Entrevista

"Para aplicar em Bitcoin, investidores devem ter pensamento de longo prazo", diz Broker da Blue3

Segundo Humberto Virgilio, a volatilidade tem atraído desavisados e especuladores para o mercado de criptomoedas; mas que enriqueceram com esse tipo de ativo aqueles que compraram e armazenaram por muito tempo

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“Criptomoedas não foram criadas como investimentos”. Assim Humberto Virgilio, broker da mesa de renda variável da Blue3, recentemente eleito o melhor escritório de investimentos do Brasil pela XP, iniciou a nossa entrevista.

Segundo ele, o que hoje são os “ativos da moda” na verdade foram criados como remuneração para que a tecnologia “blockchain” pudesse ser viabilizada. 

Hoje, porém, elas ganharam status de investimento e já fazem parte até do mercado de capitais tradicional. Além de corretoras independentes e especializadas, pode-se negociar criptomoedas por meio de grandes empresas de investimento.

No dia 18 de agosto estreou na B3, a bolsa de valores brasileira, um ETF (fundo de índice internacional) com exposição de 100% em Ethereum, uma das maiores criptomoedas atuais.

O produto espelha o Hashdex Nasdaq Ethereum ETF, fundo internacional indexado ao índice de criptomoedas da bolsa eletrônica americana. Além do ETHE11, a bolsa brasileira conta atualmente com outros quatro fundos de criptomoedas.

Não há como negar que elas estão em alta, mas as criptos são para todo mundo? Vale a pena investir? E onde?

A SpaceMoney perguntou tudo isso para o Humberto Virgilio. Confira!

Antes de mais nada, como a tecnologia Blockchain funciona?  

O sistema é revolucionário por “dispensar” intermediários em transações financeiras, mas sem abrir mão da segurança. O que garante que tudo será contabilizado corretamente é que os “mineradores” utilizam computadores super potentes para resolver fórmulas matemáticas que criam blocos de transações. Por isso o nome blockchain – ou “corrente de blocos”, em inglês.

Milhões de computadores ligados à rede contam com os mesmos registros e disputam quem consegue resolver mais rápido a fórmula e criar o novo bloco. Aquele que vence, é remunerado em moedas, como Bitcoin, Ethereum ou outras.

E o fato de todos os computadores terem os mesmos registros é o que torna o sistema à prova de fraudes. Ou seja: a real cereja do bolo é a tecnologia blockchain e não as criptomoedas, que na verdade são o “pagamento” que os mineradores recebem pelo seu esforço. 

Mas hoje em dia não é mais assim…

Sim, atualmente, a realidade é outra. Com picos de alta valorização (e tombos monumentais) nos últimos anos, as criptos ficaram conhecidas pela sua volatilidade e ganharam status de investimento, principalmente para especuladores.

Por meio delas nasceram bilionários — a maioria, anônimos — e essas histórias fantásticas aguçam diariamente a ambição de investidores, principalmente os iniciantes, que pensam em enriquecer do dia para a noite. Muitos, porém, acabam com grandes prejuízos. 

Vale a pena investir em criptomoedas?

O mercado de criptoativos não tem relação com a economia real ou o mercado financeiro. Por exemplo: se a inflação ou a taxa de juros sobem ou as exportações para a China caem, não necessariamente o preço do Bitcoin vai subir ou descer.

Além disso, essas moedas são finitas, isto é, em algum momento pararão de emitir novos Bitcoins e a escassez será um fator de valorização e estabilidade para as criptos, como historicamente aconteceu com o ouro.

Por esses motivos, hoje em dia, grandes investidores globais estão escolhendo esses ativos como forma de hedge, isto é, como proteção para as suas carteiras. No passado, eles compravam ouro, agora já estão considerando aplicar em Bitcoin.

O objetivo deles não é a rentabilidade em si, mas em contar com um ativo que esteja protegido das flutuações das economias globais. Então faz sentido, sim, pensar nas criptomoedas como investimentos, mas reservando só uma pequena parte da carteira para esse tipo de ativo, entre 5% e 7%.

É um ativo interessante para todos os tipos de investidores?

Para aqueles que têm estômago. Como atualmente ainda são moedas sem valor agregado, que não são aceitas como pagamento quase em lugar nenhum, seu valor flutua muito.

Isso atrai os especuladores, mas no caso de investidores com perfil conservador, acostumados com a renda fixa, o mercado de cripto não é muito para eles.

Mas a volatilidade sempre será grande entre as criptos?

Isso dependerá de cada moeda. A Ethereum, por exemplo, está passando por uma atualização que acabará com a “prova de trabalho”, maneira como a blockchain funciona hoje.

O modelo “prova de participação”, que deve ser adotado a partir de 2022, dispensa os mineradores, porque, para o computador ser aceito para resolver um dos problemas, ele tem que “provar” para a rede que tem criptomoedas. Ou seja: vai começar a ser interessante manter as criptos na carteira, o que deve criar maior estabilidade de preço para esses ativos.

Existe forma segura de entrar nesse tipo de investimento?

Não se pode garantir rentabilidade, é claro. No começo de 2021, por exemplo, o Bitcoin se valorizou em quase 1.000%, depois caiu 80%. Para quem entrou no começo, a queda não foi muito sentida, mas para quem entrou logo antes dela desabar, foi um grande prejuízo.

Então tem que analisar a hora de entrar, quanto vai investir e ter cabeça de longo prazo. Quem ganhou dinheiro com cripto foi porque entrou e armazenou por bastante tempo.

Sob o ponto de vista da segurança, o importante é ficar de olho na idoneidade da empresa que está negociando para não cair em golpes, como as pirâmides que vimos recentemente.

Hoje, empresas de credibilidade, como a própria XP, estão no mercado com produtos voltados para esse mercado e há diferentes fundos voltados para criptomoedas listados na B3, onde a CVM está de olho.