O Investimento Socialmente Responsável (SRI- Social Responsible Investment) envolve o investimento em empresas que promovem temas éticos e socialmente conscientes, incluindo sustentabilidade ambiental, justiça social e ética corporativa, e lutam contra a discriminação social, racial e de gênero.
Um investimento é considerado socialmente responsável conforme a natureza do negócio que a empresa realiza e, principalmente, como a empresa se posiciona e atua em relação a temas tais como justiça social, sustentabilidade ambiental e energia alternativa/esforços de tecnologia limpa.
Investimentos socialmente responsáveis estão se tornando uma prática amplamente seguida, já que existem dezenas de novos fundos e veículos de investimento disponíveis para investidores de varejo e investidores institucionais especializados no tema. Segundo pesquisa da Global Sustainable Investment Review de dezembro de 2018, de um total de US$ 92 trilhões de ativos sob gestão profissional, 33% já são investimentos responsáveis. Esses investimentos cresceram nos últimos seis anos a uma taxa anual média composta de 15% ao ano, enquanto o mercado de ativos sob gestão profissional apresentou taxa de crescimento de 2% ao ano no mesmo período.
A evolução do investimento socialmente responsável
Investimentos socialmente responsáveis tendem a seguir o clima político e social da época. Na década de 1960, os investidores estavam preocupados principalmente em contribuir para causas como os direitos das mulheres, os direitos civis e o movimento antiguerra.
Como a conscientização cresceu nos últimos anos em relação ao aquecimento global e às mudanças climáticas, o investimento socialmente responsável avançou para empresas que impactam positivamente o meio ambiente, reduzindo as emissões ou investindo em fontes de energia sustentáveis ou limpas. Consequentemente, seus investidores evitam setores como a mineração de carvão, devido ao impacto ambiental negativo de suas práticas comerciais.
Os fundos de investimento socialmente responsáveis deixaram de ser produtos que investem apenas em empresas que não estão envolvidas na produção de armas, pornografia, jogos de azar, tabaco ou em um poluidor significativo através de combustíveis fósseis para se tornarem uma estratégia de gestores de recursos que passou a integrar as questões ESG – Enviromental, Social and Governance no seu processo decisório de investimentos. Essa integração ESG pode se dar desde a aplicação de parâmetros qualitativos até a quantificação desses itens e a comparação com o valor de mercado das companhias investidas, para mensurar os possíveis riscos e oportunidades que o tema pode trazer.
Com os princípios ambientais, sociais e de governança (ESG) se tornando uma parte mais proeminente do léxico cotidiano de investimentos, os investidores institucionais estão explorando tanto o antigo critério quanto o novo critério que definem o ESG. À medida que o investimento socialmente responsável (SRI) evolui, os consultores e investidores precisam se manter atualizados sobre essa paisagem em mutação.
Ampliando o espectro do E
Existem outros elementos para o “E” no ESG que os investidores podem e devem considerar. Fatores ambientais incluem a contribuição de uma empresa ou governo para as mudanças climáticas por meio de emissões de gases de efeito estufa, juntamente com a gestão de resíduos e de eficiência energética. Diante dos novos esforços para combater o aquecimento global, a gestão de emissões de gases de efeito estufa e os investimentos para a redução dos mesmos se tornaram mais importantes.
O “E” é um tópico amplo e, embora os problemas relacionados a combustíveis fósseis sejam uma das considerações mais comuns, existe uma variedade de outras métricas ambientais de interesse que vão desde a gestão consciente do uso da água, gestão de resíduos e efluentes e programas de energia renovável, além da existência de um programa específico de política ambiental.
Outra questão a ser considerada na atual paisagem de SRI em evolução é a informação que as empresas disponibilizam aos investidores. Por exemplo, quase dois terços dos membros do S&P500 informam aos investidores como eles estão reduzindo suas emissões de carbono, mas menos de 15% destacam seus investimentos em fontes de energia alternativas. Por ser um tema relativamente novo, principalmente nos mercados emergentes, muitas vezes é confundido com filantropia. Frequentemente, vemos nos Relatórios de Sustentabilidade ou mesmo nos Relatórios Anuais a descrição de ações filantrópicas, que nada tem a ver com investimento socialmente responsável.
