Nova fase

BlueSky é o novo X? Criadores de conteúdo se adaptam ao cenário e migram para plataforma

Grandes perfis que utilizavam o antigo Twitter para fazer parcerias com marcas já buscam alternativas de renda

BlueSky
Criadores de conteúdo já acumulam seguidores no BlueSky | AliSpective/Shutterstock

Seja para reclamar ao longo do dia ou utilizar o X (antigo Twitter) para se informar, a maior parte dos brasileiros ativos na rede social sentiu um grande impacto com a suspensão da plataforma no Brasil. 

Criadores de conteúdo afirmam que podem perder, no curto prazo, parte de suas receitas que eram geradas através do X. Apesar disso, alguns ‘tuiteiros’ já migraram para o BlueSky, rede social com dinâmica semelhante.

O que aconteceu?

No dia 30 de agosto, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, ordenou o bloqueio do X no Brasil. A decisão se deu após um processo iniciado em abril, quando a Advocacia-Geral da União (AGU) enviou à Corte informações que demonstravam uma possível ocorrência de crime contra o Estado Democrático de Direito dentro da plataforma. 

Dando continuidade ao processo, o STF havia pedido ao X o bloqueio de perfis acusados de ilegalidades, mas a ordem não foi cumprida. Além disso, a empresa operava no Brasil sem ter um representante legal para ser responsabilizado. 

O dono da plataforma, o bilionário Elon Musk, se recusou a atender à lei brasileira e, ao longo deste processo de meses, tem criticado a atuação de Moraes em suas redes sociais. 

“As pessoas focaram muito na questão do representante legal, mas supondo que o Musk levasse em conta os 20 milhões de perfis prejudicados e cumprisse as ordens, poderia haver um canal de comunicação com o Supremo para atingir o desbloqueio da plataforma”, explica o especialista em direito digital e coordenador do curso de direito da ESPM, Marcelo Crespo.

Na última segunda-feira (2), os ministros Flávio Dino, Cristiano Zanin, Cármen Lúcia e Luiz Fux, que compõem a primeira turma da Suprema Corte, seguiram a posição tomada por Moraes em votação. 

Os ministros também confirmaram a imposição de multa de R$ 50 mil a qualquer pessoa ou empresa que burlar o bloqueio da rede social via VPN (sigla em inglês para rede virtual privada).

Como ficam os criadores de conteúdo?

O Brasil era uma importante fonte de crescimento de usuários e influência cultural no X. A rede social contava com diversos criadores de conteúdo e influenciadores que tinham sua maior receita extraída da plataforma. 

O X pagava os influenciadores em dólares, um valor entre US$ 1 mil e US$ 40 mil por visualizações nas postagens, em um cronograma determinado pela empresa. 

“Embora esta seja uma punição ao Elon Musk, você tem o lado das pessoas que trabalhavam e se informavam pela plataforma. É uma punição ao proprietário da plataforma? Sem dúvidas. Mas eu acho que pode ser mais prejudicial para as pessoas que tiravam seu sustento da plataforma”, pontua o coordenador do curso de direito da ESPM. 

Para o especialista, não há indícios de que a plataforma ficará novamente disponível no país tão cedo.  

Diversos ‘tuiteiros’ com muitos seguidores tiravam para de sua renda de parceria com marcas. Perfis como o da advogada mineira Babi Magalhães (@babi), que possuía cerca de 370 mil seguidores, eram referências de conteúdo real time

A criadora de conteúdo comentava reality shows, entre outros assuntos como novelas, e já estava na rede desde 2009, mas começou a ganhar dinheiro com postagens somente em 2016. 

Apesar de ter tido sua receita diretamente afetada por essa decisão, Babi explica que tem outras fontes de renda.

“Eu estava fazendo muita ‘publi’ e obviamente essa receita vai fazer falta, mas eu também sempre trabalhei como copywriter e estrategista de marca. Há um mês, eu voltei a estudar para concurso público, parece que eu estava adivinhando, mas é claro que eu preferiria continuar com as publis”, explica. 

Lucas Santos Consoli, morador de Itajubá, Minas Gerais, e dono de um dos perfis mais famosos no Brasil, o @luscas, afirmou que, apesar de ser prejudicado pelo fim do X no curto prazo, junto a marcas e parceiros de anos, ele já está estruturando uma alternativa para esses conteúdos comerciais. 

“Eu comecei a crescer no Twitter em meados de 2015. Na época, eu era um universitário com muita coisa para reclamar e sempre comentando o que estava em alta no Brasil e no mundo. Logo muita gente se identificou, incluindo grandes celebridades que nunca nem imaginei ter contado. Desde então o perfil não parou de crescer”, explica o criador de conteúdo. 

BlueSky surge como alternativa ao ‘tuiteiro’ raíz

Para Babi, o BlueSky, rede social que permite aos usuários compartilhar postagens curtas, imagens e interação, pode ser a nova casa dos tuiteiros que gostavam de compartilhar seu dia-a-dia e opinar em real time

A criadora de conteúdo afirma que o Threads, extensão do Instagram de postagens em texto, não tem a mesma dinâmica. 

“Nos meus planos daqui para frente, eu não pretendo investir em conteúdo no Instagram, porque eu sempre fui criadora de conteúdo escrito. O Instagram exige algo que tem que ser mais roteirizado e eu sou de um conteúdo mais always on”, ressalta. 

Em uma semana após o bloqueio do X, seu perfil no BlueSky já atingiu 60 mil seguidores e Babi vê potencial em dar continuidade às parcerias nesta plataforma também. 

Para luscas, a rede tem potencial e, apesar de precisar de algumas melhorias, “todos os ‘tuiteiros’ acabaram se identificando um pouco mais com ele [o BlueSky]. A essência do aplicativo lembra muito o Twitter de antigamente”. “E eu amo”, conclui.

Nesta rede, o perfil já atingiu 187 mil seguidores e Lucas continua com as postagens da mesma forma como costumava fazer no X. Por fora das redes sociais, ele também adianta que tem um projeto para lançar. 

“Já há alguns meses estou desenvolvendo um projeto com dois sócios de uma marca voltada ao público LGBTQIA+ e espero lançá-la ainda esse ano”, afirma.