"Estar com o nome limpo, poder abrir um crediário, deitar e saber que não tem juros correndo. Tudo isso é um alívio", diz Renata Aparecida Silva, 39, moradora de São José dos Campos. Apesar da afirmação, Renata não pode dizer que respira totalmente aliviada. No entanto, é atrás desse objetivo que está correndo. Ela, o marido e os dois filhos tentam economizar ao máximo e planejar bastante para se verem livres das dívidas. A tarefa não é fácil, mas com esforço, é possível deixar as contas no azul.
A família de Renata não está sozinha nessa batalha. Conforme levantamento da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), divulgado no último dia 4, o número de famílias brasileiras endividadas chegou a 74% em setembro. Esse é o maior percentual desde 2010, quando teve início a pesquisa.
Atualmente, são 12 milhões de famílias com algum tipo de dívida, incluindo cheque pré-datado, cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, crédito consignado, empréstimo pessoal ou prestação de carro e de casa.
Renata conta que vem se esforçando para colocar as contas em dia. "Uma amiga me indicou um site onde eles ajudam a gente a renegociar as dívidas. Entrei e achei que valeria a pena", conta, referindo-se ao site Acordo Certo, empresa de negociação de dívidas online.
Os carnês de loja que estavam atrasados, agora estão todos em ordem. O próximo passo é renegociar a dívida do cartão de crédito. "Tenho o cartão de crédito que, hoje, está em quase R$ 3 mil. Mas a gente está se controlando mais. Na semana do pagamento, já organizamos o que tem que ser pago e não gastamos mais do que ganhamos. Acho que isso é o principal", avalia Renata.
De fato, não gastar mais do que se ganha e negociar o que, porventura, atrasou, é o primeiro passo para dar adeus às dívidas. Mas a SpaceMoney foi ouvir de especialistas outras dicas para ajudar quem está endividado a sair do vermelho. Confira!
Comece pelo começo
Segundo Rogério Nakata, planejador financeiro CFP pela Planejar, o primeiro passo para quem quer colocar as contas em ordem é ter um orçamento. "Poderíamos fazer uma comparação com a atividade médica. Não é possível, sem exames detalhados, o paciente já ser submetido à cirurgia logo na primeira consulta", compara.
Antes de apresentar um diagnóstico, é preciso coletar informações e isso vale também para que uma pessoa possa dar o primeiro passo para colocar as contas em ordem. Ou seja, é preciso entender como essa pessoa destina seus recursos no dia a dia. Após isso, ela poderá enxugar despesas, eliminar ralos, diminuir frequências de gastos e até mesmo fazer os devidos cortes.
Preocupe-se mais com as dívidas mais antigas
Depois de ter um diagnóstico das próprias contas, Bruna Allemann, educadora financeira da Acordo Certo, empresa de negociação de dívidas online, orienta a pessoa a se preocupar com as dívidas mais caras e mais antigas.
"Essas são as primeiras que devem ser priorizadas. A regra que qualquer educador financeiro vai dar é: prefira receber juros (através da sua poupança ou investimentos) do que pagar juros (das dívidas)".
Bruna lembra que os juros de cartão de crédito e cheque especial podem superar 300% ao ano. E essa, assim como no caso da Renata, a personagem do início desta matéria, é uma das maiores dívidas do brasileiro.
Mas como separar dinheiro para pagar dívida e manter a casa? Bruna faz um cálculo que pode ajudar a organizar o orçamento.
Para aqueles que ganham até 3 salário mínimos: Divida a renda em 80% para custos fixos, 5% para seus luxos e comprinhas pessoais e 15% para pagar suas dívidas.
Esses 15% da renda precisam ser priorizados para pagar as parcelas das dívidas negociadas. Para isso, entre em contato com operadora de cartão ou banco, empresa que você está devendo. Apresente para eles o máximo da parcela que você pode pagar e lembre-se, quanto menos parcelas, menor os juros. Não esqueça que uma negociação muitas vezes é pedir um desconto também.
Para aqueles que ganham mais de 3 salários mínimos: Divida a renda de 50% a 70% para custos fixos, 10% para seus luxos e comprinhas e 20% para pagar as dívidas. E, mais uma vez, não esqueça de pedir desconto.
Não deixe sua dívida rolar
"Quanto mais rápido você conseguir negociar sua dívida, menores serão os juros cobrados por aquela conta em aberto. Imagine uma conta de cartão de crédito de R$ 1.000. Caso você não pague por um mês, inicia uma dívida de R$ 1.250,00. Ou seja, R$ 250 que poderiam estar pagando uma parcela de uma viagem familiar, por exemplo. Então, negocie o quanto antes porque mês após mês as dívidas se tornam insustentáveis pela cobrança de juros sobre juros, virando uma grande bola de neve", aconselha Bruna.
Pegar empréstimo para pagar dívida? Depende!
Agora, se não é possível separar um dinheiro para pagar uma conta importante, é possível avaliar a tomada de um empréstimo. Porém, é preciso cautela. Essa é uma medida que nem sempre vale a pena.
Conforme Nakata, pegar um empréstimo para pagar dívidas é válido, mas quando se tem um orçamento e quando o empréstimo tem o objetivo de trocar uma dívida cara por uma mais barata. Isso significa trocar taxas de juros mais altas por taxas mais baixas.
"E, depois, é preciso refletir e aprender a lição para não cair novamente na mesma armadilha. Se, por exemplo, a pessoa se endividou por questões relacionadas a compras desnecessárias ou por impulso ou por ter emprestado dinheiro para um parente que lhe deu um calote", aconselha Nakata.
E o 13º?
Se tiver dívidas, o melhor investimento para este dinheiro seria quitá-las, aconselha Nakata. Porém, se a pessoa não fez qualquer reserva financeira ao longo do ano para os pagamentos de impostos (IPVA, IPTU, taxas de associações de classe etc.) que se iniciam no começo do ano seguinte, é melhor deixar uma parte para atender estes compromissos também.
"Depois, pense em criar uma reserva de emergência para eventos inesperados e se ainda restar uma parte dos recursos recebidos, pois ninguém é de ferro, poderá destiná-los à aquisição de presentes e comemorações de fim de ano".
Por fim, assuma um compromisso
Para Bruna, as famílias devem estabelecer um compromisso com elas mesmas em relação aos seus hábitos financeiros. Caso contrário, dificilmente vão conseguir sair do vermelho.
"Digo sempre que as finanças são o nosso emocional e racional, juntos. Emocionalmente, lembre-se sempre da importância de estar com o nome positivo, sem restrições de crédito. O dinheiro é o meio de conseguirmos atingir os sonhos e objetivos. Não se endivide e deixe que esses sonhos não sejam realizados. Quite o quanto antes suas dívidas, faça parcelas que caibam no seu bolso e não se esqueça: seus luxos e comprinhas virão depois de você se livrar das dívidas".
Racionalmente, aconselha Bruna, tenha sempre em mente que, enquanto estiver negociando, é importante verificar a possibilidade de desconto para pagamento à vista. Muitos bancos e empresas possuem boas soluções para esse formato de pagamento.