A possível oferta pública unificada de aquisição (OPA) de todas as ações ordinárias da Cielo (CIEL3) já era esperada. Principalmente pelo aumento de concorrência significativo e players como Stone (STOC31) e PagSeguro (PAGS34) já concorrerem de igual para igual com a companhia e a controlada do Itaú (ITUB4), Rede, é o que diz José Daronco, analista CNPI da Suno Research.
Segundo ele, a integração da adquirência como parte de uma solução mais completa dentro dos serviços bancários oferecidos pelos bancos (Bradesco – BBDC4 e Banco do Brasil – BBAS3) faz total sentido. "Até porque, serve como uma ferramenta para reduzir a inadimplência, dado que pode acessar os recebíveis e o fluxo de caixa das empresas".
Mas Daronco destaque que: "O ativo mais valioso da Cielo não é, necessariamente, a Cielo. A joia da coroa se chama Cateno".
A princípio, a Cateno é uma joint venture criada entre Banco do Brasil e a Cielo, onde o BB tem 30% e a Cielo 70% de participação. Ela é a empresa responsável pelas atividades de gestão tecnológica das contas de pagamento, pós-pagas, cartões de crédito e débito do Arranjo Ourocard.
Em 2023, apenas a Cateno registrou um lucro líquido de R$ 1,1 bilhão (em 2021, por exemplo, a operação lucrava aproximadamente R$ 560 milhões).
"Então, na prática, o Banco do Brasil irá recomprar (ainda que não na totalidade) a participação da Cateno", afirmou o analista.
No preço do OPA, a Cielo será avaliada em R$ 14,5 bilhões e apenas em 2023 registrou um lucro líquido de R$ 1,9 bilhão.
"Considerando que hoje 40,6% disso está em circulação e que o Banco do Brasil comprará metade, estamos falando de um desembolso de aproximadamente R$ 2,9 bilhões", comenta Daronco.
"Embora ainda temos que nos debruçar sobre os números e também acerca do racional dos bancos no OPA, fato é que a integração da Cielo e da Cateno na operação do Banco do Brasil e Bradesco parece positiva", acrescenta.
Para ele, é possível que vejamos os bancos extraindo sinergias e tornando a Cielo mais competitiva, de modo que consiga brigar com PagSeguro e Stone, empresas que tem buscado oferecer cada vez mais soluções bancárias, deixando de ser 'apenas uma maquininha'.
Apesar disso, o analista pontua que, por outro lado, os desafios não são modestos. Já que a Cielo vem perdendo market share paulatinamente ao longo dos últimos trimestres e anos. Em parte, fruto da estratégia de reprecificação dos seus contratos, sobretudo com grandes contas.
"Esclarecido todos esses pontos, a nossa visão é de que oferta do Banco do Brasil e Bradesco é positiva e pode agregar não só valor aos acionistas dos bancos, como também mantê-los competitivos no segmento de adquirência”, conclui o analista da Suno.