Por Bruno Takeo Komura*
A renda variável nunca esteve tão “pop”. Em 2020, a B3, a bolsa de valores brasileira, alcançou o recorde de 3 milhões de investidores e, segundo um estudo realizado pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários), 40% dessas pessoas começaram a investir no mercado de capitais nos últimos cinco anos.
Somos ainda um país de investidores jovens, inexperientes e – algumas vezes – abusados demais, que acreditam que podem enriquecer do dia para a noite a partir de técnicas e estratégias mirabolantes.
Um estudo realizado pela FGV (Fundação Getúlio Vargas) ficou famoso no mundo das finanças no ano passado por mostrar essa agressividade desmedida (e prejudicial) de muitos iludidos.
Segundo o levantamento, realizado pelos professores Fernando Chague e Bruno Giovannetti, 97% dos investidores que ingressaram na bolsa entre 2012 e 2017 pretendendo ganhos rápidos com day trade – compra e venda de ativos no mesmo dia para ganhar com a volatilidade – tiveram prejuízos e 92% não “sobreviveram” no mercado de capitais por mais de 300 pregões (ou um ano) em atividade.
Dos 3% que terminaram o ano com saldo positivo, 2,6% não ganharam mais do que R$ 300 por dia com as operações.
Números como esses fazem parecer que a bolsa de valores é um grande jogo, no qual só é possível ganhar se tiver sorte. Depois de se iludirem e falharem, muitos começarão a ter medo de aplicar em ações e derivativos, e alguns talvez desistam de investir até em títulos públicos, que têm risco quase zero.
Porém, para esses faltou entender que a culpa não foi da bolsa, dos ativos ou da má sorte, mas da falta de informação, de estudo e de “respeito” pelo mercado de capitais.
Mas, como “vencer” na bolsa? Em uma carta aos acionistas da Berkshire Hathaway em 1996, o famoso guru do mercado de capitais Warren Buffet escreveu uma frase que se tornou um mantra entre os investidores: “Se você não está disposto a ser dono de uma ação por 10 anos, nem pense em ser dono dela por 10 minutos”.
Para o megainvestidor, que ficou bilionário aplicando em renda variável – principalmente ações que pagam dividendos -, a visão deve ser sempre de longo prazo. E o pensamento não vale apenas para a renda variável. Quanto maior seu horizonte de tempo, mais rentabilidade vai obter, seja com títulos públicos, privados, ações ou derivativos.
Isso significa que devo comprar uma ação e esquecer? Não, quem quer ter bons resultados precisa se dedicar: estudando o mercado e as empresas das quais é acionista, ou nas quais avalia investir.
Toda companhia listada na bolsa de valores, obrigatoriamente, precisa publicar relatórios trimestrais de resultados. Lá você encontrará dados que mostram diversas facetas da empresa, como liquidez, endividamento, lucros, retorno sobre patrimônio líquido, entre outros, que mostram como a empresa na qual você investe está posicionada em relação ao seu setor.
Verifique também quem é o gestor, conselho, principais acionistas e executivos. A governança muitas vezes é um problema sério de algumas empresas, o que pode fazer o valor das suas ações caírem ao longo do tempo.
Por outro lado, é possível também encontrar companhias que apresentem resultados consistentes, estão bem posicionadas nos seus segmentos de atuação, trazem regularmente novas soluções para o mercado e adotam boas práticas de governança e administração. Com essas companhias, como faria Warren Buffet, vale o “buy and hold”: comprar e segurar por um bom tempo.
Porém, encontrá-las exige dedicação. Para quem está começando e está com receio de perder dinheiro na bolsa pela inexperiência, os fundos de investimento em ações (FIAs) podem ser uma alternativa interessante.
É claro que na renda variável não existe garantia de rentabilidade; mas o diferencial dos fundos é que eles são geridos por profissionais experientes no mercado financeiro. Eles que escolhem quais papéis farão parte do portfólio do fundo e acompanham as empresas para decidir quando o melhor caminho é se desfazer do ativo em nome de oportunidades melhores.
Seja sozinho ou por meio de fundos, investir na bolsa sempre trará ótimas oportunidades para diversificar a sua carteira de investimentos. Não tenha medo da renda variável, mas respeite o mercado. Seu bolso vai agradecer!
*Bruno Takeo Komura é analista de renda variável da gestora de recursos Ouro Preto Investimentos.