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Mercado vê risco para Petrobras e contas públicas com falas de Bolsonaro

- Arquivo/Agência Brasil
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Por Ana Carolina Siedschlag, da Investing.com – Os preços das ações da Petrobras (SA:PETR4) derretiam nesta sexta-feira (19) após o presidente Jair Bolsonaro voltar a afirmar que “teremos mudanças, sim,” na estatal após o anúncio de reajuste de preços dos combustíveis na véspera, seguindo a alta internacional do petróleo.

Perto das 15h37, os papéis preferenciais da petroleira caíam 6,76%, a R$27,29, enquanto os ordinários (SA:PETR3) recuavam 7,92%, a R$ 27,10, com investidores reagindo ao claro aumento do risco de interferência política na estatal.

“Potencial a empresa tem, o valuation está ótimo, mas esse risco político é muito ruim”, diz Julia Monteiro, analista da MyCap. “Uma ameaça de interferência direta numa empresa com ações negociadas em bolsa é inaceitável. Já houve isso, conseguiu se livrar, mas agora está de volta”.

Durante viagem a Sertânia, em Pernambuco, para inauguração de uma obra, Bolsonaro afirmou que "jamais" vai interferir na estatal, mas reclamou que "o povo não pode ser surpreendido" com os reajustes nos combustíveis. O receio do mercado é que a pressão, constante agora há pelo menos dois meses, ocasione a saída do presidente Roberto Castello Branco.

Na terça-feira (23), o Conselho da Petrobras deve se reunir, em encontro ordinário e pré-agendado, para a votação da recondução de Castello Branco à presidência da estatal pelos próximos dois anos. Segundo duas fontes ouvidas pelo jornal Valor Econômico, o grupo estaria do lado da atual administração, mesmo com as críticas do Planalto.

Preços ainda defasados

Ontem, a empresa anunciou um aumento de 10% nos preços da gasolina e de 15% nos preços do diesel, correndo atrás do forte avanço do petróleo no exterior. Para a XP Investimentos, em relatório, os níveis atuais de preços ainda não estão em um patamar que permita que operadores independentes possam importar combustíveis com margem de lucro.

A corretora vê riscos para os resultados futuros da Petrobras tanto em termos de menores margens de refino, como também que a companhia tenha que realizar importações a prejuízo para manter o mercado local abastecido.

Já a Ativa Investimentos apontou que ainda existe espaço potencial de nova elevação de preço da gasolina no curto prazo, de mais de 5%, por conta da pressão dos preços do petróleo.

Contas públicas ameaçadas

Em reação aos reajustes, Bolsonaro disse que iria cortar todos os impostos federais, PIS e Cofins e Cide, que incidem sobre gás e diesel, abrindo outro precedente de risco: o das contas públicas.

“Não tem Orçamento votado, tem auxílio emergencial no radar, e agora se fala em renúncia fiscal. Vai aumentar algum outro tributo? Uma contrapartida precisará ser feita para zerar impostos federais, se não vai bater na Lei de Responsabilidade Fiscal”, alerta Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos.

A Lei de Responsabilidade Fiscal, ou LRF, exige que o governo detalhe medidas de compensação ao dar isenção de tributos, ponto que Bolsonaro pede uma flexibilização.

Para o Goldman Sachs, em relatório, o corte seria benéfico para a Petrobras, já que mitigaria o risco de interferência política ao aliviar os gastos do consumidor final com o aumento de preços nas refinarias. Ainda assim, reconhecem que o noticiário não é positivo para os preços dos papéis da petroleira.