Nesta quarta-feira (8), o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) elevou a Selic em 1.5 p.p, de 7,75% a 9,25% ao ano. Desde que atingiu o seu menor patamar histórico (2,0%), mantido de agosto de 2020 a março de 2021, este foi o sétimo aumento consecutivo na taxa básica de juros.
Mas quais são os impactos desse mais novo acréscimo à taxa? E o que esperam os analistas sobre esse ciclo de alta vigente desde março deste ano? Quando ele pode parar?
Veja as análises e expectativas de Ouro Preto Investimentos, Anbima, Ativa Investimentos, Genial Investimentos e Órama Investimentos.
Ouro Preto Investimentos
A decisão veio em linha com as projeções de Bruno Komura, analista de renda variável da Ouro Preto Investimentos.
Ele afirma que o impacto da alta dos juros nos investimentos na renda fixa beneficia títulos pós-fixados, como Tesouro Selic, CDBs (atrelados ao CDI), Letras de Crédito Imobiliário (LCIs) e Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs) emitidos por bancos atrelados ao CDI, enquanto prejudica o desempenho de títulos indexados à inflação, como Tesouro IPCA+, e os pré-fixados como Tesouro Prefixado (LTN), Tesouro Prefixado com Juros Semestrais (NTN-F) e debêntures.
Em relação a renda variável, a elevação pode ser prejudicial às ações. Segundo Komura, "os papéis do setor de tecnologia têm sofrido bastante por causa dessa perspectiva de alta e devem continuar afetados enquanto houver essas revisões para cima".
Algumas das empresas do setor listadas em Bolsa são: Bemobi (BMOB3), ClearSale (CLSA3), Dotz (DOTZ3), Enjoei (ENJU3), Infracommerce (IFCM3), Intelbras (INTB3), Livetech (LVTC3), Locaweb (LWSA3), Méliuz (CASH3), Multilaser (MLSA3), Neogrid (NGRD3), Positivo (POSI3), Sinqia (SQIA3), TC (TRAD3), Totvs (TOTS3) e Valid (VLID3).
O analista afirma que o ciclo de alta da Selic também prejudica o desempenho de FIIs (fundos imobiliários), mas ressalta que o acréscimo à taxa, em geral, não contribui negativamente para os fundos multimercado. "Eles geralmente têm uma gestão ativa e dependem muito da cabeça do gestor para ver como se posiciona em relação à medida", diz.
A Ouro Preto Investimentos prevê uma nova alta de 1,5% na próxima reunião do Copom, ao fim de janeiro, e de mais 1 ponto percentual no encontro seguinte a ser realizado em março. Assim, a Selic estabilizaria em 11,75% em 2022.
Anbima
Já a Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), que reviu a projeção de 8,75% para 9,25% semanas atrás, prevê que a taxa Selic chegue ao patamar de 11,75% após três reuniões da autoridade monetária, com elevações consecutivas de 1,5%, 0,75% e 0,25% até maio de 2022.
"A maioria dos economistas que participam das nossas projeções acredita que esse ritmo acelerado de aumento dos juros está relacionado à persistência da inflação, em um cenário que se tornou ainda mais desafiador após a alteração do teto de gastos", afirma Fernando Honorato, coordenador do grupo consultivo macroeconômico da Anbima.
Ativa Investimentos
A taxa básica de juros em 9,25% também havia sido prevista pela Ativa Investimentos, "a despeito da piora das expectativas de inflação para o horizonte relevante".
A Ativa Investimentos prevê outras duas elevações de 1,5 ponto percentual e deverão conduzir a Selic para a terminal de 12,25% em março – 1 ponto percentual abaixo do terminal que a corretora avalia condizente com a convergência e restabelecimento da credibilidade.
Segundo Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, os 12,25% de Selic deverão permanecer até o início de 2023, quando passarão a ser reduzidos até 7,5% na última reunião do ano.
Genial Investimentos
A elevação da Selic também veio em linha com as estimativas da Genial. Eduardo Ferman, José Márcio Camargo e Yihao Lin acreditam que o Copom deve adotar um discurso mais duro ao falar do processo inflacionário, apontar que este é mais persistente do que se imaginava e reduzir a ênfase na sua transitoriedade.
Em relatório, destacam que "a fragilização do Teto de Gastos trouxe uma elevada incerteza em relação ao arcabouço fiscal brasileiro"
"Um dos pilares do nosso cenário era exatamente a manutenção do teto, visto que esta era uma regra bastante efetiva de disciplina fiscal e de suma importância para o Brasil que possui uma relação dívida/PIB muito superior aos seus pares emergentes", ressaltaram.
Segundo a corretora, a quebra de regime fiscal ocorreu em um momento em que a inflação brasileira já se encontrava em um patamar bastante elevado, portanto, contribuiu para o agravamento deste quadro.
A Genial projeta que o ciclo de alta da Selic se encerre em 12% no primeiro semestre de 2022 e permaneça neste nível até o final de 2022 para fazer a inflação convergir para o centro da meta.
Órama
A Órama Investimentos também acertou a previsão de que a Selic encerraria o ano em 9,25%. Para 2022, a corretora estima que a taxa atinja 10,75%. De acordo com o material assinado pela equipe de Estratégia, esse valor seria condizente para a expectativa de inflação no ano que vem (4,4%).
"Ademais, como o BC, em sua ata, sugeriu buscar as metas de 2022 (3,5%) e 2023 (3,25%), acreditamos que o atual ciclo de aperto se estenderá até 10,75%, com novas altas de 1 p.p e 0,5 p.p, respectivamente, nas duas primeiras reuniões do ano que vem".
A Órama, por fim, ressalta, que quando a Selic supera o patamar de 8,5%, volta a vigorar a regra de remuneração da poupança antes da mudança em 2012 com a Lei 12.703.
"Dessa forma, os rendimentos serão de 0,5% ao mês (6,17% a.a.), ao invés de 70% da Selic, acrescida da Taxa Referencial (0% atualmente)", conclui.