O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, disse hoje (7), durante entrevista coletiva na embaixada do Brasil nos EUA, que considera que a iniciativa do Grupo de Contato Internacional para buscar uma solução para a crise política na Venezuela não é útil.
“Achamos que isso [a iniciativa do grupo de contato] não é um ponto de partida. É uma iniciativa que, a exemplo de iniciativas no passado, por mais bem-intencionada que possa ser, terá, se prosperar, como resultado apenas retardar o fim do regime ditatorial, dar espaço de respiração para Nicolás Maduro e seu grupo e criar uma dúvida sobre a evolução do processo democrático”, disse Araújo.
Nesta quinta-feira, o Grupo Internacional de Contato realizou uma reunião em Montevidéu sobre a Venezuela e defendeu que a saída deve ser definida pelo povo venezuelano. Integrado por países das Américas e da Europa, o grupo busca um acordo para o fim do conflito venezuelano pelas vias diplomáticas.
Mais cedo, o presidente do Uruguai, Tabaré Vázquez, disse, que a Venezuela vive um dilema entre a paz e a guerra. A afirmação ocorreu durante entrevista coletiva sobre a reunião do Grupo de Contato Internacional. A reunião foi convocada pelo Uruguai, pelo México e pela União Europeia (UE).
Apoio a Guaidó
O chanceler brasileiro disse que o “caminho” para a Venezuela é o reconhecimento do autoproclamado governo provisório de Juan Guaidó como legítimo, inclusive para buscar uma saída para Nicolás Maduro que, disse o chanceler, “não é mais uma parte legítima em nenhum diálogo”. “A iniciativa de Montevidéu parte das premissas erradas e não trará os resultados que todos esperamos, que é a volta da democracia na Venezuela. Apenas serviria para retardar esse processo, portanto não consideramos que seja uma iniciativa válida”, disse.
Na coletiva, o chanceler voltou a afirmar que o Brasil não apoia uma saída militar para a questão venezuelana e que acredita que a transição deve ser conduzida pelo poder local por meios políticos e diplomáticos. O ministro disse ainda lamentar o bloqueio da ajuda humanitária à Venezuela, enviada pelos Estados Unidos, que se encontra parada na Colômbia.
“Lamentável que tenha tido esse bloqueio do acesso da ajuda humanitária, só temos a esperar que isso seja revertido pelas próprias forças venezuelanas que, de alguma maneira, tomaram essa atitude completamente desumana. [Esperamos] que seja facilitado e facultado o acesso ao povo venezuelano àquilo que ele tanto precisa”, disse.
Representantes de Maduro
Questionado se receberia representantes do governo de Maduro, Araújo disse que o governo brasileiro considera atualmente como seu canal oficial de comunicação com o país a embaixadora venezuelana designada para o Brasil por Guaidó, María Teresa Belandria.
“Nosso diálogo é com ela, com representantes de Maduro não temos nada a acordar. A visão oficial desse regime já sabemos que é uma coleção de mentiras, que sabemos que não tem utilidade nenhuma”, disse.
Viagem aos EUA
Araújo disse que o presidente Jair Bolsonaro deve viajar aos EUA na segunda quinzena de março. De acordo com o ministro, a tônica da viagem vai ser mostrar o “novo patamar” da relação entre os dois países. O chanceler disse que a ideia é apresentar resultados específicos nas áreas econômicas, de segurança e de defesa.
“Está ficando claro que o Brasil precisa dar um salto qualitativo na relação com os Estados Unidos e trabalhar rumo a uma interconexão maior das duas economias; algo que vá além do acesso ao mercado para produtos x, y, z,… algo que realmente tenha uma visão estratégica de interconexão e um símbolo é a recente fusão da Embraer com a Boeing”, disse.
A agenda de Bolsonaro deve reunir temas econômicos e comerciais, segundo o chanceler. Araújo quer também que parlamentares norte-americanos visitem o Brasil para conhecer a realidade nacional e discutir temas de interesse mútuo.
O ministro disse que o Brasil tem interesse comum com os EUA na área de defesa e segurança. “Já existe toda uma interação e podemos trabalhar isso com mais ênfase e com uma visão estratégica, tanto na parte de combate ao crime organizado, como na área de capacitação militar”, disse.