Por Umberto Tedeschi
Depois da decepção do final de 2021, quando o Banco Inter (BIDI11) desistiu da reorganização societária que o levaria a sair da B3 (B3SA3) e ser listada na Nasdaq, em 15 de abril uma nova esperança surgiu no horizonte: a instituição retomou o processo de migração da base acionária para os Estados Unidos, ficando por aqui somente os negócios de certificados de depósito de valores mobiliários (BDRs).
A resposta do mercado não poderia ter sido melhor. As ações tiveram uma valorização de 4,72% no dia 18 de abril, a maior alta do dia na B3. O motivo? O novo formato de reorganização societária.
Antes, cada unit teve o valor de R$ 45,84, sendo separados R$ 2 bilhões para recompra. O preço atrativo gerou correria dos investidores querendo o resgate, superando o teto do gasto e cancelando a operação, afetando a imagem da instituição no mercado.
Já o método adotado em 2022 foi outro: R$ 19,35 por unit e R$ 1,13 bilhão para a operação de recompra. Na prática, o novo formato é promissor e pode trazer um melhor entendimento do valuation e injeção de capital conservando uma mesma disposição de comando.
O tombo do Inter no ano passado traz a reflexão do cuidado na realização de uma reorganização societária. E se esse 'imprevisto' aconteceu com um banco de grande porte, é a prova de que toda e qualquer tipo de organização está suscetível a ter surpresas no meio do caminho.
A questão é fazer o máximo para evitá-las.
São poucas reorganizações societárias que são totalmente bem-sucedidas. Na verdade, as reorganizações societárias são uma ótima maneira de gerar valor: dois terços delas proporcionam pelo menos alguma melhoria de desempenho da companhia.
Existem muitas causas de medo, paranóia, incerteza e distração que aparentemente acompanham qualquer reorganização societária. Na minha experiência, porém, um dos maiores e mais fundamentais erros que as empresas cometem é não envolverem as pessoas, ou pelo menos esquecer delas no início do processo.
Não digo que esse foi o deslize cometido pelo Banco Inter, mas todos precisam ser informados e ouvidos: colaboradores, acionistas, conselho administrativo, órgãos reguladores, clientes, fornecedores e até sindicatos. Ao deixar os interessados na mesma página, as fofocas e rumores são evitados, trazendo clareza até para o mercado e a mídia.
Considere também outros pontos importantes:
1- Começar com a estratégia de negócios: O primeiro componente da estratégia de reorganização da empresa é descobrir por que é preciso se reorganizar. Sem entender o rumo e objetivos pretendidos ou definir o problema que a empresa espera resolver, não há nada para orientar o processo de reorganização e não há como medir o seu sucesso.
2- Identificar pontos fortes e fracos na estrutura organizacional atual: Com a estratégia em mente, é preciso considerar onde a estrutura organizacional atual falha em atingir as metas da empresa e onde ela funciona.
3- Considerar as opções e criar uma nova estrutura: Depois de determinar o problema com a estrutura organizacional atual da empresa e considerar todas as funções de trabalho existentes, é hora de criar um novo modelo de organização.
4- Iniciar a reestruturação da empresa e ajustar conforme necessário: Finalmente chegou o momento de executar a reestruturação societária. Lembre-se de que a mudança pode ser difícil. Pense em sua estratégia de negócios e faça ajustes se a nova estrutura organizacional ainda não atender aos seus objetivos finais.
Esses são apenas conselhos iniciais. Uma reorganização societária leva em conta muitos fatores e pode ser difícil seguir sem ajuda especializada. Uma consultoria pode ajudar a prever surpresas de desenvolver planos de contingência caso elas aconteçam.
Não vale a pena ser o assunto do dia por algo que com certeza poderia ser evitado!
*Umberto Tedeschi, CEO da Abile Consulting Group, embaixador da Leader X e chairman of the board da Agência Brasileira de Inovação e Desenvolvimento Sustentável (Abids).