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Selic deve encerrar 2023 a 11,75% a.a., revisam analistas

Representantes do mercado financeiro acreditam que o Copom deve manter a magnitude da redução da taxa básica de juros em 0,50 p.p. nas três reuniões restantes neste ano

- Antônio Cruz/Agência Brasil
- Antônio Cruz/Agência Brasil

Você deve se lembrar que alguns analistas consultados pela SpaceMoney admitiam a possibilidade de o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) reduzir a taxa básica de juros Selic apenas em setembro, certo?

Muitas projeções foram atribuídas, de fato, ao tom duro do comunicado encaminhado pelo colegiado à época, quando seus componentes deliberaram pela manutenção dos juros básicos na taxa de 13,75% ao ano pela última vez.

Pois bem, de meados de junho para cá, uma série de notícias positivas para a economia brasileira contribuiu para que ontem, 2 de agosto, dirigentes votassem pelo corte em 0,50 p.p., a 13,25% ao ano – enquanto agentes e analistas do mercado financeiro compunham uma maioria que opinava pela redução de 0,25 p.p. -, por cinco votos a um, com o peso do voto de minerva do presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto.

O que destacou o comunicado desta vez?

O Comitê avaliou que a melhora do quadro inflacionário, que reflete, “em parte, os impactos defasados da política monetária, aliada à queda das expectativas de inflação para prazos mais longos, após decisão recente do Conselho Monetário Nacional (CMN) sobre a meta para a inflação, permitiram acumular a confiança necessária para iniciar um ciclo gradual de flexibilização monetária”.

Considerados os cenários avaliados, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom entendeu que essa decisão fora “compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante, que inclui o ano de 2024 e, em grau menor, o de 2025”.

Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, o colegiado declara que a decisão “implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego”.

O Copom avaliou a alternativa de reduzir a taxa básica de juros para 13,50%, mas considerou ser apropriado adotar ritmo de queda de 0,50 ponto percentual nesta reunião em função da melhora do quadro inflacionário, mas reforçou, no entanto, “o firme objetivo de manter uma política monetária contracionista para a reancoragem das expectativas e a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante”.

Membros do Comitê, unanimemente, anteveem redução de mesma magnitude nas próximas reuniões e avaliam que esse seria o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário.

O Comitê ressalta ainda que a magnitude total do ciclo de flexibilização ao longo do tempo vai depender da evolução da dinâmica inflacionária, em especial dos componentes mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica, das expectativas de inflação, em particular as de maior prazo, de suas projeções de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos.

O que dizem as vozes do mercado financeiro?

O estrategista-chefe da Levante Investimentos, Rafael Bevilacqua, ressaltou o conteúdo do comunicado, que, segundo ele, trouxe duas informações inesperadas além da redução de 0,50 p.p.: a “lufada de otimismo”, atribuída a decisão recente do Conselho Monetário Nacional (CMN) sobre a meta para a inflação, e a “declaração bastante enfática” de que vai haver reduções de mesma magnitude nas próximas reuniões.

“Sempre restará a dúvida de que uma alteração tão abrupta na linguagem do Comitê teve alguma motivação (e aqui valem as aspas) “política”. Sem a sinalização clara de corte dos juros, isso poderia colocar um componente de imprevisibilidade nas próximas reuniões do Comitê”, comentou.

Em reação à decisão, o Itaú (ITUB4) cortou a projeção da taxa Selic deste ano para 11,75%, ante estimativa anterior de 12,00%

Sérgio Goldenstein, estrategista-chefe da Warren Rena, diz entender que a decisão teria o potencial de gerar ruídos. 

A projeção de inflação no cenário de referência (que incorpora a trajetória de Selic no Boletim Focus, com ajuste inicial de 0,25 p.p. em agosto) para 2024 se manteve em 3,4% e a estimativa para 2025 (que passou a ser considerada com peso de 25%) declinou ligeiramente de 3,10% para 3,00%.

“Assim, não balizam uma trajetória mais agressiva da taxa Selic”, afirmou Goldenstein. 

No Copom de junho, a avaliação do grupo predominante foi de que a continuação do processo desinflacionário em curso poderia permitir acumular a confiança necessária para iniciar um processo parcimonioso de inflexão. Historicamente, o termo “parcimônia” foi associado a um ajuste de 0,25 p.p. da taxa Selic.

“O comunicado anterior apontava que a conjuntura demandava cautela e parcimônia e, agora, menciona cautela e serenidade”, notou o estrategista-chefe.

Para Goldenstein, “iniciar o ciclo com um ajuste acima do esperado no Boletim Focus e com um placar rachado pode atrapalhar o processo de reancoragem das expectativas e alimentar os temores de um BC mais leniente no futuro, sem um compromisso firme com a meta de inflação”.

O placar dividido pode suscitar questionamentos de pressão política, na avaliação do estrategista-chefe, que, por sua vez, relembrou que os dois diretores mais técnicos (DiPec e DiRex) votaram pela queda de 0,25 p.p..

A Warren Rena alterou o seu call de Selic no final deste ano de 12,00% para 11,75%, pois analistas consideravam um ajuste inicial de 0,25 p.p.. Goldenstein afirma que sua equipe projeta uma taxa de 9,50% no final do ciclo de relaxamento monetário.

