Por Robson Almeida*
Há apenas alguns anos, qualquer tipo de movimentação financeira exigia a presença física dos clientes. Com a internet e o avanço da tecnologia, o internet banking e, mais tarde, o mobile banking revolucionaram o segmento possibilitando que qualquer pessoa realizasse transações em poucos cliques. Hoje, na era da conexão infinita e em meio à transformação digital, os serviços financeiros passam novamente por uma profunda mudança impulsionada, principalmente, pelo Open Banking.
O termo, que ficou famoso no Brasil no ano passado quando o Banco Central divulgou as principais diretrizes que iam orientar a regulamentação do Open Banking no país, já é velho conhecido em outras regiões. Suécia, Reino Unido, Holanda, Estados Unidos e Singapura, por exemplo, são considerados pioneiros no desenvolvimento de tecnologias para o Open Banking.
Apesar da movimentação tardia, a implantação do sistema está acelerada por aqui. Em novembro, o BC iniciou uma consulta pública sobre o tema, concluída em janeiro. Pouco antes, entre maio e setembro, a instituição também realizou a Prova de Conceito (do inglês Proof of Concept) sobre o Open Banking, da qual participaram diversas empresas do setor financeiro, como os Bancos Original e Pan, e as fintechs Geru e Guiabolso.
Hoje, quase 85% do mercado de crédito se concentra em cinco bancos. O Open Banking tem potencial para modificar esse cenário, permitindo a entrada de fintechs e novos parceiros de negócios, alterando a forma como cada pessoa se relaciona com o sistema financeiro e mudando a comunicação entre as instituições. Os benefícios dessas alterações no modelo vigente são indiscutíveis, já que, a partir dos dados compartilhados, será possível oferecer uma experiência mais aprimorada para os clientes, desenvolver e disponibilizar novos produtos e serviços, e trazer novos fluxos de receita. A troca de dados irá abrir um infinito leque de possibilidades para o mercado.
O Open Banking tem como base a Lei Geral de Proteção de Dados, que dá poder de detenção das informações ao próprio cidadão. Ou seja, o correntista ou cliente poderá escolher como e para quem gostaria de expor as suas informações. O grande desafio para aplicação do sistema, que deve entrar em operação no segundo semestre, é justamente a proteção nessa troca. Os bancos já utilizam tecnologias para evitar fraudes e roubos dessas informações, mas as instituições esperam que o BC possa implementar em suas diretrizes medidas protetivas para que, em caso de vazamento, os serviços financeiros não sejam responsabilizados.
Nesse sentido, é fundamental definir quais serão as APIs (interfaces) utilizadas para compartilhamento dos dados e outros produtos complementares para proporcionar agilidade e segurança no acesso. Durante a Prova de Conceito, destacou-se o uso de containers como infraestrutura para ter agilidade e estaticidade dos acessos e o modelo de autorização utilizado foi o OAuth2, também padrão da indústria, que mostrou-se seguro e bem documentado, suportando plataformas web e mobile.
A maioria dessas soluções funciona no padrão aberto, conhecido como open source. São tecnologias que ajudam a fomentar a capacidade de inovação, reduzir custos de computação, armazenamento e transmissão de informações. Com o uso da tecnologia aberta, incluindo os APIs, containers e cloud híbrida, as instituições financeiras podem reduzir a fase de desenvolvimento de aplicações para horas, padronizar as plataformas próprias, economizar recursos e fazer os negócios crescerem. Por conta disso, as ferramentas de código aberto já são bastante conhecidas pelos serviços financeiros e utilizadas pelas principais empresas do setor para garantir a inovação tecnológica, segurança e a eficácia das mais variadas transações há anos.
No caso específico do Open Banking, as companhias de tecnologia que trabalham com código aberto se uniram com empresas do setor financeiro para oferecer um amplo catálogo de APIs pré-empacotadas e tecnologias projetadas para ambientes altamente regulados e de missão crítica dos bancos. O chamado Open Bank Project, que reúne gigantes dos dois segmentos como Santander, BNP Paribas, Red Hat e Tesobe, pode se conectar e orquestrar sistemas bancários distintos e fornecer interoperabilidade entre várias fontes de dados.
Além da base open para gerenciamento das APIs e adoção de containers como infraestrutura, uma implantação bem-sucedida do Open Banking requer a quebra de paradigmas e um importante processo de integração, como o Agile Integration, recomendado pelo Gartner. O sistema incorpora frameworks de integração distribuída e computação em nuvem, usados em conjunto com metodologias de desenvolvimento ágil e práticas DevOps.
Os serviços bancários nunca serão verdadeiramente abertos sem a adoção de tecnologias open source. Fintechs e empresas que nasceram mais recentemente já estão acostumadas às novas tecnologias, mas, para que os bancos tradicionais possam se beneficiar do Open Banking em sua totalidade, não basta apenas mover suas soluções e serviços atuais para o digital. As instituições precisam repensar todo o modelo de negócio e de forma rápida!
Quem não entrar no Open Banking agora terá muita dificuldade para acompanhar esse novo mercado. Por se tratar de um modelo de negócio que depende de inovação e colaboração, transformar tecnologias, processos e culturas é um aspecto essencial do Open Banking.
*Robson Almeida, Account Manager for Financial Services Industry na Red Hat