O mercado financeiro está atento às movimentações de governo no entorno da Petrobras (PETR3)(PETR4). A companhia, que é uma empresa de capital misto e de maior peso na bolsa brasileira, tem debatido nos últimos dias acerca do pagamento de dividendos extras.
A distribuição de proventos pela petroleira está em evidência desde a campanha presidencial de 2022, quando o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT-SP) havia declarado que esse recurso deveria ser reinvestido em pesquisa e desenvolvimento.
Passados dois anos, o agora chefe do Poder Executivo continua tentando viabilizar uma nova destinação para os proventos. Entretanto, a equipe de governo está dividida, bem como o próprio mercado financeiro. Uma ala dos ministros e secretários tenta cativar Lula a manter o fluxo de pagamentos, a exemplo do ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Do lado do mercado, os analistas estão divididos entre a convicção de que a distribuição dos proventos sairá, de fato, e outros estão ancorados no não repasse.
Dentre os mais otimistas, há aqueles que acreditam que após uma reunião entre Ministros de Estado, há planos para a distribuição dos dividendos extraordinários da Petrobras, prevista teoricamente para ocorrer até 19 de abril.
O montante referente a esses dividendos extraordinários é de aproximadamente R$ 44 bilhões – ou o equivalente a R$ 3,3 por ação, o que implica em um potencial de rendimento de aproximadamente 8% em relação aos preços atuais das ações, caso esses recursos sejam distribuídos integralmente.
Expectativa dos acionistas
Para André Colares, CEO da Smart House Investment, essa discussão tem sido objeto de intenso debate no mercado, refletindo não apenas sua saúde financeira, mas também as expectativas dos acionistas.
“A Petrobras, com sua recente revisão da política de dividendos e um histórico sólido de lucratividade, tem a capacidade de distribuir dividendos extras. No entanto, essa decisão vai além de simples métricas financeiras, adentrando o campo da estratégia corporativa e da política governamental”, diz.
“Os eventos recentes envolvendo a empresa, como os debates sobre os preços dos combustíveis e as políticas de gestão, podem não ser apenas ruídos de mercado, mas também indícios de interferência política, dada a importância estratégica da empresa para a economia nacional. Os investidores ponderam frequentemente o potencial de retorno dos dividendos da Petrobras em relação aos riscos políticos e regulatórios associados”, declara.
Segundo ele, investir na Petrobras pode ser atrativo devido ao seu tamanho, potencial de lucro e distribuição de dividendos. “No entanto, para aqueles preocupados com a influência governamental, explorar empresas em setores menos regulados ou com políticas de governança que promovam maior independência pode ser preferível. Setores como tecnologia e saúde são considerados menos sujeitos ao controle direto do governo e podem oferecer oportunidades de crescimento com menos risco político”, destaca.
Inclinação do governo Lula
Já o economista Volnei Eyng, CEO da Multiplike, afirma que há uma forte inclinação por parte do governo Lula para que parte dos dividendos da Petrobras seja distribuída, considerando especialmente a importância desses recursos para alcançar a meta fiscal de déficit zero, dado que a União terá uma participação de cerca de R$ 6 bilhões. “O montante em questão, aproximadamente R$ 20 bilhões, representaria uma injeção significativa de capital. Contudo, a decisão final continua em suspenso, uma vez que o conselho da Petrobras precisa aprovar a proposta e submetê-la à assembleia de acionistas”, explica.
Para ele, o ruído no entorno da estatal não é momentâneo, mas há uma sequência de eventos que colocam em questão não apenas a liderança da Petrobras, mas também a estabilidade política e estratégica da empresa. “Existe uma grande turbulência política envolvendo o CEO da Petrobras, Jean Paul Prates, e membros do governo Lula, particularmente o Ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira. Rumores de demissão e especulações sobre sua substituição por Aloizio Mercadante são vistas como preocupantes para o mercado financeiro, dadas as históricas interferências e políticas controversas adotadas por ele em mandatos anteriores”, diz, acrescentando que a apreensão do mercado com a possível influência política na Petrobras refletiu diretamente na volatilidade das ações da empresa, como evidenciado pelas flutuações significativas entre altas e baixas no último dia.
Situação incerta
O sócio da Ipê Investimentos, Fabio Murad, ressalta que a situação referente aos dividendos extras da Petrobras permanece incerta. “Embora haja uma pressão considerável para efetuar esses pagamentos, a decisão final depende de uma série de variáveis, incluindo a saúde financeira da empresa e influências políticas. A empresa declarou que ainda não tomou uma decisão definitiva sobre a distribuição de dividendos, o que sugere uma quantidade significativa de incerteza nesse aspecto”, pontua.
“Do lado do investidor, é crucial considerar uma variedade de opções. Embora a Petrobras tenha potencial para oferecer retornos substanciais, ela também carrega um nível considerável de risco, em parte devido à sua estreita relação com o governo. Existem várias outras empresas em setores semelhantes que podem proporcionar oportunidades de investimento atraentes com menor exposição ao risco político”, frisa.