Por Gustavo Sung*
Nesta terça e quarta-feira (15 e 16 de junho), o mercado financeiro ficará atento à reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) e a decisão sobre a Selic, a taxa de juros básica da economia. Como descrito na última ata, a expectativa é de um novo aumento de 0,75 p.p., atingindo uma taxa de 4,25% a.a.
O cenário de alta dos juros tem por base o controle da inflação de 2021-22. Mais especificamente, ancorar as expectativas dos agentes econômicos para 2022. Os preços internacionais das commodities, o câmbio desvalorizado, a escassez de insumos na cadeia produtiva e o aumento do preço da energia – atualmente bandeira vermelha 1 – têm pressionado a inflação.
No acumulado de 12 meses, o IPCA (8,06%) já superou o teto da meta estipulado pelo governo, de 5,25%. O IGP-M – muito utilizado para reajustes de contratos de aluguéis – registra 37,04%. Os dados recentes não devem influenciar as decisões do BC – mas acreditamos que é necessário um ajuste em sua comunicação.
Nas últimas publicações, o BC tem utilizado a expressão “normalização parcial dos juros”, que basicamente é o aumento da taxa de juros com certo grau de estímulo econômico. Porém, com a melhora das perspectivas de crescimento e o mercado começando a enxergar uma inflação acima da meta em 2022, o ajuste parcial deveria ser revisto.
Ou seja, para não perder o controle sobre os preços no médio e longo prazo e nem a sua credibilidade, o Banco Central deve continuar elevando a taxa de juros com redução mais rápida dos estímulos.
Nessa perspectiva, a pergunta chave é: como o BC irá controlar a inflação sem comprometer a retomada da economia? Na reunião de agosto teremos um novo aumento de 0,5 p.p. ou 0,75 p.p? A reunião da semana vai nos dar pistas sobre o comportamento do BC para os próximos meses.
Atualmente, a Selic (3,50% a.a.) está abaixo da taxa de juros nominal neutra, aquela que equilibra a economia no longo prazo – crescimento da atividade com estabilidade de preços. No Brasil, ela é algo em torno de 6,5% (taxa de juros real neutra de 3,0% mais a meta oficial de inflação de 3,5% em 2022). A perspectiva é de uma Selic mais próxima da taxa neutra já em 2021.
Na balança de riscos, fatores positivos que podem atenuar a inflação no curto prazo são a recente valorização cambial – que diminui impacto sobre os preços das matérias-primas – e os dados acima do esperado para a atividade econômica e o fiscal, ambos reduzem o prêmio de risco sobre os ativos brasileiros.
Entretanto, o maior acionamento das termelétricas – frente à possível crise de abastecimento de energia – e a perspectiva de retomada do comércio e serviços podem pressionar a inflação no segundo semestre.
A alta dos juros deve impactar positivamente os retornos dos ativos brasileiros, incentivando a vinda de capital estrangeiro. Com a maior entrada de dólares na economia, a tendência é de valorização do câmbio e, portanto, menores os preços dos bens importados em moeda local – diminuindo a pressão sobre a inflação.
Com relação ao mercado financeiro brasileiro, acreditamos que não há ainda grandes incentivos para uma guinada à renda fixa. Se levarmos em conta a inflação, alguns investimentos estão apresentando retorno reais negativos. Nesse sentido, esse aumento dos juros tem pouco impacto sobre a bolsa brasileira.
Por outro lado, a tendência de alta tem efeitos negativos sobre a dívida pública da União, pois parte da dívida está indexada à Selic, e mudanças nos juros impactam o custo de carregamento da dívida. Dado que o país apresenta uma situação fiscal difícil, o risco pode aumentar marginalmente.
Vale ressaltar ainda que uma possível mudança na política monetária americana pode pressionar a inflação em 2022 – o que poderia acelerar o ritmo de aperto monetário.
*Gustavo Sung é economista da Suno Research.
Com informações de Tailor Made Comunicações.