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"Jogada de marketing sensacional", diz assessor de investimentos sobre programa NuSócios

Antes de abrir capital no mercado financeiro, Nubank dará BDRs para seus clientes, buscando atrair potenciais investidores

NuSócios - Divulgação/Nubank
NuSócios - Divulgação/Nubank

Na última segunda-feira, 1º de novembro, o Nubank tornou público o prospecto da aguardada oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês), que levará a maior fintech (startup de produto financeiro) do Brasil e uma das maiores do mundo às Bolsas de Nova York (NYSE) e de São Paulo (B3) de forma simultânea.

Se todos os lotes de ações forem colocados à venda, a oferta do banco digital levantará R$ 22,8 bilhões, estimativa feita pela própria empresa considerando uma taxa de câmbio de R$ 5,61 e o preço médio da faixa, que vai de US$ 10 a US$ 11 por ação. Destes, R$ 20,2 bilhões seriam referentes à oferta primária, em que os recursos vão para o caixa da companhia. Considerado o preço máximo, a oferta movimentaria R$ 23,9 bilhões.

Na bolsa brasileira, o banco digital ofertará BDRs (Brazilian Depositary Receipts) – certificados que representam ações de empresas estrangeiras emitidas e negociadas no Brasil – sob o ticker NUBR33. O Nubank acredita que cada BDR equivalerá a um sexto de uma ação, no entanto, essa relação será definida na data da oferta.

De acordo com o prospecto do Nubank, os recursos líquidos do IPO serão destinados para o capital de giro, despesas operacionais, despesas de capital e investimentos e potenciais aquisições. Cada uma dessas áreas receberá 25% do total levantado.

Em meio a tudo isso, o Nubank resolveu aproveitar o momento de expectativa para anunciar outra novidade, o “NuSócios”, programa que convida os clientes a se tornarem "sócios" da companhia. Segundo o comunicado do banco, essa participação deve vir “sem nenhum custo, por meio do recebimento de um BDR (patrocinado) por pessoa”.

NuSócios e o universo dos investimentos

Para Sérgio Brito, sócio-diretor da Ipê Investimentos, o programa do Nubank é “uma jogada de marketing sensacional”.

“Novamente o Nubank rompe as barreiras de entrada no ecossistema financeiro, como já havia feito anteriormente, popularizando a questão dos investimentos e trazendo novas pessoas para esse universo, principalmente um público mais jovem”, avalia.

Segundo  o Nubank, serão destinados entre R$ 180 milhões e R$ 225 milhões para a compra de BDRs para seus clientes, que poderão se inscrever para recebê-los pelo próprio aplicativo. As unidades de BDR do programa NuSócios só poderão ser negociadas 12 meses após o IPO da companhia, previsto para ser realizado ainda em dezembro. 

Apesar de chamar “NuSócios”, o assessor atenta para o fato de que BDRs são diferentes de ações.

De forma objetiva, é preciso deixar claro que quem compra um BDR não se torna sócio de uma Amazon (AMZO34), Facebook (FBOK34), Apple (AAPL34), Netflix (NFLX34) ou das mais de 700 empresas que disponibilizam o título na B3. 

Quem adquire BDR de uma empresa não possui os mesmos direitos que um acionista, como por exemplo, aos dividendos – parcela do lucro líquido das empresas que é destinado aos acionistas como forma de remuneração –; tag along – proteção legal concedida aos acionistas ordinários (ON) minoritários em operações de venda do controle da sociedade–; e subscrição – benefício que assegura aos atuais acionistas de uma companhia o direito de adquirir, com preferência, novas ações emitidas por ela na mesma proporção da posição que já detém –.

Esse título somente acompanha a variação da ação na sua respectiva bolsa, o que o faz na prática ser apenas um “espelho” dessa ação.

“Os BDRs são certificados que representam ações emitidas por empresas em outros países. Portanto, quem investe nesse tipo de ativo não compra diretamente as ações da empresa no exterior, mas títulos lastreados nessas ações. Entretanto, o detentor do BDR tem direito de receber os dividendos pagos pela empresa, mas por um outro lado não teria o direito de participar das assembleias”, afirma o assessor de investimentos, ressaltando que por ter sido listada nos Estados Unidos, a legislação que prevalece é a de fora.

O programa começará já na próxima terça-feira (9). Os clientes escolhidos irão receber apenas um BDR cada, com valor estimado entre R$ 9,35 a R$ 10,29.

Critérios para ter direito ao título

Para ter direito ao “pedacinho”, o Nubank cita que é preciso ser um cliente ativo, sem bloqueio de transações e sem nenhuma inadimplência com o banco por mais de oito dias corridos. Fora isso, também é necessário ter feito pelo menos uma operação em qualquer produto do banco digital nos últimos 30 dias antes da adesão ao programa.

“Nada melhor do que você ser cliente e acionista do seu próprio banco. Quando isso acontece, você vai querer que essa instituição sempre se valorize, e consequentemente você acaba adquirindo novos produtos. Esse é o principal objetivo do Nubank com o programa, te ‘amarrar’ a ele, evitando a busca por concorrentes ou bancos convencionais”, acrescenta Sérgio Brito.

“(…) vamos cuidar do seu pedacinho enquanto você pode se familiarizar com o mundo dos investimentos para tomar as melhores decisões sobre o que fazer com ele no futuro. Depois de 12 meses, você poderá decidir manter o seu BDR, o pedacinho, ou vendê-lo no mercado, com a nossa ajuda. Mas esse pedacinho é muito mais do que uma parcela de uma futura ação. É sobre convidar as pessoas que fizeram parte da nossa história a virarem nossas sócias”, continuou o Nubank no informativo.

A fixação dos preços por cada ação será feita no dia 8 de dezembro, um dia antes do Nubank estrear no mercado, em 9 de dezembro.

Os coordenadores da oferta internacional são Morgan Stanley, Goldman Sachs e Citi, e os coordenadores conjuntos são HSBC, UBS BB e Safra.

Já na oferta brasileira de BDRs, a coordenação fica por conta da Nu Invest.