Copo meio cheio ou meio vazio?

O que mexeu com o Ibovespa em setembro? Índice derrapa no mês, mas avança mais de 6% no 3º trimestre

Desempenho no Ibovespa foi fruto de uma combinação de fatores que impactaram o mercado financeiro

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O terceiro trimestre de 2024, que abrange os meses de julho a setembro, revelou-se bastante positivo para o Ibovespa, o principal índice da B3, a Bolsa de Valores brasileira.

Ao longo do período, a carteira teórica avançou 6%, o que permitiu que, em alguns momentos, o índice revertesse prejuízos acumulados no ano.

Este movimento mostra uma recuperação considerável em relação aos resultados do segundo trimestre, quando o índice havia registrado uma queda de 7,66%.

Em que cenário ocorreu essa recuperação do Ibovespa?

Este desempenho no Ibovespa foi fruto de uma combinação de fatores que impactaram o mercado financeiro.

Um dos principais eventos foi o tão aguardado corte de juros nos Estados Unidos, que influenciou o fluxo de capital internacional.

Além disso, a temporada de balanços financeiros revelou resultados positivos para diversas empresas locais e fez a confiança dos investidores crescer.

A queda do dólar e o retorno dos investimentos estrangeiros foram outras variáveis que contribuíram para essa recuperação.

Estímulos da China e a reação entre as ações ligadas a commodities

No final de setembro, novos estímulos econômicos na China ajudaram a reanimar o setor de commodities, especialmente as metálicas.

A Vale (VALE3), uma das principais empresas do Brasil e produtora de minério de ferro, viu sua situação se transformar.

O minério de ferro, produto de exportação crucial para a companhia, registrou um aumento superior a 10% em um único dia, após uma série de sessões positivas.

Esse impulso foi impulsionado pelo anúncio de medidas para apoiar o mercado imobiliário chinês, que enfrenta uma crise significativa, mas que simboliza uma fonte importante de demanda para o metal.

Mas o Ibovespa caiu em setembro…

Apesar do desempenho positivo no trimestre, o Ibovespa enfrentou dificuldades no último pregão de setembro, e recuou 0,6% nesta segunda-feira (30).

Com isso, consolidou uma queda de 3,08% ao longo do mês.

O índice fechou aos 131.816 pontos.

No acumulado do ano, a queda chega a 1,77%, embora isso represente uma melhoria em comparação ao prejuízo do trimestre anterior.

Investimentos estrangeiros estão de volta à Bolsa?

O cenário econômico internacional mudou, o que levou investidores estrangeiros a reavaliarem seus portfólios.

Com a diminuição das taxas de juros nos EUA, a renda fixa, que anteriormente atraía muitos investimentos, perdeu parte de seu apelo, o que fez com que os investidores buscassem oportunidades em ativos mais baratos em mercados emergentes como o Brasil.

A saída de capital estrangeiro da Bolsa brasileira caiu de R$ 40,0 bilhões em junho para R$ 27,0 bilhões em setembro.

O dólar se valorizou em setembro

A valorização do real foi outro fator relevante.

O dólar, que ainda registra uma alta de 12,25% no ano, recuou 3,30% em setembro, e encerrou o mês a R$ 5,44.

A maior disponibilidade de dólares no mercado contribuiu para a queda da moeda americana, o que a tornou menos escassa.

Ruídos políticos e temores fiscais se intensificaram no terceiro trimestre

De julho a setembro, os temores se multiplicaram e os desafios cresceram.

O ambiente político e as discussões em torno da política fiscal brasileira geraram incertezas, o que fez com que o país se tornasse um local mais arriscado para negócios.

Negociações em torno da Reforma Tributária, da reoneração gradual da folha de pagamentos de dezessete setores e de pequenos municípios e sinalizações políticas em favor da ampliação de programas sociais como o Auxílio-Gás e o Pé-de-Meia preocuparam os investidores.

Por fim, a desancoragem das projeções de inflação contribuiu para a percepção negativa dos investidores, interrompendo a recuperação do real.

Boletim Focus registrou semana após semana os sinais de preocupação com a inflação

O Boletim Focus, uma importante ferramenta de previsões econômicas produzida pelo Banco Central (BC), indicou, semana após semana, um aumento nas expectativas de inflação, um dólar mais forte e uma Selic (taxa de juros) em alta.

Em resposta a esses sinais, o Banco Central do Brasil (BCB) decidiu iniciar um novo ciclo de aperto monetário, elevou a taxa básica de juros Selic de 10,50% para 10,75% na última reunião do Comitê de Política Monetária (COPOM) em 18 de setembro.

Repercussão do aumento da Selic

A decisão do Banco Central foi inicialmente bem recebida pelo mercado, que viu os juros, que já tinham apresentado prêmios crescentes, arrefecerem.

Contudo, a percepção de que novos aumentos de juros estavam por vir trouxe preocupações adicionais.

Entre os riscos associados a essa alta de juros estão o aumento da inadimplência e a competição com a renda fixa, que podem afastar investidores da Bolsa, além de impactar as vendas e aumentar a dívida das empresas.

A Taxa de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025, que começou o ano em 10,05%, saltou para 11,00% ao final do trimestre.

O mesmo padrão foi observado em prazos mais longos, em reflexo às preocupações com o risco fiscal e a possibilidade de calote do governo.