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Americanas (AMER3): Toda a área financeira sabia do risco sacado, delata ex-CFO

Parte do conteúdo da colaboração foi revelado na denúncia apresentada pelo Ministério Público Federal (MPF) na última segunda-feira (7)

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Americanas (AMER3): Toda a área financeira sabia do risco sacado, delata ex-CFO

A delação premiada de Fábio Abrate, ex-diretor financeiro e de relações com investidores de Americanas (AMER3), reforça a gravidade e a extensão do esquema de fraudes contábeis na companhia.

Parte do conteúdo da colaboração foi revelado na denúncia apresentada pelo Ministério Público Federal (MPF) na última segunda-feira (7), e envolve treze ex-executivos, entre eles o ex-CEO Miguel Gutierrez e Anna Christina Ramos Saicali, ex-dirigente do segmento digital da companhia.

Segundo Abrate, as manipulações nos balanços eram de amplo conhecimento dentro da Americanas, e envolvia desde o setor financeiro até a área comercial. As informações são do blog da colunista Malu Gaspar, do jornal O Globo.

Todo mundo dentro da companhia (sabia). Todo mundo, afirmou o delator. A operação era muito grande. Ela começa pequena e chega num nível em que toda a área financeira sabia do risco sacado, a área comercial inteira sabia do risco sacado.

Em que se baseia a acusação do MPF?

A colaboração de Abrate foi um dos principais pilares da denúncia do MPF. Ele, assim como os ex-diretores Marcelo Nunes e Flavia Carneiro, não foi denunciado devido à colaboração com as investigações.

Os delatores detalharam como o esquema envolvia não apenas os altos executivos da Americanas, mas também instituições financeiras de grande porte, como Itaú (ITUB4) e Santander (SANB11).

Entenda o caso Americanas (AMER3)

Risco sacado e manipulação contábil

Abrate negociava diretamente com os bancos operações conhecidas como risco sacado. Esse mecanismo permite que os bancos antecipem pagamentos a fornecedores com desconto, e cobre posteriormente da empresa o valor com juros.

Apesar de uma resolução da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), em 2016, obrigar que essas operações fossem registradas como financiamento, a Americanas as lançava como transações comerciais e omitia custos e credores.

Para esconder o passivo, as operações de risco sacado foram lançadas no campo ‘fornecedores’, sem qualquer explicação sobre quem seriam os credores, qual o prazo de financiamento e quais os custos associados, afirma o MPF, na ação.

Com isso, a empresa apresentava lucros fictícios. Em dezembro de 2022, o valor dessas operações somava R$ 15,90 bilhões.

No mês seguinte, após a exposição da fraude, o rombo contabilizado chegou a R$ 22,8 bilhões.

Como Itaú (ITUB4) e Santander (SANB11) se envolveram?

Na delação, Abrate afirmou que Itaú e Santander aderiram ao esquema por interesse econômico. Segundo ele, os bancos que se recusassem a omitir as cifras nas cartas de circularização deixariam de operar com a companhia.

“Se tem um setor organizado, se chama banco. Varejo se mata. Banco, não. Banco combina”, declarou o ex-diretor.

Ele detalhou que mantinha comunicação direta com as instituições: No caso de Itaú e Santander, eu ligava para um, ligava para o outro, e um conhecido que ia ligar para o outro.”

As tratativas com os bancos ocorriam na chamada sala cegada, local na sede da Americanas destinado a reuniões confidenciais. Em trocas de mensagens, os executivos celebravam os acordos.

“Que beleza! Bom trabalho”, respondeu Saicali a um e-mail de Abrate. No WhatsApp, a comemoração foi efusiva: “Muitooooo bom!!!”, celebrou Timotheo de Barros.

As informações são do blog da colunista Malu Gaspar, do jornal O Globo.