Às 15:15 desta quinta-feira (17), o Ibovespa caía 2,09%, aos 107.934 pontos. O movimento se justifica pela recepção negativa entre agentes e analistas do mercado financeiro à PEC da Transição.
O documento foi apresentado pelo vice-presidente eleito Geraldo Alckmin (PSB) na noite de quarta-feira (16) e encaminhado aos presidentes da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), e da Comissão de Constituição e Justiça do Senado Federal, Davi Alcolumbre (União Brasil – AP).
Na peça, o governo eleito solicita a exclusão dos gastos totais do Bolsa Família do teto de gastos, no valor de R$ 175 bilhões e a provisão de 40% das receitas extraordinárias para investimentos. 60% do total continuaria destinado ao pagamento dos juros da dívida.
O avanço nas receitas extras seria limitado a 6,5% da receita líquida, com uma trava em R$ 22 bilhões, com o objetivo de elevar os investimentos para 1% do PIB (de 0,2% hoje), como explicou o vice-presidente eleito Geraldo Alckmin (PSB) em entrevista.
Em resumo, o grupo de transição pediu, para além dos R$ 105 bilhões previstos para cobrir o Auxílio Brasil de R$ 400,00, um waiver de R$ 197 bilhões.
Os R$ 175 bilhões correspondem ao Bolsa Família de R$ 600 mais R$ 150 por criança de até seis anos. Além disso, o documento solicita ao Congresso Nacional liberar do teto de gastos as doações ambientais e recursos próprios das universidades.
O mercado reage ainda com maior tensão pelo fato de o texto não estipular prazo de vigência para a PEC, nem os detalhes para a utilização das sobras do teto.
Reações
O governo eleito de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) correu para rebater as críticas à proposta. Na COP27, Lula reagiu.
“Você tenta desmontar tudo aquilo que faz parte do social e não tira um centavo do sistema financeiro. Se eu falar isso, vai cair a bolsa, o dólar vai aumentar? Paciência. O dólar não aumenta e a bolsa não cai por conta das pessoas sérias, mas por conta dos especuladores”, disse.
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Com esses movimentos, o que fazer com as ações de estatais?
Assim como grande parte das ações que compõem o índice Bovespa, as estatais Banco do Brasil (BBAS3) e Petrobras (PETR3)(PETR4) eram penalizadas.
Os papéis do BB derretiam 3,2%, a R$ 34,09, enquanto os papéis ordinários (PETR3) e preferenciais (PETR4) da Petrobras cediam 1,19% e 0,37%, aos preços de R$ 30,83 e R$ 27,05, respectivamente.
Em seu relatório, apesar das sinalizações de política mais expansionista, o J.P. Morgan reiterou sua recomendação neutra para o Banco do Brasil (BBAS3), mas elevou o preço-alvo para as ações de R$ 47,00 para R$ 50,00.
No material, analistas destacam que existem boas tendências de bons resultados ao banco público à frente. Eles alegam ainda que preferem aguardar mais movimentações, mas pontuam que houve melhoria na governança de empresas estatais ao longo dos anos.
Para a Petrobras (PETR3)(PETR4), as recomendações, em consenso, são pessimistas. O mesmo J.P. Morgan cortou o preço-alvo drasticamente em R$ 16,00, de R$ 53,00 para R$ 37,00, com indicação neutra reiterada para as ações preferenciais.
Analistas citaram incertezas com a gerência da estatal, os planejamentos de refinarias e a contrariedade do governo eleito à política de megadividendos.
Sobre o último tema, o Goldman Sachs escreveu que via o episódio “como negativo, pois cria incerteza adicional sobre se o novo governo vai considerar reduzir os proventos para fomentar investimentos em refino e energias renováveis, entre outros”. O banco tem como preço-alvo para os papéis preferenciais o valor de R$ 31,40 e a recomendação neutra, com preço-alvo de R$ 34,60 para as ações ordinárias.