Por volta de 8:00 desta terça-feira, 27 de junho, o Banco Central (BC) divulgou a ata da última reunião do seu Comitê de Política Monetária (Copom). O colegiado reiterou a taxa básica de juros Selic em 13,75% ao ano pela sétima vez consecutiva na última quarta-feira, 21 de junho.
Corte da Selic à vista
"A avaliação predominante foi de que a continuação do processo desinflacionário em curso, com consequente impacto sobre as expectativas, pode permitir acumular a confiança necessária para iniciar um processo parcimonioso de inflexão na próxima reunião."
Os membros do Comitê foram unânimes em concordar que os passos futuros da política monetária dependerão da evolução da dinâmica inflacionária, em especial dos componentes mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica, das expectativas de inflação, em particular as de maior prazo, de suas projeções de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos.
De olho na dinâmica internacional
No documento, o grupo aponta que "o ambiente externo se mantém adverso", apesar da atenuação do estresse que envolveu bancos nos EUA e na Europa e do limitado contágio sobre as condições financeiras até o momento.
De acordo com o Copom, a situação requer monitoramento. "Nota-se, entretanto, um aperto nos mercados de crédito nos EUA com impactos ainda incertos, mas com viés negativo para o crescimento", pontuou o Comitê.
Desaceleração gradual da inflação
No âmbito doméstico, o conjunto de indicadores recentes sugere um cenário de desaceleração gradual, declarou o Copom.
"A divulgação do PIB referente ao primeiro trimestre de 2023 surpreendeu positivamente, com grande parte da contribuição de tal surpresa no desempenho da agropecuária, porém com menor dinamismo nos setores mais cíclicos da economia. O mercado de trabalho, que surpreendeu positivamente ao longo de 2022, tem apresentado certa resiliência, com aumento líquido nos postos de trabalho e relativa estabilidade na taxa de desemprego. Observou-se, entretanto, redução na taxa de participação".
A inflação ao consumidor se reduziu no período recente, com destaque para as dinâmicas em bens industriais e alimentos, destacou a ata.
Os componentes mais sensíveis ao ciclo econômico e à política monetária, que apresentam maior inércia inflacionária, apresentaram uma incipiente melhora, segundo o Copom, "mas mantêm-se acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta para a inflação".
O preço do petróleo segue aproximadamente a curva futura pelos próximos seis meses e passa a aumentar 2% ao ano posteriormente. Além disso, adota-se a hipótese de bandeira tarifária "verde" em dezembro de 2023 e de 2024.
Nesse cenário, as projeções de inflação do Copom situam-se em 5,0% para 2023 e 3,4% para 2024. As projeções para a inflação de preços administrados são de 9,0% para 2023 e 4,6% para 2024.
Taxa de juros real neutra
Em seguimento ao amplo debate e acúmulo de evidência ao longo das últimas reuniões, o Comitê optou por elevar a estimativa de taxa de juros real neutra de 4,0% a.a. para 4,5%.
Persistências de pressões inflacionárias
O colegiado avalia que a conjuntura internacional se mostra um pouco mais benigna para o processo inflacionário no Brasil, mas o baixo grau de ociosidade do mercado de trabalho em algumas economias e a inflação corrente persistentemente elevada e disseminada no setor de serviços sugerem que pressões inflacionárias devem demorar a se dissipar.
No entanto, foram elencados alguns fatores que podem reduzir as pressões inflacionárias externas.
Dentre esses:
- – em primeiro lugar, destaca-se a determinação dos bancos centrais com o controle da inflação, através da manutenção do aperto de condições financeiras por período mais prolongado. Tal determinação, ainda que com possível impacto sobre preços de ativos domésticos no curto prazo, aliada a uma desaceleração do crédito nas principais economias, contribui para um processo desinflacionário global mais crível e duradouro.
- – além disso, a dinâmica recente da taxa de câmbio e do preço das commodities internacionais, ainda que com maior volatilidade, também contribui para arrefecer as pressões internacionais.
Na avaliação do Comitê, as expectativas de inflação seguem desancoradas das metas definidas pelo Conselho Monetário Nacional, com uma pequena diminuição da desancoragem na margem.
O Comitê diz avaliar que as expectativas desancoradas elevam o custo de trazer a inflação de volta à meta.
Ressaltou-se novamente que o comportamento das expectativas trata-se de um aspecto fundamental do processo inflacionário, uma vez que serve de guia para a definição de reajustes de preços e salários presentes e futuros.
Assim, com a elevação de expectativas, há uma maior pressão para elevação de preços no período corrente e o processo inflacionário fora alimentado por essas expectativas.
Também foi ressaltado que a ancoragem de expectativas seria um elemento essencial para a estabilidade de preços.
Nesse contexto, o Comitê reforça que decisões que induzam à reancoragem das expectativas e que elevem a confiança nas metas de inflação contribuiriam para um processo desinflacionário mais célere e menos custoso, e permitem flexibilização monetária.
Permanecem desafios para o cumprimento das metas estipuladas para o resultado primário, ainda que, na discussão do Comitê, tenha se enfatizado o comprometimento e a apresentação de medidas para a consecução de tais resultados.
Arcabouço fiscal
O Copom novamente enfatizou que não há relação mecânica entre a convergência de inflação e a aprovação do arcabouço fiscal, uma vez que a trajetória de inflação segue condicional à reação das expectativas de inflação e das condições financeiras.
Riscos para o processo inflacionário
Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se:
- – (i) uma maior persistência das pressões inflacionárias globais;
- – (ii) alguma incerteza residual sobre o desenho final do arcabouço fiscal a ser aprovado pelo Congresso Nacional e, de forma mais relevante para a condução da política monetária, seus impactos sobre as expectativas para as trajetórias da dívida pública e da inflação, e sobre os ativos de risco; e
- – (iii) uma desancoragem maior, ou mais duradoura, das expectativas de inflação para prazos mais longos.
Entre os riscos de baixa, ressaltam-se:
- – (i) uma queda adicional dos preços das commodities internacionais em moeda local, ainda que parte importante desse movimento já tenha sido verificado;
- – (ii) uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada, em particular em função de condições adversas no sistema financeiro global; e
- – (iii) uma desaceleração na concessão doméstica de crédito maior do que seria compatível com o atual estágio do ciclo de política monetária.