Ministro da Economia

Silêncio de Guedes sobre intervenção na Petrobras incomoda, dizem analistas

- Marcelo Camargo/Agência Brasil
- Marcelo Camargo/Agência Brasil

Por Ana Carolina Siedschlag, da Investing.com – A ausência de comentários do ministro da Economia, Paulo Guedes, sobre a interferência do governo na administração da Petrobras (SA:PETR4) é um dos pontos que mais tem incomodado o mercado desde o anúncio da mudança no comando da estatal, na última sexta-feira (19), disseram analistas ao Investing.com.

Estatais despencam com risco de intervenção política após Petrobras

Para eles, o anúncio da indicação do general Joaquim Silva e Luna, no lugar de Roberto Castello Branco, e as declarações do presidente Jair Bolsonaro sobre possíveis interferências nas tarifas de energia e no comando de outras estatais atestam que a agenda liberal prometida pelo governo parece ter sido definitivamente deixada de lado.

“Se [Bolsonaro] não estava sendo liberal, pelo menos não estava sendo populista. Mas agora inverteu a mão. Guedes não deu nenhum tipo de declaração, não tentou apaziguar os ânimos. Fica difícil cravar quando isso pode acabar”, diz Luis Sale, estrategista-chefe da Guide Investimentos.

Para ele, a reação do mercado desta segunda-feira (22) representa uma ruptura na confiança que ainda era depositada na equipe do Ministério da Economia. Perto das 13h38, o Ibovespa recuava 4,94%, a 112.575 pontos, enquanto o dólar avançava 1,84%, a R$ 5,483.

Para João Vitor Freitas, analista da Toro Investimentos, o receio é que o governo tome um viés similar ao do governo da ex-presidente Dilma Rousseff, muito criticada durante a gestão pela interferência nos mercados de energia e de petróleo.

“Bolsonaro soltou falas bem provocativas e o silêncio de Guedes acaba incomodando bastante. Esse viés completamente populista dá margem para medidas parecidas com o governo Dilma, de até segurar tarifa de energia”, aponta.

Durante o final de semana, Bolsonaro prometeu, em comentário sobre a saída de Castello Branco a apoiadores, mais mudanças na próxima semana e declarou que "vamos meter o dedo na energia elétrica, que é outro problema também."

“Do jeito que o governo vem vindo, até que as intervenções demoraram”, aponta Eduardo Cavalheiro, gestor da Rio Verde Investimentos. Para ele, a mudança de postura parece ser geral, não só em relação às estatais. “Uma intervenção no mercado de petróleo, por exemplo, desorganiza todo o setor de açúcar e álcool. Isso tem repercussões no emprego e na inflação”, aponta.

Os papéis das estatais lideravam as quedas da bolsa de hoje, com quedas de 20% para as ações da Petrobras e de 11% e 8% para o Banco do Brasil (SA:BBAS3) e a Eletrobras (SA:ELET3), respectivamente.