Em busca do culpado

Americanas (AMER3): entenda nova operação da PF e relembre fraude que deixou varejista à beira da falência

Operação Disclosure investiga ex-executivos suspeitos de instaurar rombo que gerou dívida de R$ 50 bilhões na companhia

Americanas
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Desde quinta-feira, 27 de junho, o Brasil tem acompanhado novos desdobramentos nas investigações que apuram a maior fraude contábil no mercado financeiro brasileiro; o rombo de R$ 25,3 bilhões da Americanas (AMER3), identificado em 2022.

Naquele dia, a Polícia Federal (PF), em conjunto com o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPF-RJ), iniciou a Operação Disclosure, que visa esclarecer a participação de ex-diretores da varejista na fraude.

De lá até aqui, busca e apreensões foram determinadas, bem como a prisão de ex grandes funcionários da companhia, como o ex-CEO, Miguel Gutierrez, e da ex-diretora, Anna Christina Ramos Saicali.

Veja nas linhas a seguir tudo o que tem acontecido com nova operação da PF:

Fundamentos da Operação Disclosure

Para a deflagração da Disclosure, a PF acredita que os ex-diretores são suspeitos de práticas fraudulentas como antecipação de pagamentos a fornecedores com empréstimos bancários e manipulação de contratos de verba de propaganda cooperada (VCP), contabilizados sem que existissem de fato.

Entre os crimes investigados estão manipulação de mercado, uso de informação privilegiada, associação criminosa e lavagem de dinheiro.

Dessa forma, as penas podem chegar a 26 anos de reclusão.

Prisão e liberdade para Miguel Gutierrez, ex-CEO da Americanas

Na última sexta-feira (28), Miguel Gutierrez foi preso em Madri, na Espanha. No entanto, no dia seguinte, o ex-executivo da varejista foi solto pelas autoridades espanholas.

A defesa do Gutierrez informou que ele está em sua residência na capital espanhola e que vai se defender das acusações, que considera “alegações originadas por delações mentirosas”.

Nesse sentido, Gutierrez deve cumprir várias obrigações legais, incluindo comparecer em juízo a cada duas semanas e não deixar a Espanha.

O governo brasileiro considera pedir a extradição de Gutierrez, mas enfrenta dificuldades devido à sua cidadania espanhola.

Anna Saicali e a manipulação na Americanas

Nesta segunda-feira, 1º de julho, Anna Christina Ramos Saicali retornou ao Brasil após ter sua prisão revogada.

Ela desembarcou no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, por volta das 6:40 e se apresentou à Delegacia Especial da Polícia Federal. Assim, teve entregou seu passaporte e teve sua saída do país proibida.

Anna foi um dos principais alvos da operação, já que a polícia tem a executiva como uma das principais participantes da fraude, criando documentos falsos para sustentar saldos fictícios da Americanas.

O Ministério Público Federal no Rio de Janeiro afirmou que ela ajudou a manipular os controles internos da empresa de forma dolosa.

Qual a posição da Americanas sobre isso tudo?

Em comunicado, a Americanas declarou que “acredita na Justiça e aguarda a conclusão das investigações para responsabilizar judicialmente todos os envolvidos”.

O caso

Em janeiro de 2023, a Americanas revelou um rombo contábil bilionário, identificando “inconsistências em lançamentos contábeis” que somavam quase R$ 20 bilhões.

Sergio Rial, que havia assumido a presidência após a saída de Miguel Gutierrez, deixou o cargo apenas nove dias depois, citando irregularidades nos registros contábeis ao longo dos anos.

Em uma conferência, Rial esclareceu que as discrepâncias não estavam fora do balanço, mas não eram registradas de forma apropriada.

Com isso, a gigante varejista pediu recuperação judicial em 19 de janeiro daquele ano, e teve suas ações retiradas da B3.

Exibido em março, o plano teve sua aprovação em 19 de dezembro do mesmo ano, após 11 meses de negociações.

A princípio, a dívida final apresentada foi de mais de R$ 50 bilhões, incluindo R$ 82,9 milhões em dívida trabalhista e R$ 25,2 bilhões relacionados à fraude de resultado.

Para enfrentar a recuperação, a empresa contará com um aporte de R$ 12 bilhões dos acionistas de referência — Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Herrmann Telles — além da venda de ativos, como o Hortifruti Natural da Terra e a Uni.Co (franquias das marcas Imaginarium e Puket).

De acordo com a plataforma de pesquisa Quantum Finance, a recuperação judicial da Americanas é a maior em andamento no Brasil, com uma dívida total de R$ 50,87 bilhões. Veja a lista de maiores recuperações no País:

  1. Americanas (AMER3): R$ 50,87 bilhões
  2. Oi (OIBR3)(OIBR4): R$ 50,61 bilhões
  3. Light (LIGT3): R$ 16,76 bilhões
  4. OSX Brasil: R$ 8,5 bilhões
  5. Paranapanema: R$ 5,2 bilhões
  6. Coteminas: R$ 2,46 bilhões
  7. Springs: R$ 2,19 bilhões
  8. Renova: R$ 1,7 bilhões
  9. João Fortes: R$ 1,5 bilhões
  10. Teka: R$ 1,2 bilhões