Por Tomás Leme*
Há apenas alguns anos, a faixa etária mais predominante no universo financeiro estava acima de 60 anos e representava 56% do total de investidores, de acordo com dados da B3. Mas, recentemente essa situação mudou drasticamente, colocando o público jovem, que em 2013 não chegava nem a 20%, em primeiro lugar. Em fevereiro, o número de pessoas com idades entre 26 e 35 anos se tornou maioria, representando 32,8% do total de CPFs cadastrados na Bolsa. E existe um público ainda mais novo, que tem entre 19 e 24 anos que representa 10% dos investidores.
Muitos foram os motivos que levaram essa mudança de cenário, com destaque para a recente democratização dos conhecimentos relacionados ao mercado econômico. Seja por meio de cursos desenvolvidos por instituições de ensino, vídeos de youtubers voltados aos cuidados com as finanças ou influenciadores digitais que utilizaram suas diversas plataformas de atuação, principalmente o Instagram para chamar atenção para o assunto, o fato é que os jovens começaram a se interessar e iniciar seus estudos na área.
Mas, ao contrário do que muita gente imagina, apesar de serem mais novos e iniciantes, esse público chegou com uma maturidade e cautela diferenciada com a consciência de que só conseguiriam ter sucesso de forma sustentável caso se preparassem e se dedicassem muito para entender todos os elementos que envolvem e influenciam o setor de capital e suas operações.
A tecnologia também agiu como uma grande aliada dessa faixa etária, já que permite que as transações sejam feitas de qualquer lugar, bastando um dispositivo com acesso à internet e uma boa conexão.
E esse público em específico, por já estar inserido na era digital há muitos anos, é mais exigente quando se trata de novas inovações, demandando serviços mais práticos e inovadores, incentivando a transformação do sistema financeiro. Uma pesquisa realizada pela Deloitte com a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) mostra que entre 2018 e 2019 as instituições financeiras foram a parcela do setor privado que mais investiu em inovação, com o valor chegando a R$ 8,6 bilhões, sendo responsável por 14% dos gastos com tecnologia no país.
Outro acontecimento que teve grande peso na migração dos perfis cada vez mais jovens para o mundo dos investimentos foi a pandemia de covid-19, que impactou de forma severa a economia, fazendo com que vários cidadãos fossem desligados de seus empregos e precisassem recorrer a fontes alternativas para garantir alguma renda. E, ao se depararem com um cenário econômico conturbado e sem perspectivas de melhora a curto prazo e com taxas de juros mais baixas, decidiram se aventurar pelo mercado de compra e venda de ativos.
Apesar de ser um movimento relativamente recente, o rejuvenescimento dos investidores não parece algo momentâneo. Esse novo público que está de olho no segmento financeiro e na sua grande capacidade de retorno e que está tendo sucesso nas suas apostas, também contribui para acelerar a digitalização das soluções financeiras. E, ao passo que a economia estiver reestabelecida e os sistemas forem ficando cada vez mais dinâmicos, ainda mais pessoas serão atraídas para esse universo.
*Tomás Leme é diretor comercial da Pandhora Investimentos, gestora de fundos de investimentos quantitativos