Entrevista

"A inclusão social vem de uma inclusão digital", diz Tânia Cosentino, CEO da Microsoft Brasil

Executiva fala sobre oportunidades aos jovens, redução da desigualdade social e agenda ESG nas empresas

Tânia Cosentino, CEO da Microsoft Brasil - Divulgação
Tânia Cosentino, CEO da Microsoft Brasil - Divulgação

Por Agência EY – Em um país com altos índices de desemprego, apenas no setor de TI há cerca de 500 mil vagas abertas e que não conseguem ser preenchidas. O motivo? Falta de mão de obra qualificada.

“Formamos quase a metade da mão de obra que o mercado (de TI) necessita. A demanda por esse tipo de profissional é gigantesca”, explica Tânia Cosentino, presidente da Microsoft do Brasil.

Segundo ela, a redução da desigualdade social no país apenas será possível com investimentos maciços em educação e emprego.   

Engenheira elétrica com cursos de especialização em administração, antes da Microsoft ela atuou em empresas como a multinacional francesa Schneider Electric.

Nesta segunda parte da entrevista exclusiva à Agência EY, Tânia fala sobre os jovens, mercado de trabalho e inclusão digital. “A inclusão social e a redução das desigualdades vêm de uma inclusão digital”, afirma a executiva. 

O consumidor, em todas as suas esferas, tende a cobrar mais que as empresas tenham uma agenda e ações ESG? 

O consumidor está muito mais atento. Estamos prestando mais atenção a um tema chamado finitude nesta pandemia. A morte ficou mais próxima de todo mundo. Temos de ressaltar que há um bilhão de pessoas no mundo que vivem abaixo da linha da pobreza e estamos vendo o Brasil empobrecendo.

Ser uma empresa responsável custa dinheiro e o meu produto vai ser mais caro do que aquela empresa que não tem boas práticas de governança e de meio ambiente.

Mas, para haver essa consciência e escolha, o consumidor tem de ter poder de compra e educação. Temos de investir pesado em educação de uma forma geral, para que as pessoas tenham essa capacidade de análise, e investir no crescimento do país para eliminar as desigualdades. 

A senhora comanda uma empresa de tecnologia em um país onde o acesso à tecnologia ainda é considerado baixo por parte da população, em especial nas camadas mais pobres. Como reverter esse quadro e promover a inclusão digital? 

Há o desafio enorme de trabalhar a inclusão digital por meio da educação. Vivemos em um mundo cheio de contradições, com alto índice de desemprego, um contingente enorme de brasileiros que já não busca mais trabalho formal e, ao mesmo tempo, um número gigante de vagas abertas no mercado de TI.

Temos quase meio milhão de posições abertas. Formamos quase a metade da mão de obra que o mercado necessita. A demanda por esse tipo de profissional é gigantesca.  

Como equilibrar isso?   

A grande pergunta é: como a gente reduz a desigualdade do Brasil? Levando educação e emprego. Nós lançamos, desde o início da pandemia, uma série de projetos embaixo de uma plataforma que a gente chama de Microsoft Mais Brasil.

Há um pilar de capacitação profissional, emprego e empreendedorismo muito forte. Fizemos uma parceria com o Ministério da Economia e colocamos os nossos cursos dentro da Escola do Trabalhador 4.0.

Qualquer pessoa do Brasil pode fazer um curso, desde letramento digital, cientista de dados, passando por inteligência artificial, programação em diferentes códigos.

Você consegue levar educação, qualificação e capacitação profissional para um grupo que está hoje desamparado, mas em uma área de altíssima demanda. Também queremos conectar esses profissionais com postos de trabalho.

Com a adoção de inteligência artificial, teremos um impacto muito grande no mundo do trabalho. Profissões serão criadas, mas de alta qualificação. As posições de baixa qualificação serão substituídas pela máquina.

Por isso, não podemos apenas trabalhar esses desempregados e desalentados. É necessáriorequalificar milhões de profissionais que estão no mercado de trabalho hoje, mas que talvez não tenham emprego nos próximos cinco ou dez anos. 

A inclusão digital também é uma maneira de promover a inclusão social, levando-se em consideração que, como a você disse em certa ocasião, o analfabeto do futuro é o analfabeto digital? 

A inclusão social e a redução das desigualdades vêm de uma inclusão digital. Toda empresa é uma empresa de tecnologia. Qualquer negócio, de qualquer pessoa, para se conectar com seus clientes, vai precisar de uma plataforma ou de um meio digital, pois isso faz toda a diferença.

Nós encaramos como obrigação contribuir para essa qualificação profissional. 

Você conseguiu entrar na Microsoft por meio do Linkedin. Aos profissionais mais jovens, que hoje sofrem para conseguir um emprego, qual o seu recado? 

Em primeiro lugar: busque uma formação, pesquise o mercado e veja onde realmente estão as profissões do futuro. Busque uma formação que te leve para essas profissões e que, ao mesmo tempo, te conecte com ela. Nós temos de fazer aquilo que gostamos. Logo, busque o que você gosta fazer. Estude sempre.

Quando fiz uma das entrevistas para entrar na Microsoft, um executivo me perguntou qual era o meu apetite para aprender coisas novas. Ele disse: você tem 35 anos de carreira, está há quase 20 anos na Schneider, você está bem. Por que sairia para aprender coisas novas? Eu tenho esse apetite, essa motivação.  

Os jovens são os mais impactados pelo desemprego. Mas acreditem em vocês mesmos e não desistam nunca porque há muitas oportunidades. Em caso de dúvida, venha para a área de TI porque você pode ser um programador, um cientista de dados ou a pessoa que vai transformar a experiência de um cliente. Também pode ser um executivo. Existe um espaço gigantesco para a gente desenvolver carreira nessa área.

Confira a primeira parte da entrevista aqui.