O investidor responsável quer saber das empresas investidas qual a estratégia por ela adotada para lidar com esses temas. O que vem sendo feito, de maneira concreta, para reduzir as emissões de gases de efeito estufa? A empresa possui metas de redução e as mesmas são divulgadas e medidas? Qual o investimento feito pela empresa para atingir essas metas? Como a empresa faz o manejo de seus resíduos? A empresa está preparada para a logística reversa? Como a empresa trata seus efluentes e como os devolve à natureza?
Solidificando o “S” no ESG
A variável social na equação ESG é facilmente definida, mas também muda.
Os direitos sociais incluem direitos humanos, padrões de trabalho na própria empresa, como na sua cadeia de fornecimento, qualquer exposição ao trabalho infantil ilegal e mais problemas de rotina, como a adesão à saúde e segurança no local de trabalho. A pontuação social também aumenta, dependendo de como a empresa gerencia as suas relações com as comunidades envolvidas, clientes e fornecedores.
Os gestores de investimento podem aplicar fatores sociais e sustentáveis de várias maneiras. Alguns gestores podem procurar evitar explicitamente empresas com controvérsias sociais significativas, como registros trabalhistas ruins ou casos de trabalho análogo ao escravo. Outra abordagem é concentrar-se em empresas que têm uma pontuação alta em uma variedade de fatores ESG. Uma metodologia que alguns estudos sugerem compensar para os investidores no longo prazo.
É importante a empresa manter os investidores informados sobre estes temas e da mesma forma que avaliamos um projeto de investimento com taxas de retorno esperadas, ações nas áreas ambientais e sociais devem ser medidas: Qual o objetivo do projeto? Quanto será investido e qual o retorno esperado?
Analisando o “G” no ESG
A governança corporativa é um dos fatores ESG através do qual investidores institucionais podem se envolver com as empresas e abrir um diálogo com investidas, que pode resultar em mudanças significativas.
Responsabilidade de investimento ou governança corporativa é o compromisso com as empresas para proteger e aumentar o valor dos ativos. Por meio do diálogo e do voto, os investidores se envolvem com líderes de negócios para construir um entendimento mútuo acerca dos riscos materiais que as empresas enfrentam e das expectativas da administração para mitigar esses riscos. Assim, identificar e gerenciar riscos ESG relevantes torna-se um componente importante do processo de engajamento e de estímulo ao desempenho financeiro sustentável no longo prazo.
No universo dos fundos, os produtos que enfatizam a governança geralmente se concentram em questões como gênero, raça e diversidade sexual no local de trabalho. No entanto, uma governança corporativa robusta engloba bem mais do que esses problemas. Por exemplo, algumas entidades especializadas em direitos de acionistas defendem o pagamento de estruturas de remuneração por desempenho, auditores externos e o aumento dos direitos dos acionistas minoritários.
A governança corporativa é um dos itens de maior importância na análise de uma empresa. Historicamente, empresas com governança robusta, possuem posicionamento sólido em relação aos temas ambientais e sociais. Portanto, a análise da governança de uma empresa deve verificar se a empresa realmente pratica tudo aquilo que está nos seus manuais, códigos e estatuto.
Vivemos um momento de profundas mudanças comportamentais e estamos experimentando a 4ª. Revolução industrial, onde a inteligência artificial deverá substituir milhões de postos de trabalho, ao longo dos próximos anos. As novas gerações chegam muito mais conscientes do seu papel na sociedade. Temas como a mobilidade urbana, escassez hídrica, economia de baixo carbono e inclusão social passarão a ter cada vez mais importância na nossa sociedade. E, as empresas que não estiverem atentas a estas mudanças, provavelmente não serão sustentáveis a longo prazo. É cada vez mais importante não só enfrentar esses desafios, mas reportar de forma clara e consistente o que tem sido feito para preparar a empresa para este novo cenário, para o seu crescimento e perenização.