O Brasil é ofensivo na exportação de produtos do agronegócio e defensivo na importação de outros bens, o que atrapalha acordos, avaliou o professor e pesquisador Marcos Jank, coordenador do Centro Global de Agronegócios do Insper, em palestra para membros da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil).
"Em uma mesa de negociações, a primeira coisa que os países pedem são contrapartidas, mas temos muitas restrições para entrada de produtos. Acho que isso é um problema que a gente precisa resolver. O Brasil deveria importar mais bens de capital, tecnologia e insumos, por exemplo. Poderíamos exportar mais frutas, lácteos e outros itens de valor agregado se fôssemos menos protecionistas", afirmou Jank.
Diversificação no agro
Segundo dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO, na sigla em inglês), o Brasil é o terceiro maior exportador agrícola global, alimentando mais de 1 bilhão de pessoas em 200 países – números que o colocam no topo do ranking dos mais diversificados em destino das exportações.
"Poucos países conseguem esse tipo de diversificação, os Estados Unidos são um deles. E isso ocorre mesmo com uma concentração na China. Aqui vale registrar que, nesse caso, a dependência é recíproca, os chineses também dependem do Brasil", diz o professor.
Por outro lado, na diversificação por produtos, o Brasil está entre os piores do mundo, segundo o especialista. São poucos produtos, basicamente uma dezena de commodities puxada pela soja. Jank defende a diversificação para outras cadeias produtivas, como frutas, pescados, lácteos e produtos de maior valor adicionado.
"De maneira geral, o que puxa as exportações brasileiras é o aumento dos volumes e essa demanda asiática incrível. Estamos no século da Ásia para o agronegócio, grande região destino do agro brasileiro, que é deficitária em comida", atestou.
Prospecto para o setor
O pesquisador também se mostrou otimista quanto ao futuro do agronegócio por dois fatores: a transformação logística e a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF). Ao todo, 66% do território nacional é composto por vegetação nativa, 21% por pasto e 9% por áreas de plantio. A agricultura, segundo o professor, tende a crescer utilizando as terras de criação de gado.
"Temos uma imensa reserva de pasto, a produtividade na pecuária vem crescendo, e é nesse pasto que a lavoura vai ser ampliada. Existe muito potencial para a agricultura sem desmatar a floresta, esse processo já é uma realidade. Obviamente, é preciso que os governos e a sociedade como um todo controlem a ilegalidade", alertou o pesquisador.
Quanto à logística, Jank lembra que apesar do setor de agronegócios ter migrado para a Região Centro-Oeste, a logística continuou costeira, restando ao meio do país apenas estradas de baixa qualidade. Para o professor, porém, com o surgimento de novas ferrovias, como Ferrogrão e Ferronorte, ligando o Mato Grosso e arredores aos portos e outros modais, o panorama do agro deverá mudar bastante em uma ou duas décadas.
*Com informações de MPF Comunicação