Donald Trump recentemente reviveu seu antigo lema econômico, prometendo tarifas pesadas para as empresas que não produzirem dentro dos Estados Unidos.
Em uma intervenção pública, o ex-presidente reiterou que produtores estrangeiros enfrentarão tarifas se não estabelecerem fábricas nos EUA.
Um ataque direto à União Europeia e às políticas do Green Deal, que ele chamou de “fraude“. Mas qual será o impacto dessa ameaça nos mercados globais?
Minha intenção aqui é exaltar algumas das potenciais consequências e o que esperar da dinâmica dos ativos financeiros.
O contexto da ameaça de Trump
A ameaça de Trump de impor tarifas significativas sobre empresas estrangeiras não é novidade.
Durante seu mandato, o ex-presidente iniciou uma série de guerras comerciais, especialmente contra a China, ameaçando tarifas sobre produtos importados para estimular a produção interna e reduzir o déficit comercial.
Agora, Trump retoma essa abordagem, focando dessa vez na União Europeia e atacando políticas ambientais e o Green Deal, uma causa que ele classificou durante muito tempo como uma “fraude” e prejudicial às empresas americanas.
Sua proposta de cortar os impostos para 15% para empresas que investirem nos EUA, combinada com a ameaça de tarifas sobre produtos importados, pode fortalecer sua base eleitoral, mas tem o potencial de gerar tensões entre as maiores economias globais.
Impacto nos mercados financeiros
O anúncio de Trump já gerou reações nos mercados financeiros. Embora o risco de uma guerra comercial global possa parecer reduzido em comparação com os picos de 2018-2019, a ameaça de novas tarifas tem o potencial de criar turbulência.
Aqui vão os setores principais para ficar no foco:
- Setores de exportação e importação: Empresas que dependem fortemente de importações/exportações podem ser as mais vulneráveis a essas ameaças. Produtores europeus e asiáticos que exportam para os EUA podem enfrentar margens de lucro reduzidas caso sejam atingidos por novas tarifas.
- Os setores automotivo, tecnológico e eletrônico podem ver uma contração na demanda por parte dos consumidores americanos, que podem ter que pagar preços mais altos por produtos importados. Empresas automotivas alemãs, japonesas e chinesas podem ser particularmente afetadas, pois representam uma das principais fontes de importação para os EUA.
- Moedas: Uma reação imediata a esses desenvolvimentos pode ser refletida nos mercados de moedas. O índice DXY pode se fortalecer, uma vez que as políticas protecionistas geralmente são vistas como um incentivo para a produção interna, tornando os investimentos nos EUA mais atraentes. No entanto, uma possível escalada na guerra comercial pode levar a maior volatilidade e enfraquecer o sentimento em relação às moedas emergentes, que são mais vulneráveis às medidas protecionistas dos EUA.
Empresas e setores sensíveis às ameaças de tarifas
Dando nome aos bois e seus respectivos setores:
Setor tecnológico: Empresas de tecnologia com forte presença na Ásia, como Apple, Samsung e Huawei, podem enfrentar pressão sobre suas margens de lucro caso tenham que arcar com tarifas sobre suas exportações para os EUA.
As políticas de Trump podem pressionar as empresas a reconsiderar suas cadeias de suprimento globais e a estabelecer produção local nos EUA para evitar tarifas adicionais.
Setor automotivo: Outro setor altamente vulnerável a tarifas é o automotivo.
Fabricantes de carros estrangeiros podem se ver obrigados a pagar tarifas sobre veículos importados, reduzindo a competitividade de seus produtos em relação aos fabricantes americanos como Ford e General Motors.
Esse cenário pode fazer com que investidores reavaliem suas posições em ações automotivas e negociem com base na expectativa de queda na demanda.
Setor energético e Green Deal: A forte crítica de Trump ao Green Deal europeu pode fortalecer a posição das empresas energéticas americanas, especialmente aquelas que atuam no setor de gás natural e petróleo.
Os EUA podem relaxar ainda mais as regulamentações ambientais para estimular a produção interna, beneficiando as empresas energéticas americanas em relação às europeias.
No entanto, uma ameaça de tarifas sobre tecnologias verdes importadas pode dificultar investimentos em inovação em energias renováveis. Alguns nomes como Chevron, Exxon Mobil contra BP PLC, por exemplo.
Reações políticas e geopolíticas
Mas nem tudo são rosas, uma resposta provável a essa ameaça de tarifas pode ser uma retaliação imediata pela União Europeia e outras nações.
As contramedidas podem incluir a imposição de tarifas recíprocas sobre produtos americanos, como ocorreu durante o mandato de Trump.
A escalada dessas medidas pode gerar um novo ciclo de protecionismo, amplificando a incerteza econômica global.
A União Europeia, em particular, pode adotar políticas voltadas para reduzir sua dependência dos EUA, fortalecendo alianças comerciais com a Ásia e outras economias emergentes, o que pode ter um impacto significativo no comércio internacional e nas valorizações das moedas.
Implicações para os investidores: estratégias e riscos
Aqui é muito mais uma opinião relacionada a minha experiência e leitura do mercado, inclusive já sigo alguns desses pontos como posicionamento defensivo e hedge em moedas.
Todavia não vou “dar nome aos bois”, mas a dica que fica é: procure estar dolarizado.
- Hedge de moedas: Investidores podem optar por proteger suas posições nos mercados de moedas usando instrumentos como futuros de forex ou opções de moedas para mitigar o risco de flutuações inesperadas no dólar.
- Setores defensivos: Investir em setores mais defensivos, como bens de consumo e utilities, que tendem a ser menos sensíveis aos desenvolvimentos geopolíticos, pode ser uma estratégia mais segura em tempos de incerteza.
- Ações com baixa correlação: Buscar ativos alternativos ou investir em ações de baixa correlação (como ações de pequenas empresas ou mercados emergentes) pode ser uma estratégia interessante para diversificar e reduzir o risco durante períodos de volatilidade.
A conclusão é a mesma de sempre: ninguém prevê o futuro e nem Trump sabe por certo os reflexos das suas próprias ações.
Quando estamos no mercado apostamos muito em diferentes cenários e possíveis correlações, então me sinto confiante com o cenário que tracei até a segunda página, à medida que os fatores vão mudando.
O stop é tão certo quanto o take.
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