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Caixa em Bitcoin (BTC): quais os riscos e benefícios da estratégia para a Méliuz (CASH3) e seus acionistas?

Mais de 80 companhias ao redor do mundo já adotaram essa medida, mas decisão divide opiniões no mercado dado o histórico de volatilidade da criptomoeda

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Méliuz - CASH3
Foto: montagem/José Chacon - SM

Imagine investir em ações de uma empresa listada na Bolsa de Valores e, em um ano, seu capital mais que dobrar, sem que a companhia tenha vendido mais produtos ou aumentado seu faturamento. Parece distante, mas é esse o efeito que a alocação de caixa em Bitcoin (BTC) pode ter no mercado. 

Destinar uma porcentagem do caixa em Bitcoin pode gerar um aumento substancial no valor de mercado da empresa e, assim, refletir em mais retorno para os acionistas. 

Essa estratégia tem sido adotada cada vez mais por empresas ao redor do mundo. Atualmente, pelo menos 80 companhias já fazem o uso dessa medida. Uma delas é a Méliuz (CASH3), empresa virtual de cashback, que recentemente se tornou a primeira companhia brasileira a alocar caixa em Bitcoin.

A fintech investiu US$ 4,1 milhões na criptomoeda, ao comprar 45,72 bitcoins a um preço médio de US$ 90.296.

Junto ao investimento, a companhia criou um “Comitê Estratégico de Bitcoin” que vai analisar a viabilidade de se ampliar essa estratégia.

Desde então, uma grande pergunta surgiu no mercado: quais são os prós e contras dessa estratégia e por que cada vez mais empresas estão adotando o caixa em bitcoin?

Nesta reportagem, a SpaceMoney busca compreender a medida, os benefícios e riscos que trazem não só para a empresa, mas também para os acionistas e se realmente vale a pena adotar a estratégia.

Qual o impacto do caixa em Bitcoin?

O caixa de uma empresa é composto pelos recursos financeiros que ela possui para cumprir com suas obrigações diárias e estratégicas. 

Esse capital pode ser formado por dinheiro em espécie, saldos bancários e aplicações financeiras de alta liquidez, aquelas que podem ser rapidamente convertidas em dinheiro sem grandes perdas de valor. 

Nesse sentido, André Barbosa, especialista em investimentos e ex-sócio da Toro Investimentos, aponta que a adoção do bitcoin como reserva de valor é um movimento que tem o potencial de transformar a trajetória das empresas. 

Só em 2024, a criptomoeda registrou uma valorização de mais de 120%. Na média, investidores do Bitcoin, naquele ano, conseguiram um lucro potencial não realizado de 40%.

Assim, o principal benefício para as empresas é a valorização do ativo

Se o preço do Bitcoin continuar sua trajetória de alta, as empresas podem ver um aumento significativo no valor de mercado. 

Isso pode atrair mais investidores, melhorar a liquidez e até mesmo ajudar a financiar novas iniciativas sem a necessidade de emitir novas ações ou contrair dívidas.

Já para os acionistas, esse movimento pode representar um ganho expressivo, especialmente se a valorização do Bitcoin for substancial. 

A empresa americana Strategy, que iniciou suas compras de Bitcoin em agosto de 2021, é a principal referência desse movimento. Desde então, suas ações acumularam uma valorização de 2.354%

“Quando bem executada, a alocação em Bitcoin pode gerar um aumento substancial no valor de mercado da empresa, o que se traduz em valor para os acionistas”, comenta Barbosa. 

No entanto, o especialista alerta para um fator crucial: a volatilidade. O Bitcoin, por ser um ativo altamente volátil, pode aumentar a flutuação das ações das empresas que o adotam.

Exposição ao risco

Ao adicionar Bitcoin aos seus balanços, as empresas se tornam suscetíveis a oscilações abruptas no preço da criptomoeda. 

Isso pode ser um desafio, especialmente para empresas que operam em setores mais sensíveis à volatilidade. 

No entanto, como Barbosa pontua, o objetivo principal da estratégia costuma ser gerar valor para os acionistas, através do aumento no valor de mercado das empresas. 

“A correlação com o Bitcoin pode ser arriscada, mas se a empresa souber comunicar bem sua estratégia aos investidores e tiver acesso ao mercado de capitais, o potencial de valorização é imenso”, afirma.

Mas afinal, vale a pena fazer reserva em Bitcoin?

André Barbosa destaca que para uma empresa decidir se Bitcoin é uma boa alocação para seu caixa, ela deve considerar se é geradora de caixa líquido.

Além disso, se tem uma boa conexão com o mercado e seus acionistas para explicar a estratégia, assim como a volatilidade adicional.

“A chave para o sucesso está na gestão responsável, comunicação clara e uma visão de longo prazo. As empresas precisam pesar cuidadosamente os prós e contras dessa decisão antes de se comprometer com uma estratégia tão volátil”, explica Barbosa.

Caso Méliuz: foi uma boa ideia?

No caso da Méliuz (CASH3), que já tem um fluxo de caixa robusto e está disposta a assumir o risco, a estratégia pode ser vantajosa, especialmente por ela indicar que planeja ampliar a estratégia, com o Comitê Estratégico de Bitcoin.

No entanto, a XP Investimentos expressou cautela em relação à decisão da fintech, ao afirmar que:

A corretora destacou que a iniciativa “levanta dúvidas sobre a coerência dessa estratégia, especialmente porque a empresa não opera com criptomoedas em seu core business”

Nesse sentido, a XP reconheceu que o Bitcoin pode evoluir como uma reserva de valor no futuro, mas enfatizou que, no momento, a estratégia parece desconectada dos objetivos operacionais da companhia, gerando incertezas sobre sua eficácia.