Ex-presidente

Decisão de Fachin sobre Lula eleva imprevisibilidade política e fiscal: analistas

Lula, em 2016. - Pedro França/Agência Senado
Lula, em 2016. - Pedro França/Agência Senado

Por Ana Carolina Siedschlag, da Investing.com – A decisão do ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, de anular todas as condenações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva relacionadas às investigações da Operação Lava Jato, o que o torna elegível a cargos políticos, aumenta a percepção de risco para os investimentos no Brasil e pode levar a um atraso ainda maior na agenda econômica do Congresso, disseram analistas do mercado ao Investing.com.

Para Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos, a decisão acrescenta mais incerteza em um momento já difícil para os ativos brasileiros por conta do cenário fiscal comprometido e da má condução da pandemia no país.

“Vai depender do barulho que isso vai causar no cenário político, levando em conta que as eleições começam a ser discutidas no segundo semestre. Já temos um Congresso que não precisa de muito para comprometer a agenda de reformas econômicas”, diz.

Já Paloma Brum, economista da Toro Investimentos, o receio do mercado é que o período eleitoral seja mais conturbado com uma possível candidatura de Lula. 

“Isso elevou o nível de incertezas para o futuro da economia. Por ser um candidato à esquerda, a visão dele pode ser contrária a diversas pautas econômicas, como a atual agenda de reformas, o que dificultaria a trajetória fiscal, reduziria confiança em investimentos de longo prazo no país e, por consequência, comprometeria o crescimento brasileiro”, diz.

Segundo nota do gabinete de Fachin, o ministro entendeu que a vara em Curitiba não tinha competência para julgar os processos e anulou todas as decisões proferidas nos casos do tríplex do Guarujá, do sítio em Atibaia, da compra de uma sede para o Instituto Lula e das doações feitas ao instituto do ex-presidente.

Fachin determinou a remessa dos processos à Seção Judiciária do Distrito Federal. A decisão, tomada de forma monocrática, garante a preservação dos direitos políticos de Lula e será posteriormente avaliada pelo plenário do STF.

Para Thiago Vidal, analista político da Prospectiva, o desfecho foi inesperado e coloca em xeque os cenários até agora imaginados para 2022.

“Tudo apontava para que Lula não fosse candidato e havia a expectativa, inclusive, de que o PT nem sequer lançasse um candidato. Supondo que ele fique de fato elegível, o que mais chama atenção é a total sensação de imprevisibilidade”, diz.

Ele destaca ainda que, a depender da manutenção ou não da decisão, a reviravolta pode, por um lado, abrir caminhos para que Lula se candidate a outros cargos políticos, como ao Congresso Nacional, e, ao mesmo tempo, reacender o sentimento anti-PT.

“Não dá para não pensar no cenário eleitoral de 2018, quand Lula ainda era candidato. Alguém que não votaria no Bolsonaro em 2022 pode mudar de ideia caso isso aconteça de novo”, aponta.

Perto das 17h53, o índice Ibovespa caía 3,80%, a 110.826 pontos.

*Com informações da Reuters