Estratégias de investimento

Investidores LGBTQ+: desigualdade social e legal impacta estratégia, diz UBS

De uma maneira geral, segundo o UBS, uma boa abordagem é pensar na carteira de investimentos em três frentes: curto prazo, longo prazo e aposentadoria

- daniel james via Unsplash
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Por Ana Julia Mezzadri, do Investing.com – A completa igualdade legal e social não existe em nenhum lugar do mundo. Por isso, de acordo com o UBS, os investidores LGBTQ+ devem considerar diferentes aspectos na hora de montar suas estratégias.

“Quando diferentes grupos enfrentam diferentes ambientes social e legal, eles precisam investir de maneira diferente para lidar com os desafios que encaram. Ainda que as principais preocupações dos investidores sejam as mesmas, independente de gênero ou orientação sexual, os investidores LGBTQ+ tendem a ter necessidades e desafios diferentes”, resume o banco.

De uma maneira geral, segundo o UBS, uma boa abordagem é pensar na carteira de investimentos em três frentes: curto prazo, longo prazo e aposentadoria. 

A porção de curto prazo deve ser encarada como uma reserva para arcar com as despesas do dia a dia ou custos inesperados em caso de imprevisto. Nessa categoria, o banco recomenda ativos de alta liquidez, “mesmo que isso signifique aceitar um retorno menor ou até negativo, ter acesso a esses fundos irá ajudá-lo a evitar problemas de liquidez”, afirma o relatório.

A segunda parte deve ser pensada para cobrir despesas esperadas no futuro próximo. Nesse sentido, é possível considerar ativos com taxa de retorno um pouco mais alta, em troca de liquidez. Finalmente, a terceira parcela pode ser investida em ativos com longa duração, para tirar proveito dos juros.

Particularidades do investidor LGBTQ+

Em primeiro lugar, muitos membros da comunidade LGBTQ+ encaram preconceito dentro de suas próprias famílias e, em alguns casos, optam por cortar ou diminuir relações e, assim, deixam de contar com sua família para suporte financeiro. Isso pode significar, por exemplo, dificuldades para abrir negócios próprios, visto que o financiamento familiar é a maior fonte de investimento para novos empreendedores.

Esse, segundo o UBS, é um dos aspectos que devem ser levados em conta por pessoas LGBTQ+ ao construir suas estratégias de investimento, especialmente no que diz respeito ao curto prazo – uma “reserva de emergência” para cobrir os custos do dia a dia em caso de imprevistos.

Outro fator importante é a segurança de emprego, visto que, em muitos países ao redor do mundo, mesmo onde há proteção legal, pessoas LGBTQ+ podem ter sua estabilidade no emprego prejudicada pelo preconceito social. Até mesmo a necessidade de esconder sua orientação sexual no ambiente profissional pode trazer danos, como uma performance abaixo da esperada devido ao estresse.

Financeiramente, uma maior rotatividade de emprego pode significar menos contribuições à aposentadoria por parte do empregador ou até um número maior de contas de previdência, o que torna sua gestão mais difícil. Por isso, a recomendação do UBS é uma gestão para tirar proveito de cada fundo de aposentadoria e construir uma estratégia.

Um terceiro aspecto a ser considerado é o fato de grande parte da comunidade LGBTQ+, especialmente os jovens adultos, optar pela vida em grandes cidades – que tende a ser significativamente mais cara do que a vida no interior. Assim, esses jovens adultos podem ter mais dificuldade em construir reservas e, por isso, começar sua jornada de investimentos em desvantagem.

Além disso, devido a uma tendência maior de se realocar, a propriedade de imóveis entre a comunidade LGBTQ+ tende a ser menor do que a média da população. Ainda que o aluguel possa trazer vantagens, como uma maior flexibilidade, há uma série de pontos negativos, como uma maior dificuldade no acesso a crédito de baixo custo.

“Por causa desses desafios, é ainda mais importante desenvolver um planejamento financeiro holístico e construir uma estratégia de liquidez”, aponta o banco. Além disso, para investidores que não pretendem adquirir imóveis, é necessário considerar custos maiores na aposentadoria.

Para além dos fatores mencionados, também os gastos com saúde tendem a ter características diferentes para a comunidade LGBTQ+. Pessoas trans, por exemplo, podem ter de arcar com tratamentos ou até viagens para encontrar profissionais especializados. Pessoas LGBTQ+ que queiram ter filhos também podem ter de custear tratamentos.

Além disso, o preconceito, bullying ou dificuldades de aceitação podem acarretar em problemas em relação à saúde mental, o que frequentemente traz consigo custos consideráveis de tratamento. Outro fator a ser considerado é que, em locais em que não há igualdade de casamento, pode não ser possível estender os benefícios de plano de saúde para parceiros, o que representa um custo adicional para as famílias LGBTQ+.

Por isso, a recomendação do UBS é que investidores LGBTQ+ antecipem ou planejem despesas de saúde que provavelmente irão encontrar ao longo da vida e considerem a melhor maneira de arcar com elas – seja utilizando a saúde pública, planos de saúde ou pagamentos particulares.

A aposentadoria de pessoas LGBTQ+ também pode ter particularidades, principalmente para casais. Isso porque muitos países não oferecem ou dificultam a transferência de ativos financeiros de um membro do casal para o outro em caso de morte. Por isso, pode ser interessante pensar em instrumentos como testamentos e procurações.

Finalmente, cada vez mais os investidores, de maneira geral, buscam investimentos que se encaixem em seus valores. No caso da comunidade LGBTQ+, investidores podem tomar decisões financeiras em torno de empresas que busquem igualdade, diversidade e inclusão. 

Isso, segundo o banco, pode ser feito de diferentes maneiras: alguns investidores podem optar por excluir investimentos em companhias que têm históricos ruins em termos de direitos LGBTQ+, enquanto outros podem optar por selecionar companhias cujas características ESG sejam alinhadas com seus valores. Essa segunda abordagem, da inclusão, tende a ser mais eficiente tanto em termos financeiros quanto sociais, na visão do banco.