de contágio entre investidores brasileiros, uma vez que muitos seguem carregados de renda fixa em suas carteiras e ainda nem começaram (ou voltaram) a investir em renda variável. 

“Com a união de fluxo externo e interno, o ano pode ser ainda mais positivo para as ações do país — principalmente para as Small Caps, que também voltaram a subir no final de 2023”, avalia.

Como o Ibovespa, o Índice de Small Caps (SMLL) também negocia a múltiplos distantes de suas médias. “Na verdade, por pouco mais de 6x Ebitda, o índice está muito mais próximo de suas mínimas históricas do que de sua média”, complementou.