Por André Luiz Sacconato
Passando ao largo das grandes turbulências gerais da economia, a política monetária, tanto no exterior quanto aqui no Brasil, dá mostras que o cenário ficará bem estável por algum tempo. Depois de certo tempo de incertezas, o Banco Central Brasileiro e, nos Estados Unidos, o Federal Reserve (Fed), anunciam que manterão a taxa de juros por algum tempo. A possibilidade de baixa de juros nos EUA ficou mais restrita com a divulgação das minutas do Fed, que reforçam a tese de manutenção da taxa por conta dos riscos inerentes à economia americana no médio prazo. Já no Brasil, a inflação mais turbulenta nos últimos meses, inclusive levando o percentual de 12 meses acima da meta, também reduziu muito a possibilidade de um afrouxamento monetário.
Com esse cenário, é bem possível que a tendência, que é de liquidez mundial, continue alta por algum tempo. Mesmo uma potencial crise ou mesmo um pouso mais tranquilo do ciclo de crescimento da economia americana, apesar do potencial de derrubar a economia mundial, apenas gerariam mais afrouxo monetário. O grande risco desse cenário é uma guerra comercial EUA-China mais aprofundada, que poderia fazer subir os preços, dado o menor acesso a bens e serviços importados entre as grandes potências. Mas esse cenário extremo ainda é menos provável e, mesmo que se concretize, levará algum tempo.
Assim, temos liquidez internacional garantida por mais algum tempo e taxas de juros mantidas mais baixas tanto no mercado internacional quanto no nacional. Essa poderia ser uma ótima notícia para a economia do País em condições normais. Mas não basta.
Hoje, se analisarmos as variáveis de confiança no Brasil, tanto do empresário quanto do consumidor, vemos que elas tiveram alta logo após a eleição e baixaram com os constantes desentendimentos entre governo e parlamento em relação à reforma da Previdência. Nesse tempo todo, as variáveis de atividade se mantiveram bem fracas. Claramente, havia ali um recado: só o destravamento do processo da reforma do sistema de aposentadorias faria com que a atividade fosse retomada.
Assim, claramente o efeito de política monetária nas expectativas está prejudicado por um entrave maior. É possível pensar, inclusive, que mais uma baixa da taxa de juros tivesse efeito limitado no produto, apenas interferindo nas expectativas e podendo, inclusive, desancorá-las. Assim, claramente, há um incentivo para manutenção de juros, pelos menos até a aprovação da reforma da Previdência. Mesmo o movimento do câmbio, com o fortalecimento da moeda americana dada a manutenção da taxa de juros americanas e o “spread” em relação a outras moedas fortes, também é um componente que dificulta a queda da Selic.
Desse modo, é possível entender por que a reforma da Previdência poderia ter um efeito imediato na atividade: destravaria expectativas. As variáveis que mostram como os consumidores e empresas veem o futuro comprovam isso. Para que as expectativas se tornem realidade, é necessária a aprovação desta. Isso garantirá a solvência fiscal do governo e o gatilho para um efeito “crowding-out” na economia (troca de gasto do governo por investimento privado). Obviamente, a reforma da Previdência não é a única necessária para o país. Mas é inexorável
André Luiz Sacconato, doutor em economia pela USP, é socio da Integrare Brasil e professor de MBA na FIA-USP. Foi coordenador de projetos e responsável por setor externo e fiscal na Tendências Consultoria, economista sênior na área de modelagem de mercados na LCA consultores e diretor de pesquisas da BRAiN- Brasil Investimentos e negócios.
E-mail: [email protected].
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