Nesta quinta-feira (9), o Nubank chegou à NYSE (Bolsa de Nova York) (NYSE:NU) após meses de especulação em torno de sua oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) no exterior. Mas as novidades do banco não param por aí.
Simultaneamente, a fintech disponibiliza aos investidores brasileiros a possibilidade de investir em BDRs (Brazilian Depositary Receipts), negociadas pelo código NUBR33 na B3 (B3SA3).
Desde junho, a empresa tem mexido com os ânimos do mercado financeiro com uma série de notícias que antecederam seu IPO. Entre elas, a compra da corretora digital de investimentos então Easynvest, agora Nu invest, o anúncio da cantora pop Anitta como membro de seu conselho de administração e o aporte de US$ 500 milhões da Berkshire Hathaway, gerida pelo bilionário Warren Buffett.
Nubank à prova
Consolidada a abertura de capital, o banco digital tem o desafio de agora provar ao mercado financeiro que possui um modelo de negócio rentável.
Segundo Sérgio Brito, sócio-diretor da Ipê Investimentos, analistas olham com desconfiança para a tese de crescimento do Nubank devido a experiências negativas recentes, como o caso da Stone (NASDAQ:STNE).
O lucro líquido ajustado da empresa de meios de pagamentos no terceiro trimestre deste ano foi de R$ 132,7 milhões, 53,9% inferior ao reportado no mesmo período de 2020 e abaixo das projeções de mercado. No dia em que foi informado o balanço, as ações da companhia caíram 30% na Nasdaq. No ano, os papéis da Stone já desvalorizaram mais de 70%.
“Havia uma expectativa muito grande pelo desempenho dela. Infelizmente, a Stone não entregou os resultados esperados. Isso provavelmente fez com que os executivos do Nubank refletissem sobre a precificação do IPO”, diz Brito.
Estimulava-se que a faixa indicativa do preço por ação da fintech fosse de US$ 10 a US$ 11. Entretanto, o banco digital, ao fim de novembro, revisou a variação para baixo: US$ 8 a US$ 9. Ontem (8), o Nubank informou a precificação no topo do estimado: US$ 9. Com isso, o IPO movimentou US$ 2,6 bilhões, abaixo dos US$ 3 bilhões esperados anteriormente.
“Essa redução da faixa de preço também ocorre devido a volatilidade dos mercados. A B3 reflete, em parte, o comportamento do mercado dos EUA e os setores de tecnologia recentemente têm sofrido bastante. Veja o exemplo da Locaweb (LWSA3). O preço da ação foi bastante afetado”, diz.
No balanço do terceiro trimestre, a companhia reportou uma queda na margem Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização),de 28,3% para 16%, em função do aumento de despesas.
Os custos e despesas operacionais da empresa, de julho a setembro, saltaram 89,6% na mesma base de comparação com 2020. O resultado medido pelo Ebitda da companhia foi de R$ 33,6 milhões, recuo de 6,1% ante igual intervalo do ano passado.
Os dois exemplos trazidos por Brito exemplificam as desconfianças do mercado. “Nós temos hoje o resultado de que o Nubank ultrapassou o Itaú e se tornou o banco mais valioso da América Latina, mas a receita média, por exemplo, ainda vem bastante inferior à receita média dos bancos tradicionais de varejo. Nós precisamos ver qual vai ser o resultado final do Nubank”.
De acordo com o comunicado do próprio Nubank, a companhia, após o IPO, foi avaliada em US$ 41,5 bilhões (R$ 229,6 milhões).
Segundo o executivo, o resultado final significa lucro. “Precisamos ver os múltiplos. Essas empresas [de tecnologia] crescem em alguns múltiplos, mas interessa ver o resultado final para receber. A Stone foi um exemplo bastante negativo quando olhamos para as techs brasileiras”, conclui.
Para Brito, o Nubank precisa provar quais são as suas fontes de receita. “Bacana que tenha milhões de clientes [estima-se que o número chegue a 48,1 milhões no Brasil, no México e na Colômbia], mas quanto efetivamente ganha? Quanto entra no caixa? E o que eu vou entregar para os investidores? São algumas perguntas que o banco precisa responder”.
Estrutura, ok!
Por outro lado, o executivo ressalta que o Nubank parece ter se preparado para crescer. “O banco se preparou, inovou e colocou pessoas de altíssima qualificação e de grande experiência no setor bancário para dar suporte a esse momento”.
Ele cita o nome do economista Gustavo Franco, que atua como consultor estratégico da fintech. Franco foi presidente do Banco Central de 1997 a 1999, na gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), além de ser sócio-fundador e conselheiro da Rio Bravo Investimentos. “São nomes que chamam a atenção, o investidor fica atento a tudo isso”, complementa.
NuSócios
Nesta quinta-feira (9), o Nubank anunciou que o seu programa NuSócios, criado para atrair clientes a comprarem os BDRs do banco digital, alcançou a marca de 7,5 milhões de associados. Com isso, o programa movimentou R$ 63,2 milhões.
O número expressivo, entretanto, veio bem abaixo das expectativas dos executivos da fintech. O Nubank esperava distribuir até 18,3 milhões de BDRs para seus clientes.
Fora do programa, 815 mil investidores compraram os BDRs do banco digital. Apesar do revés, Brito vê com bons olhos a notícia: “Mesmo com resultados negativos para as empresas de tecnologia, você vê que muitas pessoas acreditam na tese de crescimento. Você vê muitos investidores com apetite para adquirirem empresas do setor no portfólio. Foi um número bom”, diz.
Cenas dos próximos capítulos
Cinco meses após o primeiro aporte, a Berkshire Hathaway fez uma nova aposta no Nubank e comprou o equivalente a US$ 260 milhões em ações do banco digital, segundo fontes afirmaram ao O Estado de S.Paulo. A notícia foi observada com cautela por Brito.
Entre os próximos passos que devem ser adotados pelo banco, segundo o executivo, estão as aquisições, mas não no Brasil.
“O caixa vai estar robusto para aumentar a operação. Provavelmente, eles devem buscar a expansão para outras praças na América Latina. Vamos aguardar o que mais vão oferecer. Vão aumentar a carteira de crédito? Vai ter crédito subsidiado, por exemplo? Vamos ver o que o Nubank vai fazer para ganhar dinheiro”, conclui.
*Matéria corrigida às 8:08, no dia 10 de dezembro.