Por Noreen Burke e Jessica Bahia Melo, da Investing.com – As preocupações com as tensões entre Rússia e Ucrânia, juntamente com a incerteza sobre a agressividade com que o Federal Reserve irá elevar as taxas de juros, parecem prontas para dominar os ânimos do mercado na semana que vem.
A ata do Fed de quarta-feira pode dar uma ideia da rapidez com que os responsáveis pelo banco querem agir, enquanto as aparições de vários dos seus dirigentes também serão analisadas em busca de pistas.
O calendário de dados dos EUA traz os números de preços ao produtor de janeiro, que serão acompanhados de perto depois que os dados da semana passada mostraram que os preços ao consumidor atingiram seu ponto mais elevado em 40 anos no mês passado.
Enquanto isso, a temporada de resultados está terminando, mas não antes de uma última enxurrada de divulgações nos EUA.
No Brasil, o Conselho Monetário Nacional se reúne nesta semana, após falas do presidente do Banco Central de que o pico da inflação ainda estaria por vir.
Além disso, o Reino Unido vai anunciar uma série de dados econômicos que devem manter o Banco da Inglaterra nos trilhos para mais aumentos dos juros.
Aqui está o que você precisa saber para começar a sua semana:
1. Tensões geopolíticas
Os três principais índices de Wall Street fecharam em queda acentuada na sexta-feira, após a Casa Branca alertar que um um ataque russo à Ucrânia poderia ser iniciado a qualquer momento.
Quando as ações sofreram o golpe, os preços de títulos do Tesouro, dólar e outros ativos considerados seguros, como o ouro, subiram.
Os preços do petróleo também avançaram, com a perspectiva de sanções sobre a Rússia, um grande produtor da commodity, o que aumentou receios sobre a já reduzida oferta global.
Alguns analistas acreditam que a disparada dos preços do petróleo poderia exacerbar a inflação já elevada, e aumentar a pressão sobre o Fed para elevar as taxas de juros de forma mais agressiva.
"Ao pressionar os preços da energia ainda mais para cima, uma invasão russa provavelmente exacerbaria a inflação e redobraria a pressão sobre o Fed para elevar as taxas de juros", afirmou Bill Adams, economista-chefe do Banco Comerica, em relatório citado pela Reuters.
"Do ponto de vista do Fed, os efeitos inflacionários de uma invasão russa e os preços de energia mais altos provavelmente seriam superiores às implicações negativas do choque para o crescimento global", afirmou.
2. Ata e falas do Fed
Como os mercados já precificaram a forte hipótese de que o Fed irá elevar os juros em meio ponto percentual na sua próxima reunião de março, a ata da reunião de janeiro do Fed, que deve ser publicada na quarta-feira, vai ser analisada em busca de qualquer indício quanto ao tamanho da movimentação que os dirigentes estão contemplando.
No mês passado, o presidente do Fed, Jerome Powell, apontou para um início em março, e disse que havia "bastante espaço" para aumentar as taxas de juros sem ameaçar a recuperação do mercado de trabalho.
Na sexta-feira, o Goldman Sachs disse esperar agora sete aumentos de 0,25 ponto percentual na taxa de juros este ano – mais que sua previsão anterior de cinco aumentos, após atualizar sua projeção na sequência dos dados de IPC dos EUA de quinta-feira.
Vários dirigentes do Fed devem fazer aparições esta semana, que também serão observadas com atenção.
O Presidente do Fed de St. Louis, Bullard, e a Presidente do Fed de Cleveland, Loretta Mester, estão agendados para falar na quinta-feira.
Na sexta-feira, será a vez do Governador do Fed, Lael Brainard, assim como do Presidente do Fed de Novo York, John Williams, do Governador do Fed Christopher Waller e do Presidente do Fed de Chicago, Charles Evans.
Na última quinta-feira, Bullard disse, à luz dos mais recentes números do IPC, que deseja agora um aumento de um ponto percentual completo nos juros ao longo das três próximas reuniões do Fed.
