Por Gustavo Gusmão*
No dia 15 de novembro, o presidente dos Estados Unidos Joe Biden assinou um megaprojeto que prevê investimentos de US$ 1,2 trilhão em infraestrutura em todo o território estadunidense ao longo dos próximos anos.
Os recursos serão utilizados para a construção e recuperação de estradas, pontes, saneamento, portos, aeroportos e hidrovias. Parte do dinheiro também será aplicada na melhoria da banda larga, novas fontes de energia limpa e ferrovias.
O pacote aprovado é considerado uma das maiores vitórias do governo Biden até o momento. Não é à toa.
Além dos benefícios diretos proporcionados à população, as obras devem gerar milhões de empregos e aquecer a economia norte-americana, que, como outros países, sofre com a retração econômica mundial agravada pela pandemia de Covid-19.
Após o anúncio do pacote, cuja relevância do tema provocou um raro consenso entre democratas e republicanos no Congresso, a expectativa é que a popularidade do governo federal suba alguns degraus.
No Brasil, vivemos uma discussão e expectativas semelhantes. Nossos gargalos históricos em infraestrutura travam o nosso desenvolvimento pleno, provocam prejuízos na produção e, por consequência, na economia como um todo.
O Brasil investe menos de 2% do PIB anual em infraestrutura. Os especialistas afirmam que o ideal seria mais de 4%. Projetos importantes adormecem há décadas e não saem do papel.
Porém, há luz no fim do túnel e temos razões para sermos otimistas. Nos últimos meses, foram dados passos muito importantes no setor de infraestrutura.
Podemos citar conquistas como a aprovação do novo Marco Regulatório do Saneamento, as concessões de aeroportos e rodovias e a Medida Provisória que autoriza a exploração privada de ferrovias, que deve dar impulso a um setor essencial para o transporte no país.
São ações, projetos e programas que despertam o apetite de investidores privados, que sempre estão de olho em oportunidades de bons investimentos em todo o planeta. Cabe ao Brasil criar condições para atrair esses investidores, nacionais e internacionais.
Em cidades como São Paulo, consórcios privados já operam na construção e operação de linhas do metrô, investindo recursos e tirando do papel projetos que seriam inviáveis caso dependessem apenas do poder público.
Porém, há de ser destacado que, tradicionalmente, os Estados Unidos investem em infraestrutura, em grande medida, por meio de recursos de orçamento público.
Já a atual estratégia do governo brasileiro tem se concentrado em criar condições para alavancar investimentos preponderantemente privados para lidar com os gargalos de infraestrutura no país.
Tais esforços são necessários, mas há pouco sendo feito para planejar e melhorar a capacidade de retomar investimentos públicos em infraestrutura no Brasil.
É a combinação de investimentos públicos e privados que elevará o país a outro patamar. O recente pacote aprovado nos Estados Unidos deve servir de inspiração para o Brasil resgatar uma agenda mais efetiva de investimentos públicos em infraestrutura.
*Gustavo Gusmão, diretor-executivo da EY para o setor de Governo e Infraestrutura.