Por Bruno Takeo Komura*
Está se tornando frequente no mercado financeiro a recomendação de que todo mundo deve investir no exterior. Ter ações de grandes empresas, como a Apple e a Disney, a princípio, pode soar interessante.
Ter recursos em dólar, que se valorizou em relação ao real nos últimos anos, mais ainda. Mas quais são as reais vantagens (e desvantagens) para os investidores de varejo em dolarizar uma parcela da sua carteira de investimentos?
Apesar da empolgação e do mercado externo ainda estar aquecido, não espere um rendimento de outro planeta vindo de ativos no exterior.
O real parece estar se recuperando consistentemente em relação ao dólar e, com a vacinação contra a Covid-19 avançando e a Selic em trajetória de alta, existe uma tendência de maior atração de recursos estrangeiros pelo Brasil.
Então investir no exterior não vale a pena? Sim, é uma opção que deve ser levada em conta, mas principalmente como ferramenta de diversificação e proteção à carteira.
O princípio da diversificação é um dos principais pilares das melhores estratégias de investimento.
Contar com títulos, ações, cotas em fundos e tantas outras opções oferecidas pelo mercado de capitais ajuda a conseguir uma boa rentabilidade média, com risco pulverizado. E é nesse sentido que investimentos em ativos do exterior podem ser uma boa ideia. Porém, não necessariamente “no exterior”, como explico a seguir.
Um levantamento realizado pela B3 (B3SA3), a nossa bolsa de valores, no final de 2020, mostrou que 44% dos investidores têm até R$ 10 mil aplicados, e que apenas 10% têm mais de R$ 1 milhão em investimentos. O que isso significa?
No geral, temos mais opções de investimentos disponíveis no mercado que dinheiro para investir e pagar taxas.
Nesse sentido, investir no exterior pode não ser a melhor ideia para quem não tem um grande patrimônio, pois os custos de aplicar diretamente em ativos do exterior pode não compensar para os investidores de varejo, como são classificadas as pessoas com até R$ 1 milhão em aplicações financeiras.
O que poucos sabem é que é possível investir em ativos do exterior sem tirar seus recursos do Brasil. Algumas corretoras daqui disponibilizam, por exemplo, os BDRs – Brazilian Depositary Receipts -, certificados que têm a sua rentabilidade atrelada a ações de empresas do exterior.
É como se você comprasse, indiretamente, uma ação da Disney: a valorização seguirá a dos papéis da empresa, mas todo o processo de compra e liquidação é feito em reais. E uma vez que os BDRs são títulos emitidos no mercado brasileiro, o processo também é mais simples na hora de declarar o imposto de renda.
Outra forma interessante de investir no exterior é por meio de fundos de investimento que adquirem títulos, ações e até cotas de outros fundos em outros países, mas têm sua gestão e administração realizadas por instituições brasileiras.
Além das mesmas vantagens que os BDRs, os fundos ainda trazem outra facilidade para o investidor: gestão profissional. Para os investidores médios, nem sempre é fácil saber quando comprar ou vender a ação de uma empresa brasileira.
E isso fica ainda mais difícil quando se trata de uma que está no exterior. O câmbio flutua muito e, se é difícil acompanhar o noticiário econômico local para analisar quais são as melhores oportunidades, imagine ter que ficar ligado no dia a dia de outro país.
Além de diversificar a carteira, ativos como esses também podem ser ferramentas de proteção ao patrimônio contra “inimigos” internos dos investimentos, como a inflação, subida dos juros e instabilidades na economia ou no cenário político. Mas não oferecerão muitas vantagens além dessas.
Então, se você não tem muito capital para investir, sua carteira pode continuar falando principalmente português, mas adicionar pequeno sotaque americano, alemão ou chinês também não fará mal nenhum.
*Bruno Takeo Komura, analista de renda variável da Ouro Preto Investimentos.