Já o economista-chefe Alexandre Espirito Santo e Eduarda Schmidt, analista de Macroeconomia, ambos da Órama Investimentos, apontaram que, a despeito da inflação de serviços e dos núcleos do IPCA rodarem em níveis ainda pouco confortáveis, da defasagem dos preços de combustíveis, mas ponderada a cena geral, inclusive a queda consistente da inflação implícita, foi alterada a projeção de Selic para o fim do ano, de 12,25% para 11,75%, ao considerar que as próximas reuniões deverão trazer reduções de 0,50 p.p. 

Para o ano que vem, a Órama Investimentos acredita que a Selic terminal fica em 9% a.a.

Na avaliação do economista-chefe da Daycoval Asset, Rafael Cardoso, não ficou muito claro o argumento que prevaleceu entre os diretores do BC para decidir pela queda de 0,50 p.p.

“As condições econômicas favoráveis, o cenário doméstico com as aprovações da Reforma Tributária e Arcabouço Fiscal, pavimentaram esse caminho para o início do ciclo de corte dos juros, mas a votação mostra divisão em relação ao ritmo dos cortes. Na avaliação da Daycoval Asset, com base neste comunicado, o BC pode ter espaço para acelerar os cortes, mas a gente espera que se mantenha em 0,50 p.p nas próximas reuniões”, explica Cardoso.

O economista-chefe da Daycoval Asset destaca que diante deste cenário, as projeções da casa saem de 12% a.a para o fim de 2023 e ficam em 11,75% a.a.

Em relação a 2024, Cardoso avalia que o cenário de cortes fica mais aberto, porém, a Daycoval Asset mantém em 9% a.a sua projeção de Selic.

Sobre IPCA, a Daycoval Asset projeta IPCA de 4,80% ao final de 2023, revisado de 4,90% após a divulgação do IPCA-15 de julho. Já para 2024, a projeção de 3,6% já feita há alguns meses foi reiterada. 

Adriana Dupita, economista sênior para Brasil e Argentina na Bloomberg Economics, destacou que formuladores de políticas elaboraram uma linguagem para conter as apostas em cortes maiores em reuniões futuras. 

“Revisamos nossa projeção de taxa de final de ano ligeiramente para 11,75%”, completou.

André Meirelles, diretor de Alocação e Distribuição da InvestSmart XP, afirma que “para os ativos de risco, decisão do Copom pode ser lida como positiva”. 

Lucas Martins, sócio e especialista da Blue3 Investimentos, comentou que “principalmente aqueles ativos mais sensíveis aos juros devem sofrer um impacto muito positivo nos próximos dias”.

Na avaliação de Martins, o mercado vai dizer nesta quinta-feira se teremos uma queda ainda mais considerável nos juros futuros em comparação ao início do ano, o que deve ser muito positivo para os ativos de risco da Bolsa, como ações e fundos imobiliários (FIIs).

Daniel Wainstein, sócio-sênior da Seneca Evercore e ex-presidente do Goldman Sachs no Brasil, avalia que, neste cenário, “os bancos poderão captar dinheiro a uma taxa mais baixa, mas se não diminuir o spread (diferença entre taxa que empresta a clientes e taxa que paga pelos seus recursos), de nada adianta para o consumidor ou para as empresas brasileiras”. 

Já o economista-chefe da Nomad, Danilo Igliori, opina que “estamos apenas no início do ciclo, o que deve reprecificar ativos e estimular novas formas de diversificação. Não só entre classes de ativos, mas também entre geografias”. “Alternativas de renda fixa nos EUA vão ganhar cada vez mais espaço nesse novo contexto”, destacou.

Ricardo Jorge, especialista em renda fixa e sócio da Quantzed, casa de análise e empresa de tecnologia e educação financeira para investidores, avaliou como importante a retirada do trecho que fala sobre o risco fiscal e o risco de desancoragem das expectativas. 

Para o executivo, a mensagem foi “um tanto quanto controversa porque o Banco Central deixa de considerar os riscos fiscais em um cenário no qual a gente ainda tem todas as pautas dentro do Congresso para serem encaminhadas”.

“Então, a gente sabe que o arcabouço fiscal, a reforma tributária, o CARF e outras pautas que estão em tramitação no Congresso ainda precisam passar por uma nova etapa e ainda assim aparentemente o Banco Central desconsidera isso no seu cenário de risco. Talvez essa tenha sido uma das mensagens mais importantes, na minha visão”, complementou.

Fabio Louzada, fundador da Eu Me Banco, que capacita e forma profissionais para atuação na área de investimentos, destacou a citada preocupação com a inflação de serviços. Porém, o relatório Focus já fala numa inflação de 4,8% para o final do ano. O teto da meta, de 4,75%, considera a meta é 3,25%.

“Ou seja, a projeção da inflação já está bem perto do teto da meta e isso faz com que o Banco Central tenha confiança para começar a cortar esses juros nessa magnitude”. 

Rodrigo Cohen, analista de investimentos e co-fundador da Escola de Investimentos, afirma que “o futuro vai depender dos dados que vierem”.

“Então, do mesmo jeito que o Brasil, na minha opinião, fez um trabalho muito bom de começar essa alta antecipada, o Brasil agora também começa essa queda antecipada. Acredito que estamos no rumo de queda de juros que veio para ficar de fato”, acrescentou.

Adilson Seixas, fundador e CEO da LOARA, empresa especializada na intermediação de Crédito Empresarial, afirmou que a redução “deve contribuir com o movimento de melhora do mercado de crédito” que, aos poucos, se recupera do momento de instabilidade do início do ano e, consequentemente, “novas oportunidades devem surgir para as empresas”.