*Por Antonio Marcos Samad Júnior
Um trabalho feito por renomados professores da EESP-FGV (Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas) analisou milhões de operações financeiras feitas por day traders, comparando os resultados dos investidores pessoa jurídica com os dos investidores pessoa física, ao longo de seis anos.
A principal conclusão é de que as mesas de operações profissionais, de bancos e corretoras, nadam de braçada, enquanto só uma minoria dos investidores pessoa física consegue obter ganhos significativos. Na realidade, o levantamento feito pela instituição até assusta ao concluir que cerca de 90% dos day traders individuais só perdem dinheiro.
É preciso tomar um certo cuidado com essa leitura. Não que ela esteja errada. Mas da forma que está colocada, a impressão é de que é quase impossível viver como day trader.
Acontece que é preciso o devido preparo para ganhar dinheiro na Bolsa de Valores. E é justamente por isso que as operações feitas por pessoas jurídicas geram bons retornos. Não é a empresa propriamente dita quem opera no mercado financeiro e sim profissionais muito bem-preparados que são contratados por ela. São pessoas físicas que atuam em nome de um CNPJ.
Isso significa que o day trader individual também pode se dar bem se tiver o conhecimento necessário para isso. Infelizmente, esse não é o perfil da maioria.
Para quem não sabe 74,91% dos traders têm apenas entre um e três anos de estudo do mercado financeiro, enquanto 19% alegam ter estudado entre quatro e sete anos. E 4,30% nem ao menos se prepararam antes de iniciar seus investimentos.
O crescimento do número de traders é um fenômeno recente, o que explica o alto percentual de investidores com menor qualificação. Eles entram dispostos a se dedicar exclusivamente à Bolsa como fonte de renda, mas pecam ao estudar pouco ou mesmo na escolha do curso.
A internet oferece muitas opções, mas a maioria dos programas online não tem o grau de profundidade necessário.
E a diferença entre os poucos traders pessoas físicas que ganham bastante operando na Bolsa daqueles muitos que só perdem está basicamente no quesito educação.
Melhorando isso, possivelmente as estatísticas vão melhorar para esse grupo que tenta obter lucros no dia a dia da Bolsa. Será que valeria a pena operar no curto prazo se não houvesse chances de ganhos? Faço essa pergunta porque já foi constatado que a Bolsa não é o melhor lugar do mundo para se investir a longo prazo.
A Comdinheiro fez um levantamento comparando a rentabilidade do Ibovespa com o CDI no prazo de 10 anos. O resultado é surpreendente.
Quem, no dia 19 de abril de 2012 investiu seu dinheiro no Ibovespa e só sacou no dia 19 de abril de 2022, obteve rentabilidade de 83,74% no período. Percentual abaixo do obtido por quem investiu em algum ativo de renda fixa atrelado ao CDI, cuja rentabilidade, no mesmo período, chegou a 122,95%.
Não vale a pena passar 10 anos da vida sofrendo com os altos e baixos da Bolsa para ter retorno inferior ao CDI. Seria melhor e mais inteligente deixar na renda fixa.
Nesse caso, seria natural alguém mais leigo, ao ler estas linhas, constatar que não há razão para a Bolsa de Valores existir. Afinal, quem investe a curto prazo perde e quem investe a longo prazo ganha muito pouco. Mas também não é assim que devemos pensar. A simplificação, neste caso, é um mal que devemos evitar.
Se a Bolsa não possibilitasse lucro, não haveria milionários e grandes empresas operando nela. Mas é um lugar para gente preparada. Tanto que existem muitos day traders operando no mercado para mesas proprietárias.
Tudo bem que a mesa proprietária em si é um CNPJ, mas esses profissionais fazem seus trabalhos de forma individual. A diferença é que recebem o devido treinamento para isso. Algo que os demais, aqueles que só perdem, não tem.
Ao contrário do que parece, a Bolsa de Valores é um lugar para ganhar dinheiro diariamente. É no curtíssimo prazo que surgem as melhores oportunidades. Trata-se de um investimento estratégico em que o investidor precisa ter conhecimento e sangue frio. Não é lugar para amadores e, com certeza, não é um investimento de longo prazo devido à sua alta volatilidade.
Em um ambiente em que o valor de uma determinada ação pode subir e descer várias vezes em um dia, só ganha quem sabe interpretar a movimentação do mercado.
Sendo assim, não se assuste com a informação de que 90% dos day traders só perdem dinheiro. Não é nenhuma surpresa. A maioria absoluta dentro desse grupo não tem a qualificação necessária. Os que ganham são os que têm. Então, quem deseja ser day trader precisa investir em conhecimento. Buscar os melhores cursos e não se limitar a informações superficiais disponíveis na internet.
*Antonio Marcos Samad Júnior é CEO da Axia Investing