
Durante a campanha presidencial, Donald Trump prometeu transformar os Estados Unidos na capital mundial das criptomoedas. Porém, desde que se tornou o 47º presidente do país norte-americano, os ativos digitais só recuaram. E o cenário piorou ainda mais quando o republicano impôs tarifas para parceiros comerciais.
Na véspera do chamado “Dia da Libertação” — que aconteceu no dia 2 de abril — o Bitcoin (BTC) era negociado a US$ 85 mil. Porém, após os anúncios tarifários, a maior criptomoeda do mundo chegou a ser cotada em US$ 76 mil.
De acordo com dados da plataforma de análises de mercado Kaiko, o volume de negociação do Bitcoin, o Ethereum (ETH) e outras criptomoedas recuaram 30% no primeiro trimestre de 2025.
Nesse cenário de incertezas econômicas, tanto no setor cripto quanto nos mercados tradicionais, é preciso analisar o que aconteceu com a promessa de Trump e se esse é o momento certo para investir nas criptomoedas.
As criptomoedas foram impactadas pelas tarifas de Donald Trump?
É fato que as criptomoedas sentiram na pele os impactos após o anúncio das tarifas de Donald Trump. Porém, as medidas não atingem diretamente o setor, pois não houve uma tarifa realmente imposta sobre o Bitcoin ou qualquer outro ativo digital.
Dessa forma, por mais que o setor cripto pregue que ele é descentralizado da economia tradicional, ele ainda pode sentir os efeitos quase da mesma maneira que outros investimentos, como ações e commodities.
O analista John Rhodel Bartolomé, fundador da Sunset Labs e business developer da rede Polkadot, destaca que embora o Bitcoin não esteja diretamente envolvido nas tarifas, o contexto pode afetar a confiança do investidor no mercado.
“Em momentos de incerteza, investidores tendem a migrar para ativos mais seguros (como ouro ou o próprio dólar), o que pode causar volatilidade no preço do Bitcoin”, comenta Bartolomé.
Entretanto, não há como prever com certeza como essas medidas do Trump afetam as criptomedas. O analista diz que “fatores internos ao próprio mercado cripto (adoção institucional, regulamentações, etc.) muitas vezes pesam mais no preço do Bitcoin do que mudanças pontuais na política comercial”.
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O CEO da Boost Research, André Franco, concorda com essa especulação, e afirma que a principal consequência das tarifas de Trump não é o impacto direto sobre o Bitcoin, mas o efeito no mercado. As tarifas são ruins para o mercado mundial e podem inclusive jogar países em recessão. Consequentemente, “países em recessão tem pessoas e empresas menos dispostos a investir, menos gente disposta a correr risco. Naturalmente ativos de riscos tendem a sofrer, por isso Bitcoin e os outros criptoativos sofrem também”.
Quais as previsões para o mercado cripto?
Porém, há uma notícia boa mesmo com esse contexto. O mercado de criptomoedas pode ser visto como um refúgio com todo esse movimento tarifário imposto por Donald Trump. Por mais que o republicano já tenha pausada o ‘tarifaço’ em diversos países, Bartolomé ainda mostra esperança na valorização do setor.
“Tarifas elevadas e instabilidade econômica podem levar a um maior interesse em criptomoedas, especialmente entre aqueles que buscam alternativas às políticas econômicas tradicionais”, comentou.
Ele ainda acredita que o Bitcoin é a “principal referência em proteção e reserva de valor no universo cripto”. Para o analista, mesmo com sucesso de outras criptomoedas, nenhum projeto desbancou papel do Bitcoin como “rei” em termos de reconhecimento.
Por mais que André Franco, da Boost Research, também afirma que o “único refúgio frente a essa instabilidade seriam os criptoativos”, ainda é preciso enfrentar um longo caminho para isso.
“Então, de bate pronto, eu diria que não teremos um cenário favorável às criptos, pelo menos não de imediato. A gente precisaria ir de algum tempo para as pessoas digerirem e entenderem o poder do Bitcoin nesse cenário”, argumentou.
E as meme coins? Como eles ficam nesse cenário?
