Por Lorelay Lopes*
Não é de hoje que o pedido geral é que as escolas abordem assuntos como empreendedorismo, inteligência emocional, resolução de problemas, assuntos de inovação e por aí vai. A lista é grande para atender as expectativas e individualidades. Mas tem uma disciplina até então negligenciada que vem gerando consequências graves na população adulta: a educação financeira.
O número de famílias endividadas no país alcançou o recorde histórico em abril. A Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC), realizada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), aponta que o percentual de brasileiros com dívidas chegou a 67,5% no mês, alta de 0,2 ponto percentual em relação a março de 2021 (a quinta seguida) e de 0,9 ponto percentual em relação a abril de 2020. Já os dados da Serasa Experian mostram que os inadimplentes ultrapassam os 63 milhões de brasileiros, o que significa que mais de 40% da população adulta do país não conseguiu pagar suas dívidas.
Os levantamentos refletem a falta de consciência em relação ao dinheiro e a defasagem no ensino, que não costuma ser um tema abordado de forma eficaz na educação regular ou com a família. O relatório divulgado pelo Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA) coloca o Brasil na 17ª posição, em um total de 20 países, no ranking de competências financeiras de jovens.
Diante deste cenário, a boa notícia da qual poucos têm conhecimento é que, desde dezembro de 2019, todas as escolas devem atender às novas diretrizes da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e a educação financeira aparece como uma habilidade obrigatória, ora como aula que trata 100% do assunto, ora introduzida no contexto prático em outras matérias.
Mas já vínhamos enxergando um movimento claro dos jovens na busca de conhecimento acerca de investimentos, controle de orçamento e despesas. O acesso à tecnologia e apps que facilitam e chegam a tornar essa experiência lúdica, tem atraído a atenção das novas gerações. Influenciadores digitais são referência até mesmo em plataformas como TikTok, impactando desde crianças a jovens adultos. Alguns bancos também perceberam a oportunidade e passaram a oferecer contas digitais que permitem às crianças pagar o lanche na cantina com um cartão que leva seu nome impresso e ter acesso ao app, com direito a movimentações que incluem investimentos em fundos.
A finança e o cidadão
A educação financeira está diretamente ligada à construção da cidadania. A geração X e até mesmo boa parte dos millennials se renderam ao consumismo desenfreado. Mas o que vemos, principalmente na geração Z, é um senso crítico sobre a relação com o consumo e, principalmente, às causas da sustentabilidade. Claro que estamos tratando aqui de uma bolha, mas acredite, ela vem crescendo, e com muita força. Os jovens não se orgulham mais do primeiro carro, se este for adquirido às custas de muitos juros. Fazem contas sobre o valor de juros compostos calculado no parcelamento do carro que usam ou da casa em que vivem.
Nesse contexto, o jovem redescobriu o consórcio. O queridinho do brasileiro há quase 60 anos vem conquistando cada vez mais adeptos entre as pessoas de 18 a 35 anos. O jeito simples de carimbar um boleto a ser pago mensalmente com o objetivo, seja ele um carro, um imóvel ou até mesmo a viagem ou o curso de pós-graduação sem o pagamento de juros, vem com uma roupagem moderna e simplificada. Termos como colaborativismo, sustentabilidade financeira e cooperativismo são os pilares do sistema de consórcios ao oferecer uma ferramenta de poupança e, ao mesmo tempo, uma modalidade de crédito mais justa e acessível.
Discutir aspectos ligados ao desequilíbrio financeiro, a falta de planejamento e seus efeitos nas famílias deixaram de ser tabu. Pelo contrário, temos filhos ensinando os pais a importância de destinar recursos com objetivos definidos. Pensar no futuro já é uma linha recorrente entre eles e, quanto mais cedo, melhor! Quando a iniciativa é tomada ainda jovem, as chances de ter as metas atingidas são proporcionalmente maiores. Sem um planejamento bem definido, fica difícil visualizar o progresso e os resultados de seus esforços.
*Lorelay Lopes é head de Negócios do UP Consórcios, fintech da Embracon