O Boston Consulting Group (BCG) estima que o investimento alternativo continuará crescendo a cada ano e, até 2024, será responsável por 17% da escala global de gerenciamento de ativos e 49% da receita do setor global. O movimento está relacionado ao aumento da cautela por conta do cenário econômico mundial diante da crise de Covid-19 e consta no “Relatório Global de Gerenciamento de Ativos 2020” do BCG, que foca na proteção, adaptação e inovação que os investidores terão de conseguir para proteger o seu capital das instabilidades criadas neste ano.
A definição de investimento alternativo usada pelo BCG inclui Hedge Funds, fundos de Private Equity, imóveis, investimentos em infraestrutura, commodities e dívida privada. De acordo com o documento, o mercado mundial de gerenciamento de ativos não encolheu desde 2003, ano em que o ativo total do setor foi US$ 31 trilhões, tendo aumentado significativamente até 2019, atingindo US$ 89 trilhões, quantia que consegue ser mais expressiva do que o PIB de muitas economias emergentes.
Apesar do crescimento dos últimos anos e do desempenho acima de muitas classes de ativos, os investimentos alternativos ainda lutam pela sua posição no mercado. O grande desafio é a falta de conhecimento dos investidores pessoas físicas que acabam mirando somente em renda fixa, ações, e os mais sofisticados diversificando para commodities. Além disso, tais investimentos ficam concentrados em tesourarias de grandes bancos ou family offices, restringindo o acesso aos investidores menores.
Alguns fatores justificam a baixa procura por ativos alternativos no Brasil. A primeira é a questão cultural. Desde que o país passou a ter uma moeda estável, em 1994, o preço pago foi a convivência com elevadíssimas taxas de juros reais. De lá até hoje, em poucos momentos da história a taxa Selic ficou abaixo de dois dígitos. Assim, era muito fácil para o investidor obter rentabilidade sem esforço. Bastava colocar seus recursos na renda fixa e esperar os juros multiplicarem o valor. A realidade atual, com a meta da Selic definida pelo Bacen em 3%, muda esse quadro e impulsiona a diversificação.
Outra causa da baixa adesão dos brasileiros aos alternativos está ligada à ausência de oferta. Enquanto nos mercados internacionais existem plataformas tradicionais que permitem às pessoas físicas ingressarem facilmente neste segmento com aportes acessíveis, no Brasil este movimento é recente. Mas as novas tecnologias, encabeçadas pelas fintechs, mudam esse quadro.
Os robôs de investimentos, que contam com capacidade de processar informações numa dimensão sobre-humana, diminuíram exponencialmente os custos de transação inerentes à pesquisa, análise e avaliação de riscos e retornos de ativos raros ou pouco visíveis, como é o caso dos títulos públicos judiciais, mais conhecidos como precatórios. Estes robôs vasculham os sites dos tribunais de justiça, diários oficiais e processos judiciais que contenham precatórios, a fim de selecionar aqueles que preencham as características consideradas ótimas para aquisição.
Desta forma as fintechs estão democratizando o acesso a este tipo de investimento e conseguindo captar cotas em tempo recorde tanto para operações envolvendo precatórios propriamente ditos, como também em transações que envolvem os chamados direitos creditórios, tecnicamente considerados um estágio anterior no processo jurídico aos precatórios.
Os investimentos alternativos, como mostra o relatório do BCG, continuam sendo a classe de ativos com melhor desempenho em 2019. A principal força motriz desse crescimento é o aumento da demanda dos investidores por retornos mais expressivos. Tal movimento de caráter mundial também ganha força no Brasil. Nos últimos 12 meses, cerca de R$ 400 milhões em precatórios foram originados e investidos por pessoas físicas. Este é um indicativo que a diversificação e a busca por alternativas de alocação de recursos é um movimento que veio para ficar.