3. Dados econômicos e resultados dos EUA
Os mercados receberão uma atualização extra sobre o status da inflação com a publicação, na terça-feira, dos valores da inflação de preços ao produtor, que deverão continuar altos.
A disparada da inflação fez o sentimento do consumidor se deteriorar, de modo que os dados de quarta-feira sobre as vendas do varejo também estarão no centro das atenções esta semana.
Espera-se que as vendas do varejo tenham subido 1,8% no mês passado, alavancadas pelo aumento das vendas de automóveis.
O calendário econômico inclui relatórios sobre produção industrial, pedidos iniciais de auxílio-desemprego, vendas de imóveis residenciais existentes, licenças de construção e início de habitação.
A temporada de resultados chega ao fim, mas esta semana ainda trará uma grande torrente de resultados de destaque.
A Airbnb Inc (NASDAQ:ABNB) (SA:AIRB34) divulga seus resultados na terça-feira, seguida pela Nvidia Corp (NASDAQ:NVDA) (SA:NVDC34), gigante de semicondutores, e a Cisco Systems (NASDAQ:CSCO) (SA:CSCO34), ambas com anúncios programados para depois do fechamento do pregão da quarta-feira.
O Walmart (NYSE:WMT) (SA:WALM34), conhecido por seus preços baixos diários, faz seu anúncio na quinta-feira, e está mais bem posicionado que outros varejistas para suportar as pressões dos preços em alta.
A pandemia desencadeou uma inflação em toda a cadeia de abastecimento, desde mão de obra até matérias-primas, e obrigou as empresas a repassarem os preços mais altos para os consumidores.
No entanto, muitas empresas ainda não conseguiram compensar totalmente o impacto, e seus lucros foram atingidos.
A Deere (NYSE:DE), maior fabricante de equipamentos agrícolas do mundo, divulga seus resultados na sexta-feira.
4. Dados do Reino Unido
Esta vai ser uma semana cheia no calendário econômico do Reino Unido, com os últimos dados sobre o emprego na terça-feira, a inflação na quarta-feira e as vendas do varejo na sexta-feira.
O Banco da Inglaterra acaba de dar início à sua primeira sequência de aumento dos juros desde 2004 em meio à alta da inflação, que espera atingir um pico acima dos 7%.
Os mercados precificam atualmente mais 130 pontos-base em aumentos antes do final do ano.
Espera-se que o relatório sobre o emprego mostre uma taxa de desemprego inalterada na comparação com o mês passado, a 4,1%, enquanto a taxa anual de inflação deve se manter estável em 5,4%.
Há expectativas de que as vendas do varejo se recuperem da queda de 3,7% em dezembro, mas a inflação, o aumento das contas de energia, os juros mais elevados e aumentos de impostos irão afetar as perspectivas.
5. Inflação e balanços no Brasil
A semana continua marcada por dados econômicos no Brasil, após a fala do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, de que o pico da inflação iria ocorrer entre abril e maio, devido ao aumento de preços no setor agrícola e petróleo.
Na segunda-feira, os economistas consultados pelo Banco Central trazem suas estimativas de inflação, PIB, crescimento e juros no Boletim Focus, às 8h25.
Na terça-feira, vai ser a vez do IGP-10, índice de inflação mensal de fevereiro, às 8h.
Na quarta, às 14h30, vai ser divulgado o Fluxo Cambial Estrangeiro.
Na quinta-feira, a partir das 9h, ocorre reunião do Conselho Monetário Nacional.
Foco também na divulgação de resultados do quarto trimestre.
Companhias como Banco do Brasil (SA:BBAS3), WEG (SA:WEGE3), Itausa (SA:ITSA4), Engie Brasil Energia (SA:EGIE3), Caixa Seguridade (SA:CXSE3) e Taesa (SA:TAEE4) são algumas a apresentar os balanços aos acionistas e ao mercado.