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Ibovespa: abril pode ter uma fuga em massa de capital estrangeiro da bolsa

Investidores brasileiros podem recorrer a empresas grandes de tecnologia no mercado norte-americano

- Foto: Tima Miroshnichenko/ Pexels
- Foto: Tima Miroshnichenko/ Pexels

O mercado financeiro está de olho nos dados econômico-financeiros norte-americanos, bem como atentos a um possível rali das ações nos EUA, previstos para ocorrer neste mês de abril. “O provável rali nas ações dos EUA pode ser atribuído a uma desaceleração na inflação, conforme indicado pelo indicador preferido pelo Federal Reserve (Fed, banco Central), juntamente com uma recuperação nos gastos das famílias”, afirma André Colares, CEO da Smart House Invest.

De acordo com o executivo, isso sugere que, embora a inflação esteja diminuindo, ela permanece relativamente alta, o que limita os cortes nas taxas de juros, mas ao mesmo tempo demonstra que a economia continua robusta, alimentando o otimismo entre os investidores. “Caso ocorra [o rali], pode acabar influenciando o desempenho do Ibovespa de duas maneiras principais, sendo de um lado promovendo um ambiente de maior aversão ao risco, que pode direcionar fluxos de capital para mercados emergentes, como o Brasil, De outro, se os investidores internacionais optarem por concentrar seus recursos nos mercados americanos em busca de melhores retornos, isso implicará em uma saída de capital do Brasil, pressionando o Ibovespa para baixo”, diz.

Diante desse cenário, o CEO elenca que o investidor deve manter uma estratégia equilibrada e diversificada. “Com o otimismo nos EUA e a possibilidade de volatilidade nos mercados emergentes, incluindo o Brasil, os investidores devem avaliar cuidadosamente seu apetite ao risco e considerar a diversificação geográfica e setorial de seus portfólios para mitigar riscos e aproveitar possíveis oportunidades”, explica.

No contexto brasileiro, ele reforça que as oportunidades podem surgir em setores menos sensíveis à saída de capitais e naqueles que podem se beneficiar de uma economia global robusta, como commodities e empresas exportadoras. Além disso, setores voltados para o mercado interno, como varejo e construção civil, podem oferecer oportunidades promissoras, beneficiando-se da recuperação econômica local.

Na Bolsa americana, as oportunidades podem estar concentradas em grandes empresas de tecnologia, que impulsionam o rali. No entanto, é crucial considerar o maior risco associado a esses setores, devido às avaliações elevadas e à sensibilidade às taxas de juros. Setores como energia renovável e saúde também podem apresentar oportunidades interessantes, dada a crescente ênfase em sustentabilidade e inovação”, destaca.

 

Os prós e os contras

Felipe Vasconcellos, sócio da Equus Capital, não se mostra tão otimista assim para com o principal índice da bolsa brasileira. “Apesar das boas perspectivas de crescimento e valorização do mercado de ações brasileiro em comparação com outros países do mundo, uma série de fatores têm impedido a concretização desse cenário. Esses fatores podem ser agrupados em três grandes categorias, como os EUA, a China e a tradicional política intervencionista brasileira”, pontua.

E complementa: “em relação aos EUA, os investidores têm aproveitado a última oportunidade para garantir retornos atraentes em títulos do governo antes do inevitável corte das taxas de juros. Além disso, a célebre frase de Warren Buffet, ‘nunca aposte contra a América’, mais uma vez se mostra verdadeira, já que a economia dos EUA tem mostrado sinais de um pouso suave, mantendo o mercado aquecido”, frisa.

Quanto à China, principal parceira comercial do Brasil, ele indica que as incertezas sobre seu crescimento e as potenciais barreiras comerciais adicionais impostas pelos EUA em caso de uma vitória de Trump nas eleições desencorajam maiores apostas em uma aceleração da economia brasileira.”

 

Diversificação é a recomendação

Para Fabio Murad, sócio da Ipê Investimentos, se o rali nos EUA se concretizar, pode haver uma migração de investidores para o mercado americano em busca de retornos mais altos, o que implicaria em uma redução na demanda por ações brasileiras e, consequentemente, em uma queda no Ibovespa. No entanto, se a economia brasileira continuar a se fortalecer, isso poderia ajudar a mitigar os efeitos negativos de um rali nos EUA.

Em qualquer cenário, ele recomenda que os investidores mantenham uma carteira de ações diversificadas, contendo ativos tanto do mercado americano quanto do brasileiro. “Dessa forma, eles poderiam mitigar os riscos e aproveitar as oportunidades em ambos os mercados”, destaca.

O executivo acrescenta que as oportunidades na Bolsa brasileira podem ser encontradas em setores que estão se recuperando da pandemia e que estão bem posicionados para se beneficiar do crescimento econômico. Isso inclui setores como infraestrutura, commodities e tecnologia. “No mercado americano, as oportunidades podem ser encontradas em setores que estão liderando a recuperação econômica, como tecnologia, saúde e energia limpa”, diz.

 

Os juros dos EUA estão sempre no radar

O economista Volnei Eyng, CEO da Multiplike, lembra que o mercado norte-americano já vinha apresentando um certo rali em ações ligadas à tecnologia, e que esse movimento se intensificou nos últimos dias, desde que a autoridade monetária daquele país sinalizou o início do ciclo de corte de juros para junho. “Isso animou os mercados”, ressalta.

O executivo lembra que “existe uma carência no mercado brasileiro de empresas realmente grandes no mercado de tecnologia e isso pode contribuir para que as bolsas dos EUA puxem, inclusive, investidores brasileiros, deixando o mercado financeiro daqui enfraquecido”.

Eyng reforça que o advento da inteligência artificial pode agregar valor em todas as cadeias de negócios em que for implementada e, neste caso, o Brasil está atrasado, pois não tem nenhuma empresa nacional emparelhando nesse setor

Agora, para o investidor que está atrás da pechincha, a bolsa brasileira – que já estava barata – tende a ficar ainda mais barata, principalmente pelo baixo desempenho reportado no fechamento do trimestre passado. “No primeiro trimestre do ano, o principal índice da Bolsa brasileira registrou um saldo negativo. De janeiro a março, o Ibovespa teve uma queda acumulada de 4,5%. Esse período foi caracterizado pela saída de recursos de investidores estrangeiros”, indica.

 

Ibovespa aos 160 mil pontos?

Há quem esteja esperando uma disparada do Ibovespa. Entretanto, o mercado está dividido quanto a isto.

  • Smart House: “Alcançar os 160 mil pontos no Ibovespa é uma possibilidade, contudo, está condicionado a diversos fatores, como o cenário econômico global, políticas internacionais e o fluxo de capital estrangeiro. Avanços favoráveis nos mercados globais e o interesse dos investidores estrangeiros pelo Brasil podem influenciar nesse objetivo, porém é crucial manter expectativas realistas e ponderar as incertezas que permeiam esse cenário.”

  • Ipê Investimentos: A possibilidade de o Ibovespa alcançar os 160 mil pontos está condicionada a diversos fatores, tais como a saúde da economia brasileira, os índices de inflação e as decisões de política monetária do Banco Central. Entretanto, é crucial ressaltar que o mercado de ações é imprevisível e sempre carrega consigo um conjunto de riscos.”
  • Multiplike: “Ibovespa aos 160 mil pontos é um número distante da realidade, conforme indicam os últimos pregões da nossa bolsa, que andou de lado.”