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Batata-quente entre traders faz petróleo dos EUA derreter 300%

Investing.com – Os traders do petróleo jogaram batata-quente na sessão histórica desta segunda-feira, 20 de abril de 2020. Pela primeira vez na história, o petróleo dos EUA (WTI) fechou negativo a US$ 37,63 negativos, queda de 300%, com a mínima em US$ 40,32. Não, você não leu errado, é isso mesmo que ocorreu. Esse é a cotação de fechamento do contrato futuro para maio, que expira amanhã.

O que isso significa na prática?

O preço do petróleo é resultado de milhões de contratos futuros de compra e venda da commodity na bolsa de Nova York. O preço anunciado no fechamento do mercado é do contrato futuro com data de expiração mais próxima, neste caso o de maio. Porém, desde o início da pandemia de coronavírus houve um colapso na demanda, com projeção de queda em abril por volta de 30% do consumo de petróleo de acordo com a Agência Internacional de Energia (AIE). A demanda diária de petróleo, antes da crise do coronavírus, era de 100 milhões de barris.

Ao mesmo tempo, os produtores reunidos no cartel da Opep e aliados liderados pela Rússia não renovaram um acordo de corte de produção e iniciaram uma guerra de preços, com Arábia Saudita aumentando sua produção e vendendo a preço abaixo do cotado do mercado para seus clientes na Ásia.

A perspectiva de colapso na demanda e inundação do petróleo no mercado diminuíram o espaço de armazenamento e estocagem da commodity. Com isso, nenhum player gostaria de ter um contrato futuro de maio em suas mãos, o que levou os preços ao território negativo. Na prática, quem liquidar o contrato vai ter que pagar para entregá-lo, em um mercado em que não há compradores. Por isso, os preços chegaram ao terreno negativo, pois nenhum player gostaria de liquidar o contrato e ainda perder dinheiro com ele.

O que acontece normalmente quando um contrato?

Quando um contrato futuro expira, os negociadores devem decidir se aceitam a entrega ou rolam suas posições em um contrato futuro. Normalmente, esse processo é relativamente simples, mas o declínio do contrato de maio reflete preocupações de que muita oferta possa atingir os mercados, especialmente a com produção excedente de países da Opep, como a Arábia Saudita, que decidiram aumentar a produção em março para causar um excesso de petróleo no mundo em meio à queda da demanda.

O espaço de armazenamento disponível está caindo rapidamente no centro de Cushing, Oklahoma, onde ocorre a entrega física de barris de petróleo dos EUA comprados no mercado futuro. Há quatro semanas, o hub de armazenamento estava meio cheio – agora está 69% ocupado, de acordo com dados do Departamento de Energia dos EUA.

“Está claro que Cushing vai encher e ficará cheio pelos próximos meses”, disse Andy Lipow, da Lipow Oil Associates. “Como os produtores estão atrasados ​​em seus cortes de produção, estamos vendo uma quantidade esmagadora de petróleo em busca de um lugar para percorrer o mundo”.

Os estoques de petróleo em Cushing subiram 9% na semana até 17 de abril, totalizando cerca de 61 milhões de barris, disseram analistas de mercado, citando um relatório da Genscape na segunda-feira.

Além disso, atualmente 160 milhões de barris de petróleo estão sendo armazenados em navios-tanque, informou a Reuters, uma quantidade recorde e acima dos 100 milhões de barris armazenados no mar durante a crise financeira de 2009.

Resta saber se os cortes de produção da Opep e aliados, incluindo a Rússia – no valor de 9,7 milhões de barris por dia – terão efeito a partir de maio, e o que ocorre nesta segunda-feira não aconteça novamente no mês que vem, no encerramento do contrato futuro de junho.

Contrato futuro para junho

O contrato futuro do WTI para junho, em que já estava concentrada a maior parte dos juros e volumes abertos, também fechou em queda, mas em preços que todos estão acostumados. O WTI para daqui a dois meses fechou em baixa de 16,58% a US$ 20,88. Para se ter uma ideia, o contrato para maio teve um desconto de US$ 58 dólares, também recorde histórico.

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“Para muitos investidores ou pessoas que usam esses contratos de hedge, isso é realmente uma grande dor”, disse Edward Moya, analista de mercado da OANDA em Nova York. “Não há lugar para colocar – estamos ficando sem espaço para armazenar petróleo”.

Os ETFs negociados em bolsa dos EUA também estão desempenhando um papel na queda vertiginosa de preço, disseram analistas. O US Oil Fund LP (NYSE:USO), o maior ETF de petróleo bruto, disse na quinta-feira que começaria a mover alguns de seus ativos para contratos com data posterior no início da vigência do contrato mensal.

Já o petróleo Brent, negociado em Londres e referência internacional, recuava US$ 2,26, ou 8,37%, a US$ 25,87. Por isso, a queda histórica do WTI impactou em menor grau as ações da Petrobras (SA:PETR4). As ações preferenciais operavam com queda de 2,73% a R$ 15,69 às 15h55, enquanto as ordinárias tinham baixa de 1,86% a R$ 16,50.

Os preços do petróleo Brent colapsaram em cerca de 60% desde o início do ano, enquanto o petróleo dos EUA recuou para níveis muito abaixo do ponto de equilíbrio (o chamado “break-even”) necessário a muitos produtores de “shale” (petróleo não convencional). Isso levou à interrupção de perfurações e a drásticos cortes de gastos.

*Com contribuição de Reuters