Após entrevista, ação da Vale sobe 5%; XP recomenda compra, mas Porto Seguro alerta para impactos de Brumadinho

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As ações da Vale fecharam hoje em alta de 5,43%, negociadas a R$ 44,30, reflexo dos esclarecimentos dados pela empresa em entrevista coletiva sobre a situação de suas barragens. O Índice Bovespa fechou em alta também, de 1,86%, aos 96.168 pontos.

O foco da entrevista foi mostrar que a situação da barragem da Mina do Córrego do Feijão, em Brumadinho, nos dias que antecederam a tragédia que matou mais de 160 pessoas e deixou mais 160 desaparecidas, era estável, não havendo nenhuma medição fora do normal, negando assim notícias recentes de que a  empresa conhecia os riscos de rompimento da barragem.

Laudos apontavam riscos ou não?

Ontem, a agência de notícias Reuters afirmou que teve acesso a um relatório da própria Vale, de outubro de 2018, que mostra que a barragem que se rompeu, em Brumadinho, “tinha duas vezes mais chance de se romper do que o nível máximo tolerado pela política de segurança da empresa”. Por sua vez, a Vale alegou que não existe nenhum documento que mencione risco de colapso iminente na barragem.

Segundo a empresa, laudo elaborado por peritos da IBPTech, de São Paulo, e apresentado hoje, confirma que não houve qualquer elevação no nível de água na Barragem I, da Mina de Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG). Pelo contrário, houve uma redução gradual ao longo de 2018 e início de 2019. Em coletiva na sede da Vale, o diretor-executivo de Finanças e Relações com Investidores, Luciano Siani Pires, e o gerente-executivo de Planejamento e Desenvolvimento de Ferrosos e Carvão, Lúcio Cavalli, apresentaram os resultados do estudo e informações técnicas detalhadas do monitoramento da barragem.

Medidas de segurança

Na entrevista, a Vale confirmou que a barragem não recebia rejeitos desde 2016 e que a empresa tomou medidas para assegurar a segurança do empreendimento, como retirada da água da barragem, desvios de nascentes, automatização de 46 piezômetros, bem como a instalação de câmeras, sirenes e radares.  Acrescentou que em auditoria realizada no dia 23 de janeiro, dois dias antes do evento, foi atestada a estabilidade da barragem, que segundo a empresa certificadora estava devidamente mantida, controlada e monitorada.

Questionada se iria tomar alguma medida contra as empresas certificadoras, dado que os laudos indicavam normalidade e estabilidade da barragem, a Vale respondeu que está analisando cuidadosamente a situação e aguardando as investigações do comitê de especialistas que foi contratado para inspecionar as causas do evento, sem que haja estimativa prévia de quando o processo investigativo será concluído.

Bom para comprar

Para a XP Investimentos, a entrevista ajuda a reduzir a percepção de risco em relação aos potenciais litígios futuros da empresa. E, após a forte queda das ações da Vale, a corretora acredita que os riscos já estão mais do que refletidos no papel, que negocia a múltiplos atrativos. A XP reitera a recomendação de Compra, com um preço alvo de R$ 66 por ação. Já a corretora Coinvalores destaca que, diante desse fluxo de notícias negativas, os papéis da Vale devem continuar pressionados no curto prazo, embora, no médio e longo ainda exista interessante potencial de valorização.

Porto Seguro vê impactos maiores

Outros analistas recomendam cautela. Para Marcelo Faria, gestor de renda variável da Porto Seguro Investimentos, a situação da Vale ainda é complicada. Os fundos da Porto não tinham Vale na carteira, pois o gestor via no setor de mineração um risco ambiental bastante grande. Mas, ao mesmo tempo, entendia que existia uma governança desde a tragédia de Mariana, quando uma barragem da Samarco se rompeu, que pudesse evitar essa nova tragédia, pior em vidas humanas. “Espero que a empresa aumente os esforços para tentar trabalhar junto com as autoridades e conseguir pelo menos alterar a perspectiva de novos eventos, o mínimo que espera”, diz o gestor.

Comparação com desastre da BP no Golfo do México

Faria diz que não montou posição em Vale, mesmo depois da forte queda dos papéis. Ele comparou também o evento com o desastre ambiental da BP em 2010, quando a plataforma de petróleo DeepWater Horizon explodiu no Golfo do México, matando 11 pessoas e provocando um imenso derramamento de óleo no mar. Até 2018, a empresa havia gasto mais de US$ 64 bilhões em multas e indenizações, incluindo US$ 18,7 bilhões ao governo dos EUA. Foi a maior tragédia ambiental dos Estados Unidos. “Comparando com a BP, se pode ser da mesma dimensão, entre multas e investimentos, a soma chegou quase a US$ 65 bi e a empresa quase foi à falência”, diz Faria.

Todo o rigor da lei

Ele afirma que não há como prever se o impacto para a Vale vai ser nesse nível. “Mas vai ser tão duro quanto  a legislação permitir, tanto em multas quanto na exigência de investimentos para reparações ambientais e sociais”, alerta. E a Vale não vai estar em posição de discutir com a opinião publica, vai ter de ceder, como está fazendo hoje, pagando multas emergenciais, “e isso já mostra que ela tem limites para brigar”.

Situação de caixa confortável

Faria observa, porém, que a Vale tem uma posição de caixa bastante confortável, uma relação dívida/Ebitda (indicador de geração de caixa) abaixo de uma vez, o que é um endividamento reduzido, o que dá mais espaço de manobra para a empresa. Além disso, a produção parando em algumas minas atingidas afeta o preço do minério e anula parte da perda da Vale. Foi o que aconteceu ontem, quando as cotações do ferro subiram 8% na China. “Se a licença de exploração das minas continuar bloqueada, vai ter impacto no mercado pela falta capacidade ociosa da concorrente Rio Tinto”, explica Faria. Isso amortecerá um pouco a questão financeira da Vale.

Impacto no desempenho dos dividendos

Por ora, o gestor não acha possível fazer uma comparação direta com a BP. “O tamanho do problema em termos de balanço vai ser menor, mas do ponto de visa de investimento de médio e longo prazo, está muito cedo para investir na empresa pois ela tem de dar resposta a altura da tragédia para ver se consegue convencer que outras barragens não vão repetir os problemas novamente em 3 anos”, alerta. Mas, apesar de achar que o caso não é tão radical quanto foi para BP, vai demorar para a Vale voltar a ser atrativa. “Do ponto de vista de médio e longo prazo, e se vendia como pagadora de dividendos, mas agora, com esses problemas, que vão limitar seu crescimento e aumentar os gastos com investimentos para se adaptar a essa nova perspectiva, fica mais difícil distribuir dividendos altos”.

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