*Por Márcio Coimbra
Eleito no embalo de um discurso liberal, liderado por Paulo Guedes, Bolsonaro aos poucos vai mostrando sua verdadeira face no mundo da economia. O discurso real do Presidente não rima com as teses de Guedes e mostram um retorno aos seus tempos de parlamento, quando atacava privatizações e defendia um modelo de governo forte e interventor. Bolsonaro mostra-se cada vez um produto do falido modelo militar que arrasou a economia brasileira.
A intervenção na Petrobrás foi apenas mais um episódio, mas que desta vez deixou clara as raízes militares do capitão. Seduzido pelo populismo econômico, encontrou nos instrumentos poderosos da presidência um atalho para popularidade fácil por meio do gasto público. Este perigoso caminho já foi trilhado por inúmeros mandatários e sempre leva a um mesmo resultado: um voo de galinha na economia e distribuição de renda ao custo de aumento da inflação e criação de déficits fiscais.
Acreditávamos que o Brasil podia ter aprendido com erros dos governos militares e posteriormente com recessão econômica vivida pelo país nos anos Dilma. Como sabemos, contudo, nosso país sempre pode surpreender e parece estar embarcando novamente em uma aventura que não deixará saudades e acabará por destruir aqueles ganhos políticos e econômicos duramente construídos por décadas.
Diante de um governo militarizado, onde valem mais as estrelas no ombro do que a capacidade de gestão, Bolsonaro fez a opção esperada. Os militares brasileiros jamais abraçaram o liberalismo econômico e certamente são muito céticos diante da agenda de Guedes. Defensores de um estado grande e atuante, estão em sintonia com o capitão que ocupa a cadeira presidencial.
A conta não fecha, como é comum nestes casos, mas os ganhos políticos empurram os custos da aventura para as gerações seguintes. O populismo econômico, portanto, serve para aqueles que estão no poder e não irão conviver com seus desdobramentos em momentos futuros, uma vez que seguem blindados pelos mecanismos de proteção do Estado. Populistas governam olhando para a próxima eleição, jamais para a próxima geração. Uma manobra que mais de uma vez já ceifou o futuro do Brasil.
A pandemia foi a justificativa para esta guinada nas contas públicas. Sem planejamento ou ações efetivas que protegessem o emprego e a sobrevivência empresarial do abalo econômico, o país se tornou refém de meras medidas assistencialistas que se resumem na transferência de renda pura e simples. Uma medida paliativa, de alto custo e que deixa de criar instrumentos para recuperação econômica da população.
Se de um lado Bolsonaro opta pela tática do confronto, de outro começa a trilhar com maior convicção o populismo econômico. O resultado é perigoso. Estamos vendo a perda de credibilidade do país no exterior, queda nas bolsas e alta no dólar. O mundo enxerga que, de forma cíclica, adentramos pelo populismo, seja pela direita ou pela esquerda. Um erro, que se não for corrigido, colocará nossa credibilidade em xeque por décadas, perdendo mais uma geração para nossos próprios erros.
*Márcio Coimbra é coordenador da pós-graduação em Relações Institucionais e Governamentais da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília, Cientista Político, mestre em Ação Política pela Universidad Rey Juan Carlos (2007). Ex-Diretor da Apex-Brasil. Diretor-Executivo do Interlegis no Senado Federal