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BB Seguridade (BBSE3): funcionários do setor anticorrupção se afastam após denúncias de assédio moral, revela g1

O g1 obteve acesso a depoimentos que detalham as condutas que culminaram nas saídas

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Banco do Brasil

Três funcionários responsáveis pelo setor de combate à corrupção da BB Seguridade (BBSE3), empresa vinculada ao público Banco do Brasil (BBAS3), se afastaram de seus cargos no último ano. De acordo com denúncias, o motivo teria sido assédio moral no ambiente de trabalho. O g1 obteve acesso a depoimentos que detalham as condutas que culminaram nas saídas.

A BB Seguridade, uma holding que atua nos segmentos de seguros, previdência, títulos de capitalização e planos odontológicos, intermedeia a comercialização desses produtos. Com as denúncias, o Ministério Público do Trabalho (MPT) em Brasília (DF) instaurou um procedimento investigativo para apurar o caso.

Práticas denunciadas por funcionários afastados do BB Seguridade (BBSE3)

De acordo com a denúncia, os episódios de assédio teriam ocorrido entre 2024 e o início de 2025. As principais práticas relatadas incluem:

  • Isolamento da área de Controles Internos e Integridade e de seus funcionários;
  • Restrição da atuação dos profissionais e do acesso às informações;
  • Avaliações negativas e bloqueio da progressão de funcionários não alinhados à cúpula da empresa, o que favoreceria a ascensão de aliados.

O procurador Paulo Cezar Antun de Carvalho conduz a apuração preliminar e pode decidir pelo prosseguimento da investigação ou pelo arquivamento do caso.

Possível motivação teria sido investigação interna

Entre os episódios que podem ter causado a crise no setor, destaca-se a apuração de dezenas de kits executivosdistribuídos no final de 2023 a membros da alta gestão e parceiros externos.

Os kits, avaliados em aproximadamente R$ 4 mil cada, incluíam itens como mala de bordo, mochila de couro e carregador por indução, e ultrapassavam o limite estabelecido pelo Código de Ética do Banco do Brasil (BBAS3).

Apesar da auditoria interna não ter responsabilizado nenhum executivo, os itens tiveram que ser devolvidos.

Além disso, a Superintendência de Controles Internos e Integridade (SCI) identificou fragilidades no monitoramento de novos parceiros comerciais e deficiências na gestão de contratos com grandes empresas, como a seguradora Mapfre e a OdontoPrev (ODPV3).

Centrão influencia a alta cúpula da seguradora

Dois funcionários do banco relataram ao g1 que a BB Seguridade (BBSE3), um dos órgãos do Banco do Brasil (BBAS3), tem sido fortemente influenciado pelo Centrão, padrão que se manteve independentemente do governo em exercício.

Em janeiro de 2025, durante as negociações da reforma ministerial, o blog do jornalista Lauro Jardim, do jornal O Globo, revelou que o Centrão buscava ampliar sua influência no BB e chegou a indicar nomes para substituir a presidente da instituição, Tarciana Medeiros.

Entre os nomes cotados estava o do diretor-presidente da BB Seguridade (BBSE3), André Haui, superior direto de Maurício Azambuja, apontado na denúncia como um dos responsáveis pelo assédio.

Detalhes das denúncias

Os três funcionários que compunham a SCI no início de 2024 deixaram seus cargos por problemas de saúde mental, com pelo menos um caso reconhecido pelo Instituto Nacional de Seguro Social (INSS) como acidente de trabalho.

Os relatos indicam que, em uma reunião realizada em 23 de fevereiro de 2024, logo após a posse de Maurício Azambuja como superintendente executivo de Governança, Riscos e Compliance, ele teria afirmado que regras existem para serem flexibilizadas.

A postura teria contrariado a Lei Anticorrupção e gerou uma crise emocional na então chefe da SCI.

A mesma funcionária formalizou sua insatisfação dias depois, em 26 de fevereiro, por mensagens para Azambuja, sem receber resposta.

Em maio, afastou-se por motivos de saúde, e, em agosto, o INSS manteve seu afastamento e a incluiu em um programa interno de proteção a denunciantes.

Outro funcionário recebeu a nota mínima na avaliação de desempenho e, ao questionar a justificativa, foi informado por Azambuja de que uma conversa com terceirosteria prejudicado o clima organizacional.

A transcrição dessa reunião foi registrada em cartório e obtida pelo g1.

Resposta de BB Seguridade (BBSE3)

A BB Seguridade (BBSE3) afirmou ao g1 que ainda não foi notificada pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) e reiterou seu compromisso com as boas práticas de governança corporativa.

Em nota, declarou:

A BB Seguridade Participações S.A. esclarece que não foi notificada pelo Ministério Público do Trabalho. A companhia reafirma seu compromisso inegociável com as melhores práticas de governança corporativa sustentadas por um Código de Conduta e Ética robusto e por um Programa de Compliance e Integridade baseado em processos rigorosos e transparentes, que asseguram o cumprimento das leis, regulamentos, normas e diretrizes aplicáveis aos seus negócios.

O que diz o Sindicato dos Bancários?

O presidente do Sindicato dos Bancários de Brasília, Eduardo Araújo, afirmou que a entidade analisa o caso e pode tomar medidas. Ele destacou que casos de afastamento coletivo por problemas de saúde em um mesmo setor são incomuns e reforçou a importância de proteção aos denunciantes.