Equidade

ARTIGO - Equidade de gênero no mercado financeiro é uma estratégia necessária e inteligente

Neste texto, Jaqueline Bourscheidt, cofundadora da MELVER, fala sobre a importância da educação e capacitação no processo de incluir mulheres

Jaqueline Bourscheidt, cofundadora e sócia da MELVER - Divulgação
Jaqueline Bourscheidt, cofundadora e sócia da MELVER - Divulgação

Por Jaqueline Bourscheidt, cofundadora da MELVER*

As mulheres enfrentam desafios contínuos para obter espaço no intrincado labirinto do mercado financeiro. Apesar dos avanços recentes, a equidade de gênero neste setor permanece uma meta distante. Segundo relatório oficial da B3, com dados do quarto trimestre de 2023, o número de investidoras cresceu marginalmente em relação a 2022, de 24% para 25%, atingindo cerca de 1,25 milhão de CPFs.

Porém, em números absolutos, a participação cresceu significativamente entre 2018 e 2020, quando a quantidade de investidoras na bolsa saltou de 179,3 mil para 809,5 mil. Os dados do Tesouro Direto, por exemplo, são mais animadores, porque indicam uma participação feminina maior, em torno de 40%, também de acordo com a B3.

Diante disso, a educação desempenha um papel crucial nesta jornada, mas os desafios estruturais frequentemente dificultam que mais mulheres ingressem e prosperem nesse universo.

A iniquidade de gênero no mercado financeiro é profundamente arraigada e multifacetada. Desde a falta de representação feminina em cargos de liderança até a disparidade salarial persistente, existem barreiras em todas as etapas da carreira. No entanto, é no nível educacional que muitas dessas discrepâncias são semeadas e cultivadas.

Um relatório exclusivo da ANBIMA (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), com dados de 2023, mostra que as mulheres são apenas 10% dos que se inscrevem para o curso de certificação de gestores da entidade, e o número cai para 9%, quando se considera a fatia de aprovadas do total de inscritos.

Na MELVER, empresa especializada em formar profissionais para o mercado financeiro, inclusive com preparação para a prova da Ancord (Associação Nacional das Corretoras de Valores), 25% dos alunos são mulheres.

Desde cedo, meninas são frequentemente desencorajadas a seguir carreiras em finanças, sendo direcionadas para campos sugeridos como mais "adequados" ao seu gênero. A sociedade, por meio de normas culturais e expectativas socialmente construídas, muitas vezes, subestima o potencial das mulheres no mundo das finanças.

Esse direcionamento precoce limita não apenas as oportunidades, mas também perpetua estereótipos prejudiciais e a falta de diversidade no setor financeiro.
Apesar dos desafios, há uma luz no horizonte, porque à medida que há um aumento na demanda por igualdade de gênero na sociedade, as instituições financeiras passam a reconhecer a importância de criar ambientes inclusivos e igualitários.

Iniciativas são implementadas para encorajar mais mulheres a estudar finanças e economia, quebrando assim o ciclo de sub-representação desde as fases iniciais do desenvolvimento profissional.

Programas de mentoria, bolsas de estudo e workshops especializados estão cada vez mais sendo desenvolvidos para capacitar e apoiar interessadas em ingressar no mundo das finanças. Além disso, empresas e organizações do setor financeiro estão aumentando seus esforços para recrutar e promover mulheres talentosas, reconhecendo os benefícios da equidade de gênero para o sucesso e a inovação nos negócios.

Atualmente, é possível perceber algumas iniciativas que estão impactando o ambiente no mercado de capitais. Essas organizações são voltadas para a inclusão e autonomia financeira, algo estruturalmente ainda muito oprimido.

A Fin4She, por exemplo, reúne mulheres nas plataformas digitais, realiza mentorias que fomentam uma rede de apoio entre as participantes, desenvolve jornadas, como o Women in Finance, e mantém presença em eventos de órgãos do setor.

Neste contexto, a formação para atuação no mercado financeiro não se limita apenas à aquisição de conhecimento técnico; é também sobre o desenvolvimento de confiança e de habilidades interpessoais. É sobre capacitar as mulheres a se destacarem em um ambiente frequentemente dominado por homens, desafiando assim a noção tradicional do que é considerado "normal" ou "adequado".

A sororidade, ou seja, o apoio mútuo entre mulheres, desempenha um papel crucial neste processo. Ao se unirem e se apoiarem, podem superar os obstáculos com mais facilidade e criar redes sólidas que impulsionem o progresso coletivo.

Além disso, a conscientização sobre questões como o viés de gênero e o assédio no local de trabalho é fundamental para criar ambientes mais inclusivos e seguros no setor financeiro. A diversidade de pensamento trazida por uma força de trabalho mais equilibrada pode levar a uma tomada de decisão mais robusta e inovadora.

Além disso, a presença de mulheres em todos os níveis hierárquicos não só inspira futuras gerações, mas também promove uma cultura de inclusão e respeito mútuo, resultando em trabalho mais saudável e produtivo para todos os funcionários. Investir na capacitação e no avanço delas no mercado financeiro não é apenas uma questão de justiça social, mas também uma estratégia inteligente para impulsionar o crescimento e a sustentabilidade do setor.

A ascensão delas no cenário financeiro representa uma força dinâmica e transformadora que está redefinindo os rumos das finanças. Conforme elas avançam em suas trajetórias rumo ao sucesso nesse setor, colhemos os frutos de uma abordagem mais diversificada, decisões financeiras mais criteriosas e uma sociedade mais justa.

É importante estar atento a essa nova dinâmica e buscar ativamente a equidade de gênero no mercado financeiro, inclusive na formação educacional de profissionais mulheres e garantindo que todas as vozes sejam ouvidas e valorizadas.

Isso é investimento não apenas no presente, mas também no futuro promissor que a igualdade de oportunidades oferece.

*Jaqueline Bourscheidt é sócia e cofundadora da MELVER. Graduada em Letras Português – Alemão, Linguistica Aplicada pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos, foi professora da língua germânica no Colégio Visconde de Porto Seguro por quase 11 anos. Em 2020, decidiu unir a formação em psicopedagogia ao empreendedorismo e mergulhar no universo do mercado financeiro. Atualmente, atua como head de gestão de pessoas e desenvolvimento dos conteúdos da MELVER.

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