Por Ana Julia Mezzadri, da Investing.com – A Wiz (SA:WIZS3) tem passado por um longo processo de mudança de posicionamento. Anteriormente conhecida como a corretora de seguros da Caixa Econômica Federal, a companhia tem como maior objetivo hoje diversificar suas operações por meio de novas parcerias e produtos.
Nesse sentido, as principais apostas de crescimento da companhia hoje são o chamado bancassurance, ou seja, parcerias com bancos para a oferta de seguros, como as já firmadas com o Banco Inter (SA:BIDI11) e o Banco BMG (SA:BMGB4); e a Wiz Parceiros, plataforma para a oferta de produtos de terceiros
Esse processo de diversificação, no entanto, é longo, visto que a natureza das operações da companhia fazem com que haja muitos recebíveis futuros. Apesar de já ver resultados de outras parcerias em seu balanço, a presença da Caixa no portfólio ainda é grande. “Fizemos muita coisa, mas ainda vem muita coisa pela frente”, explica Heverton Peixoto, CEO da companhia.
Recentemente, a Wiz anunciou uma parceria com o Itaú (SA:ITUB4) para a venda de produtos financeiros, seguros e consórcios. “Queremos ser o principal canal de consórcio do Itaú excluindo as agências do próprio Itaú”, diz o CEO.
Mas nem todos os acontecimentos recentes são positivos para a empresa. Em novembro do ano passado, a polícia federal deflagrou uma operação para investigar três ex-diretores da companhia, que teriam praticado atos de gestão fraudulenta e desviado até R$ 28,3 milhões entre 2014 e 2016.
No fechamento do mercado desta quarta-feira (24), a ação da Wiz tinha baixa de 4,20%, a R$ 6,62 – na contramão do Ibovespa, que fechou em alta de 0,38%, aos 115.667 pontos.
Leia abaixo a entrevista com Heverton Peixoto, CEO da Wiz.
Investing.com – Como está a empresa hoje?
Heverton Peixoto: A Wiz é a única empresa com essa configuração, especializada em ser uma gestora de canais de distribuição com foco no que chamamos de market and sales dentro dos produtos financeiros, principalmente crédito e seguros. Seguros é o nosso core.
Desde 2018, quando mudamos de nome, de Par Corretora para Wiz, iniciamos a diversificação em outros canais de distribuição. Hoje temos uma joint venture com o Banco Inter (SA:BIDI4), na qual já mais do que multiplicamos por cinco o tamanho da operação. Distribuímos também os produtos de seguros do banco BMG, e estamos tendo muito sucesso desde o início.
Temos uma operação na empresa que é a maior processadora e operadora de seguros do mercado brasileiro, a Wiz BPO. É uma seguradora completa, mas que atende 16 seguradoras. Temos a Wiz Parceiros, que é uma plataforma com 13 mil vendedores espalhados pelo Brasil inteiro. É a maior plataforma de vendas de consórcios hoje, exceto os cinco maiores bancos do país. Foi essa plataforma que assinou uma parceria com o Itaú. Temos uma operação de aquisição de balcão de concessionárias, uma operação B2B com 120 accounters espalhados pelo Brasil oferecendo seguros para empresas, uma empresa de benefícios de saúde e oferta de produtos para RH…
Então, estamos falando de um conglomerado relativamente low profile e muito white label, que vende a marca de terceiros, no canal de terceiros, mas com inteligência de conectividade única.
Inv.com – E o que os números têm mostrado?
HP: Hoje temos 2.500 funcionários, uma margem Ebitda de 50-55%, R$ 220 bilhões de lucro líquido, mais ou menos 75% a 80% de retorno on equity. Temos R$ 225 milhões em caixa sem dívida nenhuma. Temos zero de alavancagem e alta capacidade de aquisição de balcões.
Inv.com – Vocês já conseguiram captar algum resultado das últimas parcerias?