Embora as meme coins tenham começado como piadas na internet, elas agora possuem espaço importante na política dos Estados Unidos. O Dogecoin (DOGE) é o maior exemplo disso. Por mais que Donald Trump tenha lançado sua própria meme coin, ela teve um efeito metórico, diferente do DOGE.
A criptomoeda que estampa um cachorro ficou popular nos últimos anos, especialmente após o apoio do empresário Elon Musk. E agora, a moeda também ganhou um novo papel simbólico dentro do contexto político americano. A nomeação de Musk para um cargo consultivo no “Departamento de Eficiência Governamental” — cujo sigla DOGE lembra diretamente a moeda — atraiu ainda mais atenção para essa criptomoeda.
Mesmo com o DOGE reagindo positivamente à reeleição de Donald Trump, o sentimento não foi contínuo e a meme coin já acumula quedas de 5% no último mês. O analista John Rhodel Bartolomé, afirma que embora a Dogecoin tenha uma comunidade ativa, “ela continua sendo amplamente especulativa, pois não apresenta a mesma solidez de projetos com fundamentos mais robustos”.
Assim, no cenário atual, qualquer movimentação envolvendo Musk e lideranças políticas pode gerar instabilidade no preço da moeda.
“Por isso, quem investe em DOGE deve entender que os ganhos rápidos decorrentes de anúncios e tweets podem enfrentar cada vez mais escrutínio à medida que o governo e órgãos reguladores intensificam a fiscalização”, destacou Bartolomé.
Paradoxo do Trump: liberdade para criptomoedas e protecionismo comercial
Durante sua campanha, Trump prometeu desburocratizar o setor de criptomoedas e colocar os EUA como capital das criptomoedas. Mas suas ações recentes, como a retomada das tarifas e discursos de tom protecionista, contradizem esse discurso liberal.
Desde que o republicano assumiu a presidência, a Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos (SEC) trocou o comando para um líder mais favorável para o setor. Além disso, o regulador criou uma força-tarefa para lidar com o mercado de criptomoedas.
De acordo com a agência, “a força-tarefa colaborará com a equipe da Comissão e o público para colocar a SEC em um caminho regulatório sensato que respeite os limites da lei”.
André Franco, da Boost Research, afirma que “a posição do Trump em relação à regulação é muito positiva nos Estados Unidos”. Para ele, em comparação ao governo anterior de Joe Bide, a mudança foi da “água para o vinho”.
Bartolomé argumenta que “a ideia é que uma política econômica mais flexível e focada em ‘tornar a América resiliente’ poderia abrir espaço para incentivos ou, pelo menos, menos entraves regulatórios ao setor de blockchain nos Estados Unidos”.
Além disso, a regulamentação das criptomoedas nos Estados Unidos pode afetar a forma que os ativos digitais são tratados no Brasil. “Caso os Estados Unidos adotem uma abordagem mais favorável ao ecossistema cripto, é provável que o Brasil fortaleça sua própria regulamentação para acompanhar essa evolução, colaborando ainda mais para a adoção de tecnologias de blockchain”, prevê o analista John Rhodel Bartolomé.
Investir ou não em criptomoedas?
Diante desse cenário, os investidores podem se perguntar: é hora de entrar no mercado de criptomoedas, sair ou apenas manter o que já tem? A resposta não é única e depende muito do perfil e do preparo de cada investidor.
O analista André Franco afirma que se o investidor focar no Bitcoin, é a hora de manter o criptoativo. Para ele, a tendência do Bitcoin segue a mesma: a gente vive em um sistema fiduciário baseado na impressão de dinheiro, e o Bitcoin tende a se solidificar como uma alternativa.
Para Johnny Rhodel Bartolomé, a decisão começa com autoconhecimento: “Se você não tem estômago para lidar com a volatilidade [do mercado de criptomoedas], talvez seja melhor vender e ficar em paz”.
“Agora, se deseja entrar ou continuar no mercado, faça isso de maneira consciente: pesquise bastante, entenda a tecnologia e escolha ativos com bons fundamentos. Assim, você evita encher a carteira de “ovos podres” e tem mais chances de construir um portfólio sólido”, completou.