HP: Sim. Hoje a Inter Seguros está com uma margem Ebitda acima de 8%, com faturamento de quatro a cinco vezes o que faturava antes. Obviamente é uma empresa que ainda representa pouco do nosso faturamento total, mas o Banco BMG, por exemplo, já é 10% do nosso faturamento. Ou seja, devagarzinho vamos diminuindo a presença da Caixa no nosso balanço.
Como tem muito recebível futuro, é difícil diluir. Somos uma empresa com um diferido muito forte, então demoramos muito para receber o que vendemos. Precisamos manter o ritmo de crescimento menos dependente da Caixa Econômica Federal. Fizemos muita coisa, mas ainda vem muita coisa pela frente.
Inv.com – Quais são as expectativas para a parceria com o Itaú?
HP: Queremos ser o principal canal de consórcio do Itaú excluindo as agências do próprio Itaú. A parceria começa com consórcios, mas já está no road map a expansão para todos os produtos do Itaú para não correntistas, como crédito consignado, crédito pessoal, crédito para negativado, home equity, car equity, financiamento de veículos… O Itaú é muito competitivo, mas hoje está muito enclausurado em seu ambiente. Se você não for correntista Itaú, nem consegue ter acesso a esses produtos. E tem muito correntista de outros bancos que quer e tem condição de pegar crédito no Itaú.
Então o que a Wiz propôs e o Itaú aceitou é a montagem de um exército de vendas que vai ter mais de 5 mil vendedores no Brasil inteiro oferecendo os produtos deles para não correntistas, ou até correntistas que não usam agências.
Inv.com – De todas essas verticais, quais são as principais apostas de crescimento?
HP: Nossas apostas principais são duas. A primeira é continuar investindo no que chamamos de bancassurance, que são parcerias com seguros em canais bancários, como o que fizemos com o Inter e com o BMG. A segunda prioridade para a Wiz é investir no que chamamos de força de venda de canal indireto, que é a plataforma para a oferta de produtos de terceiros. Isso é uma coisa que tínhamos dentro de casa, vinha crescendo, mas que era pequena dentro do todo. Hoje é 10% do nosso faturamento. Temos conseguido fazer um progresso muito grande.
Inv.com – O que vocês esperam para o mercado de seguros e produtos financeiros em 2021?
HP: Continuamos conversando com todas as instituições financeiras, e acho que a maior parte delas tem uma oportunidade absurda. Muitos bancos não se rentabilizam oferecendo produtos de seguridade. Então a Wiz é um caminho para a rentabilização à vista, mas também decolagem dessa estrutura.
Sobre o mar aberto, esse exército de vendas, estamos adicionando mais de mil novos vendedores por mês há um ano seguido. Crescemos quase 100% ano contra ano nesse canal de distribuição.
Inv.com – E vocês acham que a demanda acompanha esse crescimento?
HP: Temos sentido a demanda por crédito maior do que aquilo que conseguimos suprir pelos nossos canais de distribuição. O motivo é que o momento é complexo para todos os brasileiros. O segmento de seguros tem sofrido bastante, mas eu acho que o pior já passou. E consórcios, por incrível que pareça, têm crescido a uma velocidade absurda. O motivo é que, hoje, muitas vezes é melhor você adquirir um consórcio e buscar via lance ser contemplado do que ter recurso em poupança ou ter recurso investido em ativos que não dão retorno.
Inv.com – Dados os eventos recentes, como a empresa tem se posicionado em relação a ESG, especialmente governança?
HP: A companhia já vinha investindo bastante em compliance e governança, isso vinha desde 2017 em um processo de amadurecimento robusto, inclusive anterior à minha gestão. Acho que ainda temos uma jornada pela frente, mas a empresa já está colocada, em termos de governança e gestão, entre as 200 melhores do país.
Obviamente, o que veio à tona é algo relacionado ao nosso passado, entre 2014 e 2016, e a companhia não é investigada. A companhia, enquanto instituição, não fez parte e não teve ganho. O que existem são evidências claras de que possivelmente tenha havido uma ação de um executivo e dois conselheiros que buscaram ganhos próprios, em um valor que hoje é 3% do nosso faturamento. E estamos gastando quase mais do que isso para tentar garantir a transparência.